Cap. 2 - O Colégio

No outro dia logo cedo, Sebastião, o patriarca da família, avisou ao colégio que deveria fazer uma viagem inesperada por motivos familiares para a cidade vizinha, uns cem quilômetros de distância. Todos os filhos acordaram e foram tomar café. Fernanda e Afonso brigavam todos os dias enquanto dividiam a mesa, as cadeiras, a faca, a manteiga e o pão. Sofia arrumava seus cadernos de acordo com seu horário no colégio e sempre se vestia de forma simples. Fernanda já não fazia o mesmo. Embora não possuísse muitas roupas, gostava muito de fazer seus artefatos de enfeite com miçangas e lantejoulas, o que sempre a levava a arrumar suas peças de vestuário. No fim, gostava de improvisar algo novo com suas roupas velhas. Afonso não sabia e muito menos queria saber de algo. Jamais fazia distinção entre seus amigos, e, por isso, sempre era convidado para ir brincar na casa deles, sempre com o bom e o melhor de tudo que todos os seus amigos possuíam. Era “endiabrado” e as “artes” que costumava fazer, seus amigos adoravam.

Certa ocasião, sob uma aula de educação física, disse aos seus amigos que iria acertar o professor com um chute muito forte, pois não gostava de correr em volta da quadra para somente depois poder jogar futebol, gostaria de pular a parte do aquecimento. Foi quando preparou o chute e de forma tão forte, saiu sem direção, errando o professor e acertando uma janela. Quebrou a vidraça e acertou equipamentos de informática de uma sala. Seu pai escutou o “estrondo” e foi ver o que havia acontecido. Sebastião já sabia quando chegou perto, que havia sido ele e quando a diretora perguntou do andar de cima o que havia acontecido, seus amigos falaram que estavam jogando e um dos garotos deu um chute muito forte e sem direção. Mesmo pequenos, os seus amigos o ajudavam, sempre que possível, a esconder as suas artes. A diretora ainda deu uma boa olhada em direção ao Sr. Sebastião, que retribuiu o olhar ao garoto, que sorriu e abraçou seus amigos voltando a jogar futebol sem preocupação. Na verdade, a mãe do garoto que assumiu o acidente, teve que pagar a vidraça e o monitor do computador que se espatifou ao chão. O que para esta família não foi de nenhum problema, visto a ótima situação financeira.

Todos prontos para o colégio, lá foram eles, caminhando como sempre. Por morarem nem tão perto, mas também nem tão longe, faziam caminhos diferentes. Sofia levava seu irmão, Fernanda passava na casa de amigas, mas nunca deixou suas amigas irem à sua casa. Sempre encontrava alguma desculpa esfarrapada para não as deixarem fazer isso. A vergonha que sentia em morar numa casa pequena, enquanto suas amigas moravam em praticamente palacetes, era muito grande e até mesmo desesperadora para ela. Álex também encontrava com um grande amigo seu. Cláudio era um dos alunos do colégio, o único que não tinha bolsa e conversava com ele, a ponto de ficarem muito amigos. Era de família rica também. Gostavam de aprontar e tomar alguma coisa leve nas sextas-feiras, quando Álex não estava cansado de seu trabalho depois do colégio. O que fazia dar desculpa para nunca, ou quase nunca ir para as baladas caras das quais Cláudio ia com frequência com alguns de seus amigos dele.

Assim era a vida dessa família, durante todo o período escolar já há alguns anos, quando Sebastião, o pai, aceitou este serviço.

Porém, não era mentira o que Álex dizia. Em seu colégio e mais especificamente em sua sala, havia garotos “maldosos” e por estarem numa idade “difícil”, brincavam com a situação financeira de Álex, que por várias vezes teve que se conter em não provocar uma bela briga dentro da sala de aula, e consequentemente, pudesse perder sua bolsa.

O pior dos alunos era chamado de Jeff, que estudava na sala de Cláudio e que havia sido separado de Álex por motivos “institucionais”. Nesta sala, estavam Jeff, e seu irmão Chris. Vale mencionar que Jeff era repetente, qual seu irmão o alcançou. Ainda havia na sala, duas garotas, que já estudaram com Álex. Eram Marcela e Rose. As duas eram belas garotas e poucas vezes eram vistas com garotos. Cláudio, amigo de Álex, era completamente “extasiado” por Marcela, uma garota morena de cabelos pretos e olhos azuis. Enquanto que Álex tinha sua queda por Rose, que era um pouco mais baixa que ele, cabelos “esvoaçantes” castanhos, olhos verdes, rosto bem feito com um sorriso quase divino e seu corpo, chamava atenção por onde passava.

Nos intervalos das aulas os quatro irmãos nunca se encontravam, mas cada um deles sabia exatamente onde o outro iria estar, caso acontecesse alguma coisa. O que não seria estranho de se pensar. Álex e Cláudio, sempre passavam perto de seus irmãos, como se fosse uma ronda que fazia, para ver o que seus irmãos aprontavam, embora o que mais precisasse ser vigiado era Afonso. Mas, seus próprios amiguinhos faziam isso. Muitas das vezes ele nem mesmo via a Álex enquanto estava fazendo alguma peripécia, mas seus amigos sabiam que Álex era seu irmão e faziam gestos pequenos para mostrar que estava tudo certo, tudo dentro dos conformes.

Na sala de Álex, estavam alguns dos “comparsas” de Jeff. Todos eram conhecidos pelos seus carros potentes. Cláudio e Álex eram provocados, sempre, embora Cláudio possuísse uma boa casa e seus pais detivessem uma “boa grana”, não possuía carro, o que era então um dos meios de chateação que os outros usavam para provocá-los. Jeff e seu irmão eram os donos dos carros mais potentes de todo o grupo, e se intitulavam “Ases do Asfalto”, imitando até um grupo de motoqueiros experientes e destemidos, mas, eles, eram os ases das quatro rodas. Jeff possuía um carro ao qual havia modificado seu motor o deixando mais potente, e, seu irmão Chris dirigia outro um pouco menos potente, porém também bem modificado. Havia outro garoto que nesse ano escolar estava na sala de Álex, era chamado de “Almofadinha”, pois realmente sempre foi um “Almofadinha” de carteirinha. Douglas é o seu nome.

As provocações eram altamente propícias de encontrar vazão na hora do intervalo, quando todos os garotos da turma de Jeff se encontravam.

- Ainda bem que é sexta-feira. – Disse Cláudio quando terminou a aula e já no pátio do colégio. – Vamos tomar uma hoje?

- É bem possível. Hoje já discuti com o meu pai às 4 da manhã. – disse Álex sentando-se num dos bancos do grande pátio do colégio.

- Que isso? Quatro da manha é meio cedo para começar a discutir, não acha? – disse Cláudio sentando-se ao banco e rindo ao mesmo tempo.

- Pois é. Sempre é do mesmo jeito. Percebeu que meu pai não está andando por aí hoje? – falou Álex olhando para os lados e tentando encontrar o rosto de seu velho.

- Sim, agora que você disse, vi que não está em nenhum dos seus locais de ofício. – respondeu Cláudio.

- Pois é. Um Tio dele nos acordou às 4 da manhã, dizendo que está em seu leito de morte e precisava falar com meu pai. Foi para Aplanador hoje bem cedo. – disse Álex.

- Hum... Será que vai deixar alguma coisa para sua família? Tio sempre tem grana. – disse rindo e fazendo com que um sorriso simples aparecesse ao rosto sempre taciturno de Álex.

- Bem que fosse isso Cláudio, mas temos tanta sorte que ele faliu há alguns anos, por isso está doente. Acho que foi isso que o advogado dele falou ao meu pai. – silêncio. – Talvez tenhamos que pagar algumas dívidas que sobrou. Se for advogado que ligou, não duvido nada. – disse e riu acabando com o assunto.

Neste momento, enquanto os dois riam-se como se estivessem escutado uma piada muito boa, e na verdade fora Álex que havia dito uma, as duas garotas que os rapazes gostavam, passaram e os cumprimentaram com um sorriso muito bonito aos lábios. Os dois garotos sentados retribuíram com tal sorriso gentil e acompanharam com o olhar enquanto elas entravam nas salas.

Não demora muito e os garotos sob o comando de Jeff chegam perto dos nossos dois jovens que ali estavam sentados.

- Ora, ora. Se não é a dupla inseparável, “pobre” e “muito pobre”! – disse isso e todos os que estavam com ele riram, mais ou menos uns oito garotos, entre eles seu irmão, Douglas, da sala de Álex e outros garotos de diversas salas.

- Não acredito que você continua com essa baixaria Jeff, você é muito infantil cara! – levantou-se Cláudio.

- Nem esquente Cláudio, um dia ele terá o troco, pode nem ser que virá de nós, mas ele terá o que merece. – disse Álex olhando fixamente aos olhos de Jeff. Por fim levantou-se e saiu acompanhado por Cláudio.

- Pois sim Álex, meu querido Álex! – disse Jeff com aquele sorriso de “vencedor” aos lábios. - O troco não virá realmente de você mesmo! Acho que nem dinheiro para troco você tenha! – disse isso e todos riram. - Ah, outra coisa, fiquei sabendo que tirou sua permissão para dirigir, será que algum dia iremos nos encontrar em algum racha?

- Minha vontade é grande que nos encontremos. – disse Álex virando-se e olhando para Jeff. Álex de vez em quando fazia entregas com o carro de seu chefe. E, sim, era um ótimo motorista.

- Oh! Mas, esqueci! Você não tem dinheiro para comprar um carro, não é? – mais risadas e agora todo o grupo vira as costas para a dupla e vão ainda brincando com outros alunos menores do colégio.

- Desprezível esse sujeito! – disse Cláudio nitidamente com raiva. – Só porque seu pai possui muito dinheiro, ele não pode falar assim com as pessoas!

- Preciso de um carro Cláudio, preciso muito de um carro! – Exclamava Álex com “todos os dentes” cerrados e um olhar fixo naquele ser que nem sequer merecia ver a luz do sol.

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