4 - Mesma cama

                - Pensei que estava num encontro. – Sam abriu a porta da casa usando apenas uma calça de moletom.

                - Está acompanhado? – perguntei olhando através dele.

                - Não, mas você não deveria? – insistiu.

                - Sei lá. – respondi passando por baixo do seu braço.

                - O que aconteceu? – Sam me seguiu, muito sério e preocupado – O que ele fez?

                Me joguei no sofá da sala dele e cobri o rosto com uma almofada. Muriel não tinha feito exatamente alguma coisa, mas eu tinha ficado com uma sensação muito confusa sobre aquela noite.

                - Sarah. – Sam tirou a almofada de uma vez – O que ele fez? – sua expressão estava séria, muito séria.

                - Nada. – tentei soar despreocupada – Foi um pouco estranho só.

                - Tem certeza? – ele me fez sentar no sofá e se acomodou ao meu lado – Pode me contar qualquer coisa.

                - Tenho sim. – balancei a cabeça – Primeiros encontros são estranhos, não é mesmo?

                - É, talvez. – concordou meio a contragosto – Quer falar sobre?

                - Agora não. – abracei a almofada.

                - Quer dormir aqui? – ele passou o braço pelas minhas costas.

                - Muito. – confirmei fazendo bico.

                Sam riu e concordou.

                Fomos para o quarto dele pouco depois, e descobri que nenhuma das camas tinha realmente sido feita. Tudo estava numa confusão de lençóis e cobertas.

                - Será que você pensa em arrumar de vez em quando? – comecei a esticar os lençóis da cama.

                - Claro. – disse sem nenhuma convicção se jogando no colchão do chão.

                Apagamos as luzes e nos acomodamos, cada um na sua cama, mas fitei um teto por um longo tempo relembrando do beijo com Muriel. O primeiro tinha sido perfeito, então por que ele quis ir embora logo em seguida?

                - Isso está me matando. – Sam falou, me sobressaltando – Me conta o que aconteceu vai.

                Escutei seu corpo se remexendo e logo em seguida ele deitou ao meu lado no colchão. Seu corpo estava quente, muito mais do que o meu, o que era muito confortável porque eu sempre acabava com frio demais.

                - Está bem, vai... – cedi.

                Contei cada detalhe do encontro, o lugar, a comida, nossa conversa e a forma como nosso beijo se encaixou com facilidade. Até ali Sam concordou comigo que estava tudo correndo bem.

                - Mas depois disso ele virou o rosto de uma forma estranha e quis ir embora. – sussurrei como se fosse segredo.

                - Do nada?

                - Sim.. e aí me disse um boa noite meio frio e, quando sai do carro já meio sem paciência, ele foi atras de mim e me beijou de novo.

                Sam ficou em silêncio por um bom tempo, tanto que pensei que ele tivesse caído no sono e que eu precisaria ir para o colchão no chão.

                - Será que ele tem namorada? – ele falou de repente, me causando um frio na barriga.

                - Meu Deus! – exclamei me sentando – Nossa, eu...

                - Calma. – Sam se sentou também – Eu só estava pensando em voz alta.

                - Eu devia ter perguntado? – questionei para ele.

                - Não sei, eu não costumo perguntar isso. – respondeu com sinceridade, e num tom que já me sugeria que ele estava arrependido de ter entrado nesse assunto.

                Eu não tinha cogitado por nenhum momento que Muriel pudesse estar em um relacionamento. Nossa, mas seria muita cara de pau me chamar para sair se tivesse alguém esperando por ele.

                - Vem dormir. – gentilmente Sam me fez deitar novamente – Não se preocupe com isso agora.

                Senti sua mão passando pelos meus cabelos e, automaticamente, me encaixei ao seu corpo e fui, aos poucos, relaxando até começar a cair no sono. Um sono muito suave, sem preocupações ou sonhos, até que eu abri os olhos e percebi que Sam continuava ali mesmo com a luz do sol atravessando as cortinas.

                Era a primeira vez que realmente dormíamos na mesma cama a noite toda.

                Nesse mesmo momento meu celular tocou, e Sam abriu os olhos.

                - O que... – ele me olhou e rapidamente compreendeu a situação – Desculpa! – exclamou se levantando.

                - Não, eu que... – o interrompi.

                - Imagina, é que...

                Meu celular tocou mais uma vez, interrompendo nós dois e me precipitei para pegá-lo enquanto ouvia Sam falar alguma coisa sobre ir até o banheiro.

                - Sarah?

                - Isso. – respondi enquanto procurava meus sapatos, afinal era segunda feira e eu precisava ir para o trabalho.

                - É segunda. – finalmente percebi que era minha mãe do outro lado – Imagina como me senti quando percebi que você não está em casa logo cedo. – sua voz não estava muito amigável – Você tem liberdade e realmente nós esperamos que a use com sabedoria.

                Onde, diabos, estavam meus sapatos?

                - Sei que teve um encontro ontem a noite. – o monólogo materno continuava – Sei que já é adulta, mas...

                - Mãe. – finalmente a interrompi – Eu estou na casa do Sam, apenas isso.

                - Sam? – ela abandonou o tom irritado no mesmo momento.

                - Sim, vim conversar um pouco com ele e acabei dormindo. Apenas isso. Vou para o trabalho daqui.

                - Ah, bem... se é assim. - eu podia perceber que todas as preocupações tinham sido varridas da sua mente – Tenha um bom dia, querida.

                - Você também, mãe.

                Desliguei o telefone e notei que Sam já tinha voltado, agora usando uma camiseta amassada, e me observava parado na porta do quarto.

                - Você sabe onde estão meus sapatos? – perguntei ainda vasculhando todo lugar.

                - Lá embaixo. – ele apontou a direção com o polegar.

                - É mesmo! – exclamei já seguindo sua indicação.

                - Sarah. – Sam me interrompeu, segurando meu braço gentilmente – Estamos bem?

                - Que pergunta é essa? – sorri – É claro que sim.

                Em seguida, sem deixar margem para resposta, desci quase correndo as escadas e encontrei meus sapatos jogados num canto qualquer da sala. Decididamente eu não gostava de começar a semana perdendo a hora.

                - Sarah, por que está correndo tanto? – Sam desceu as escadas lentamente.

                Olhei para ele e percebi que estava completamente sem graça. Eu não precisava sair correndo, realmente ainda tinha um bom tempo, podia comer e me arrumar com cuidado.

                - Olha, Sarah... Não precisa sair assim se for por termos dormindo na mesma cama. – ele coçou a nuca, se aproximando de mim – Não foi minha intenção, nós apenas...

                - Estávamos conversando. – completei me sentando no sofá.

                Sam sentou ao meu lado e pegou minha mão carinhosamente.

                - Sei que deve ter sido meio estranho. Principalmente por ter acabado de saber que não sou assexuado. – sorriu ironicamente.

                - Palhaço. – revirei os olhos.

                - Sério, eu jamais faria qualquer coisa. – ele apertou minha mão para enfatizar.

                - Sei disso. – confirmei balançando a cabeça – Acho que foi apenas bobagem reagir assim. – dei de ombros.

                Sam e eu tomamos café da manhã juntos, depois ele se ofereceu para me levar ao trabalho antes de ir para a faculdade, que era numa cidade vizinha. Devo confessar que estava feliz por não precisar ir andando logo cedo na segunda.

                - Te vejo depois? – ele me perguntou enquanto estacionava.

                - Acho que sim. – respondi abrindo a porta – Você vai ou eu vou?

                - Acho que eu vou. – sorriu.

                Desci do carro e entrei na loja onde trabalhava. Era um prédio chique e caro, cheio de clientes ricos e chatos, e eu estava muito feliz por apenas trabalhar no estoque e não precisar aguentar os olhares de desprezo e palavras hostis.

                - Bom dia, Luana. – cumprimentei minha chefe, que já parecia estressada.

                - Bom dia. – me respondeu com um suspiro.

                Rapidamente me dirigi para os fundos, antes que ela começasse a me contar o que já tinha tido que aguentar, o que era muito corriqueiro. Dessa vez alguma das vendedoras precisaria ser o ombro amigo para chorar.

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