Fé, Lis!
Fé, Lis!
Por: Luna Shanti
Ela.

Roupas espalhadas.

Imagens numa TV sem som.

Um odor rançoso rouba o ar.

Luzes intrometidas invadem o ambiente pelas frestas da persiana.

No chão, garrafas vazias de whisky.

Sobre a caixa de pizza aberta, uma mosca.

Atônito, ergueu-se do sofá.

Olhou para si mesmo.

Olhou ao redor.

Calmaria após tornado.

De novo.

De novo.

E de novo.

Era sempre assim quando ela cruzava o seu caminho.

Sutil.

Dominante.

Avassaladora.

Quando de longe ele a via se aproximando, sabia que não conseguiria pará-la.

Possessiva, abraçava.

Seguia-o além das portas de seu apartamento.

Ali. 

Distante de tudo e de todos.

Ela o controlava por dias.

Às vezes semanas.

Exausto era sugado pela súcubus que drenava toda a sua energia sexual.

Rotina.

Trabalho.

Sono.

Diante dela, tudo se prostrava.

Tentava afastá-la, retomar o autocontrole.

Tentava levantar da cama, mas sedutora ela sussurrava: “Só por hoje.”

Ele era forte mas ela persuasiva.

Sem resistir, entregava a ela todo o seu tempo.

E toda a sua vida.

Às vezes parecia paixão.

Outras vezes, obsessão. 

Muitas vezes a odiava.

Outras vezes se agarrava a ela como seu último recurso.

Alguns momentos a aceitava.

Em outros tinha vontade de abraçá-la e se jogar do mais alto penhasco.

Em sua cabeça, ninguém deveria tê-la.

E ele, que a tinha, não podia mais se ver sem ela.

Não a dividiria com ninguém.

Ninguém.

Alguns momentos ele chorava, em outros gritava.

Algumas vezes quebrava tudo, em outras a envolvia com seus braços fortes e a aninhava junto ao peito.

Até que, do mesmo modo como chegava, ela partia.

E ele se sentia culpado.

Devastado.

Precisaria recomeçar tudo.

Mas ele ficava à espreita, porque ela sempre voltava.

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