Athos - Contra o Tempo
Athos - Contra o Tempo
Por: Eder B. Jr.
1 - Uma Nova Vida

O silêncio só era interrompido pelos breves piados dos pássaros, pelo suave movimento das folhas das árvores com o vento. Era um lugar tão tranquilo que mesmo os animais, os menores que fossem, não eram muitos, mesmo o vento, não era nem forte, nem constante.

O Sol, por conta do formato daquele planeta, em alguns momentos do dia parecia mais forte e próximo, em outros mais distante. A atmosfera, composta por uma combinação de gases incomum, filtrava a luz solar, de forma que o céu tinha um colorido muito belo, durante boa parte do dia. Naquela região, praticamente desabitada por conta da dificuldade de se chegar até ali, esse espetáculo de cores era particularmente mais bonito e também mais variado. Se alguém pudesse descrever um paraíso, aquele local poderia ser uma ótima possibilidade de descrição. Embora, o paraíso seja relativo para cada experiência de vida, depois de uma boa dose de tumulto, guerras, conflitos, luta de classes, massacres, destruição e caos, possivelmente aquela seria a melhor pedida.

Num conjunto de árvores, nem no topo delas, nem muito próxima do solo, foi construída uma casa. Muito provavelmente, a ideia da construção de uma casa na árvore nos leva a percepção de uma obra de madeira, rudimentar, que por mais tecnologia que pudesse estar envolvida, teria a aparência de um complemento da natureza. Esse pensamento faz todo sentido, principalmente quando alguém não pretende ser notado, seja por seus semelhantes, seja pelo restante da natureza. Mas aquele que criou aquela casa não se preocupava com essas questões. Havia uma certeza muito grande na paz que ele possuía e poder desenvolver pequenos luxos para si mesmo e não tê-los, parecia um pouco demais para Athos.

Na verdade, sua morada era um verdadeiro complexo. Repleto de mecanismos automatizados que criavam proteção de luz quando necessário ou que aproveitavam a iluminação quando assim ele quisesse, a casa também girava no seu eixo, deixando cômodos mais próximos ou mais distantes, conforme a sua vontade. Apesar de muitos elementos de suas outras vidas não estarem presentes nesse planeta, como transmissões via satélite, equipamentos de comunicação, de entretenimento, Athos, mesmo sendo considerado em muitas ocasiões "antiquado", fazia questão de possuir telas espalhadas pela sua casa, que eram capazes de reproduzir alguns de seus pensamentos, algumas lembranças, até as mais profundas. Essas telas também exibiam a existência de uma inteligência artificial simples, também criada e comandada pelo seu pensamento, que fazia a execução de tarefas práticas. Apesar dele não ter a necessidade da alimentação tradicional, como os detentores de primeira vida, que também habitavam aquele planeta, ainda assim, gostava de sentir o prazer dos sabores, vez por outra, mas apesar de todo seu poder, de todo tempo que tinha disponível, diante do quanto já tinha existido nesse universo, atividades como a culinária não eram suas favoritas.

Também se exercitava mesmo sem seu corpo precisar disso, sentia prazer com atividades braçais e principalmente em voar. Detentor de asas, que, para algumas comunidades em determinados planetas, lhe renderam o apelido de "anjo", sentia uma enorme alegria em movimentar seu corpo pelo ar, fazer manobras, sentir o céu. Eram momentos que ele sabia que deveria aproveitar pois seriam rapidamente interrompidos, como um curto período de férias, tão raro em sua longa existência.

O choque elétrico pode ser sentido em sua visão. Calmamente, ele suspirou, aguardou um pouco mais tomando seu chá, que acabara de ficar pronto e desviou da onda de eletricidade que em sua visão o teria atingido.

- Trovar, sei que você acredita que nunca irá me atingir, que eu posso ver sua chegada antes mesmo de você estar aqui, mas poderia ser um pouco mais cuidadoso, não é mesmo? Em todo caso, até que tomar um choque numa visão possa ser algo diferente do comum. - Athos conversava com o recém chegado como se aquela aparição explosiva fosse algo trivial e como se o fato de não ver um dos seus três únicos amigos naquele planeta, depois de tanto tempo, fosse como rever alguém que saiu de casa a poucas horas.

- Athos, parece que o momento chegou. A garota finalmente apareceu! - Trovar respondia já indo direto ao assunto.

- Sabe o que me entristece, meu amigo? Eu sabia que você ia me dizer isso, nesse exato momento, desde quando nos separamos, mas eu não conseguia enxergar onde a garota estaria, nem como será nosso encontro. O fato de eu poder ver o que vai acontecer, mas não poder ver coisas relacionadas a algumas outras pessoas em específico me deixa frustrado... - dizia Athos, aparentemente transtornado - Mas ao mesmo tempo empolgado! - Concluía, retomando seu tradicional semblante alegre em sua face.

- Podemos ir de encontro a Sussurro e Silency? - Trovar realmente era alguém que não gostava de perder tempo, nem parecia que também já carregava algumas Eras em suas costas.

- Não será o caso, Trovar. Você vai me levar até o local onde sua pista o deixou e lá nossos amigos nos encontrarão inevitavelmente. - Athos era calmo, charmoso, falava sempre como se estivesse tentando conquistar alguém, mas era seu jeito natural.

- Sei que vai parecer extremamente estúpido da minha parte perguntar, mas afinal, você já sabe que vou perguntar... - Trovar tentava formular a questão mas foi interrompido por Athos.

- Sim, Trovar, não teremos problemas para onde iremos, já sei que muitos desafetos nossos estarão lá, mas são só pessoas que nos temem, por mais poderoso que possa ser alguém por lá, ainda assim poderemos passar apenas utilizando nossa intimidação, sem demonstrar realmente quem somos.

O que também preocupava Trovar era o fato de ter que passar pelo lado oposto daquele paraíso. Ele fazia o caminho mais longo para chegar até ali, pois o mais rápido criava sérios incômodos a ele e com certeza Athos não iria pelo caminho mais longo.

- É claro que eu vou dar risada quando passarmos pelo trecho do campo magnético que faz toda a lama da floresta grudar em você e ficar explodindo na sua cara, essa é outra pergunta que você não precisará me fazer.

A calma daquele lugar fantástico estava por ficar pra trás, o único alento de Athos era que o retorno para algo parecido se fazia possível, pois ele não conseguia enxergar praticamente nada do seu caminho, senão pequenos lampejos do futuro sem sentido e desencontrados.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo