Cap. 3 - A viagem inesperada.

Acabando a aula naquele fatídico dia, dentro e fora de sua casa, Álex foi um dos primeiros a sair do colégio. Nem mesmo esperou pelos irmãos como sempre o fazia. Por pouco também Cláudio não ficou para trás.

- Ei Álex! Saiu correndo hoje do colégio hein? – disse Cláudio ofegante o alcançando numa esquina um pouco à frente do colégio.

- Pois é. Hoje esse cara me tirou do sério. – disse ele falando de Jeff.

- Não liga para eles. São uns otários que se acham melhores do que todo mundo. – fizeram silêncio e voltaram a caminhar. – Ei! Fiquei sabendo que hoje tem uma balada interessante. Vamos?

- Poxa Cláudio! Sabe que não tenho dinheiro pra esse tipo de programa! Mas, uma cervejinha talvez role.

- Beleza! Já tenho os dois ingressos aqui. Quando receber você me paga!

Os dois riram da situação e continuaram a andar. Logo Cláudio foi para a sua casa e Álex foi para a sua.

Álex chegou a sua casa e sentou-se ao pequeno sofá da sala, escutando a panela de pressão da mãe ao fogo. Ficou pensando em tudo o que acontecera no colégio aquele dia. Estava concluindo os estudos e já tinha carteira de motorista, porém sem carro e com o salário de meio período que estava ganhando, jamais conseguiria comprar um carro, pois ainda ajudava nas despesas de casa.

Logo, seus irmãos chegaram do mesmo jeito de sempre. Afonso indo direto para a televisão e se jogando no sofá ao lado e suas irmãs discutindo, por serem tão diferentes uma da outra. Notando isso, sua mãe chegou e já foi ralhando com todos.

- Tira o tênis sujo do sofá Afonso! – acertou-o com o pano que levava ao ombro para enxugar as mãos. – E vocês duas! Parem já com essa discussão que todo dia é a mesma coisa! Álex! – chamou ela. – Venha à cozinha! Preciso falar com você! – gritou como se não o visse sentado ao sofá no canto.

Como se não bastasse, Afonso esperou sua mãe sair da cozinha e colocou novamente o tênis em cima do sofá e suas irmãs continuaram a discussão sem sentido de que uma era patricinha e a outra desprovida de estilo.

- O que foi mãe? O que precisa falar comigo? – disse chegando à cozinha e pegando uma fruta de dentro do pote da mesa.

- Seu pai ligou meu filho. Disse que precisa que você vá até Aplanador na casa do seu Tio. – disse de costas ainda mexendo em algumas panelas sobre o fogão.

- Como assim? Preciso trabalhar! O Senhor Costa precisa de mim! – disse meio que não gostando do que estava falando.

- Seu pai já ligou para ele. Disse que não ficou muito satisfeito com a sua falta e que irá descontar seu dia de trabalho. Seu pai disse ser muito importante e precisa que você vá!

- Mas, eu nem mesmo tenho dinheiro para a passagem! – disse Álex.

- Pois bem. – disse sua mãe se virando e enxugando a mão no pano em seu ombro e o devolvendo ao mesmo local em seguida. – Espere aqui. – disse indo ao quarto.

Álex olhou ao redor, como se estivesse com a mente em outro lugar. E realmente estava. Ainda pensava em tudo o que havia acontecido em mais um dia naquele colégio. Mastigava a fruta que havia pegado sem ao menos sentir o gosto, mas simplesmente como se fosse uma forma de se manter vivo.

- Aqui está! – disse sua mãe chegando e entregando uma quantia em dinheiro o tirando de seu “transe” temporário.

- Isso é muito! – disse já quase sem perceber.

- O ônibus sai em pouco tempo da rodoviária e não vai dar tempo para você almoçar. Precisa ir agora mesmo filho. Seu Tio está muito doente e quer conhecê-lo antes que morra!

- Então por que ele não veio aqui enquanto ainda se sentia bem? – disse ele.

- Meu filho! – disse a mãe indo em direção a ele e o abraçando. – As coisas acontecem de uma forma inesperada. – soltou-o e olhou em seus olhos com aqueles olhos grandes, calmos e claros como uma mãe olha para seu rebento. - Às vezes, - disse ela - quando ainda temos saúde e dinheiro, o orgulho não nos faz pensar claramente. E quando perdemos nossa saúde e vemos que nada temos é aí que recobramos a consciência do que deveríamos ter feito. Vá! Antes que perca o ônibus! – terminou sua mãe o soltando e em seguida o empurrando literalmente porta a fora.

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