Não Deu Certo.

Linda, bem sucedida, gostosa, cheia de homens em seus pés, essa é a Rihanna. Eu sou só a Margarida, que acaba de acordar e se lembra do que vai acontecer hoje.

Cubro minha cabeça com o travesseiro.

Preciso pensar em algo! –Exclamei, olhando para os lados em busca de respostas.

Olho para o abajur que fica em cima de uma pequena cômoda, ao lado de minha cama.

Tenho uma magnífica ideia. Levanto e vou até a gaveta de meu guarda roupas e pego o termômetro. Volto para minha cama, e esquento o termômetro no abajur, até ficar extremamente quente e coloco na boca. Faço a melhor cara de morta que posso.

Ouço passos e logo vejo a maçaneta de meu quarto girar.

— Você ainda não está pronta?! –Indagou, me vendo deitada, fingindo de morta.

—  E-eu a-ccho que estou.. –Faço uma pausa para uma tosse falsa– Doente…

— Aí meu Deus, me deixe ver… –Ela pega o termômetro de minha mão e em seguida arregala seus olhos– 45°?!!! Fique aqui, vou chamar seu pai para levarmos você ao hospital! 

Faço que sim com a cabeça, lentamente, para dar força ao papel de falsa doente.

Mamãe sai do quarto as pressas, aproveito para tirar o termômetro da boca e esquentá-lo mais.

Olho para a porta e vejo minha mãe, parada, de braços cruzados, apenas observando minha canalhice.

— Então era tudo mentira? –Perguntou, já sabendo a resposta.

— Claro que não! Estou realmente doente, olhe! –Forço duas tosses seguidas, tentando fazê-la acreditar em mim.

—  Larga a mão de ser fingida, Margarida. Levanta e toma um banho, o ônibus passa aqui na porta.

Rodo meus olhos, revirando-os.

— E da próxima vez que tentar me enganar, perde seus dentes.

Engûlo em seco.

Quero você pronta em 2 minutos! Pendurei seu uniforme no seu guarda roupas.

Permaneço parada.

—  A-GO-R-A, Margarida!

— Já vou, já vou!

Ela sai batendo a porta.

Eu não tenho medo de você! –Falo em um tom baixo, para que ela não escute.

              – – –

Em frente minha casa, parada, no frio. Uma saia preta, uma blusa branca, com uma gravata vermelha por cima e uma blusa fina de mangas longas que também é preta. E um short por baixo, para que as meninas não paguem bundinha.

Minha mochila preta até que é bem legal, mas meus cadernos são extremamente sem graça. Coloridos com apenas uma cor, sem nenhum desenho, nenhum detalhe.

Vejo um ônibus amarelo se aproximar. Vejo pessoas com a cabeça para fora da janela gritando. Torço para que esse ônibus não seja o meu, mas, infelizmente ele para.

Mostro o cartão que minha mãe me deu, ele passa o cartão na maquininha e me devolve.

O ônibus está repleto de pessoas, a maioria meninos.

Altos, com roupas de futebol americano e fumando. Suas conversas são cheias de gírias, parece até outro idioma.

— Mas, você viu o sininho? Só vale se viu o sininho! –Um diz para o outro, em um grupo de meninos.

Espero que eles estejam falando de uma ida para a igreja.

Noto também uma menina chorando ao fundo, ela treme como se estivesse com muito frio.

Volto meu olhar para frente e percebo um olhar sobre mim, é de uma garota. Com cabelos lisos e pele negra. Ela me olha de cima a baixo e sorri.

Dou um sorriso sem graça de volta. Será que consegui uma amiga? Seria meu sonho?

Depois de algumas voltas, o ônibus para em frente a escola. Quando estou andando para descer, sou massacrada pelos brutamontes e quase dou de cara com o chão. Quando olho novamente, minha possível amiga não está mais lá.

— Droga, minha possivelmente única amiga sumiu!

Desço do ônibus, com a mão na cabeça, um pouco zonza. 

Uma escola extremamente grande e que possui um relógio no topo. Uma grande entrada, olho para trás e vejo mais ônibus chegando.

Uma menina de cabelos pretos longos, me vê, sorri, e vem até mim. Ela possui uma mecha rosa em seu longo cabelo.

—  Você é nova? –Ela pergunta, estendendo sua mão.

Ela tem um piercing no nariz e os olhos negros.

— Sou sim. –Aperto sua mão.

— Legal, o meu nome é Hellena, mas, todos me conhecem como Helly. Tenho um canal de covers no YouTube, deve conhecer.

Penso um pouco.

— Desculpa, eu não me lembro. O meu nome é Marga.

Ela sorri.

— "Marga"? –Perguntou, apertando seus lábios e segurando o riso.

—  Margarida, mas, Marga é um apelido que meus pais me deram.

Ela olha para as amigas e ri, fico sem entender o que está acontecendo.

— Então, "Marga", poderia votar em mim para as eleições da escola? –Ela me entrega um papel, para que eu assine: "Tropa Helly".

— Claro…

Ela me entrega uma caneta e eu assino o papel, que no caso, tinha apenas 5 assinaturas.

— Obrigada, Marga!! –Ela sorri– Procure por meu canal no YouTube, você vai gostar!

Faço que sim com a cabeça e continuo andando. Será que ela percebeu que eu nunca estive em um colégio? Espero que não!

Já de primeira, noto cada tribo. Cada grupo com seu estilo. Rockeiros, funkeiros, princesas, jogadores… Qual seria o nome da tribo que aquela árvore fica? Provavelmente farei parte daquele.

Entro na escola, há uma gigantesca fileira de armários azuis, ainda não sei qual o meu, então, sigo com minha mochila.

Vejo um grupo de três meninos, onde um me parece familiar. Chego mais perto para tentar lembrar, mas não consigo, então, resolvo falar com ele.

— Oi, então, já nos vimos antes? –Pergunto.

Eles param de conversar, e ele me olha. Quando o vejo, lembro-me de onde o conheço e faço uma expressão de espanto.

—  Você! Ontem, na ladeira!! Que coincidência. –Sorrio.

Os amigos dele olham-se, confusos.

— Tive que comprar pomadas, pelo que você deixou no…

Ele percebe que seus amigos estão ouvindo tudo.

— Então, Marco, essa é uma nova namorada? –Um deles, baixo, com cabelos castanhos e algumas sardas distribuídas pelo rosto pergunta.

— Esse cara é rápido. – O outro amigo, alto, de cabelos escuros, diz, erguendo seu óculos redondo para cima.

— O quê? Calados vocês dois.

Fico observando.

O garoto, que pelo que seu amigo diz, se Chama Marco, coloca as mãos em minhas costas e me afasta de seus amigos.

—  Não pode falar disso aqui. –Ele diz, me encarando.

— E por que não?

— O que eles pensariam se descobrissem que você passou em cima de mim?

— Falando nisso, como está o seu amiguinho? –Pergunto, apontando para o seu orifício.

Ele sorri.

— Já entendi tudo.

—  Como assim?

— Você deve ser uma fã! Eu sabia. Você já estava me esperando passar ontem.

Levanto uma sobrancelha e abaixo a outra.

—  Espera aí, como é que é?

—  Se queria tanto um beijo, era só ter dito. Não precisava ficar me esperando passar.

Ele aproxima seu rosto do meu, para me beijar.

—Não! –Me afasto– O que está fazendo? Aquilo foi pura coincidência, eu nem sei quem é você!

— Você é tímida, saquei. Qual seu nome?

— Margarida, mas, me chamam de Marga. O seu é Marco, não?

Hellena aparece, pulando em seu pescoço.

—  Olha só, Bibble, já vi que conheceu a Marga.

—  Bibble? Seu nome não era Marco?

Helly dá risada.

— Bibble é só um apelido de quando ele era pequeno, fui eu que o apelidei assim. Bibble é aquele bichinho azul, super-mega-fofo de Barbie Butterfly. Ele odiava quando eu o chamava assim, não é, Bibble? –Ela aperta suas bochechas.

O silêncio entre nós três reina.

— Você já conhece os outros dois? –Ela me leva até seus amigos.

Faço que não com a cabeça.

— Meninos, essa é a Margarida, ela é nova aqui.

O de cabelos castanhos me dá um enorme sorriso e estende sua mão.

— O meu nome é Max, muito prazer, Marga.

Que belos dentes.

— O prazer é meu, Max. –Sorrio de volta.

— O poste parado é o Dantas, não fala, não dança, não faz nada, ele apenas toca bateria.

O olho, esperando um mínimo sorriso, mas, infelizmente ele nem olha para mim.

— Vamos ser ótimas amigas!! –Ela diz, sorrindo.

Por algum motivo, sua risada me parece extremamente forçada. Mas, tudo bem, eu não estou podendo escolher amizades.

— Vamos sim…

Ouvimos o sinal tocar, era hora de irmos para as salas.

— Eu preciso ir, não sei onde é a sala em que eu caí.

— Até mais, Margarida! –Ela me dá um abraço.

—  Espero que nos falemos mais, Marga! –Max me devolve outro sorriso, mostrando suas avantajadas bochechas.

Dantas não fala comigo.

— Tchau, Marco… –Digo, olhando diretamente para seus olhos.

Ele me encara, como se estivesse lendo o que estou pensando.

— Tomara que possamos nos ver mais vezes. –Ele diz sorrindo e Helly abraça sua cintura.

— Tchauzinho, miga! –Ela diz, abraçada na cintura de Marco.

Me viro para qualquer canto, tentando mostrar certeza de que sei para onde estou indo.

Logo após voltas e voltas procurando a sala da diretora, ela me diz onde devo ir, mas nota minha incompetência de não saber nem o que estou fazendo ali.

— Vou levar você até lá. –Ela diz, se levantando com dificuldade provavelmente causada pelo seu peso.

Uma senhora de cabelos presos em um coque, um óculos quadrado que possui duas pontas agudas dos lados como um designe, uma saia preta e um pano enrolado no bolso de seu sobre-tudo.

Seguindo a diretora, paramos em frente uma sala de aula, parecem que todos estão em duplas.

— Com licença, Cheila. Posso apresentar a nossa nova aluna? –A diretora pergunta.

A professora, sorri e deixa o que estava fazendo em cima da mesa.

— Pode sim.

Entramos na sala, olhando ao redor, vejo várias caixas com animais dentro. Grilos, sapos, insetos e baratas também, todos em suas caixas de vidro.

—  Alunos, essa será a nova companheira de vocês, Margarida Ramos. Espero que sejam bons amigos.

Tento dar o meu sorriso mais simpático, mas, acho que é notável que estou morta de vergonha.

— Margarida, pode se sentar junto a Glenda. –Ela aponta para uma menina que está sozinha.

Olhando para o seu rosto familiar, me lembro que era ela que sorriu para mim, no ônibus.

Vou até a garota que aparenta ser alta, de pele negra e cabelos até os ombros, lisos.

Me sento junto a ela. A diretora sai da sala, e aula continua.

— Tudo bem? –A garota ao meu lado pergunta.

— Sim, por quê?

— Parece um pouco perdida.

—  Eu não sei como as coisas funcionam ainda, me sinto um peixe fora d'água.

— Aqui é legal, você vai gostar. Apenas algumas maçãs podres. –Ela diz, olhando para o quadro e passando para o seu caderno.

Após copiarmos, chegou a aula prática.A professora pega bandejas e distribui com um sapo morto.

Abro mais um olho do que o outro. Mas que coisa é essa?! Por que estão nos servindo animais mortos?!

— Em quem você votou pro Grêmio? –Glenda me pergunta.

Engulo minha grande dúvida. Não achando uma resposta por eles estarem nos entregando cadávers.

— Na Helly. E você?

Ela ri.

— Menina, você é doida.

— Por quê?

— A Helly é a maior vadia. Todos puxam o saco dela, mas a verdade, é que ninguém gosta dela. As assinaturas dela, quantas ela tem? 7?

—  Na verdade eram 5… 6 com a minha. Ela foi bem legal comigo, por quê não gosta dela?

— Ela é do tipo que se acha melhor que todo mundo, apenas por ter muitos seguidores em seu I*******m, muitos inscritos em seu canal do YouTube e por participar da Round skirt.

— O que é Round Skirt? –Pergunto.

— Uma banda que eles fizeram, ela, Marco o famoso gato galinha, Max é o único simpático e o Dantas, muito calado, ninguém sabe quase nada dele.

— Eu os conheci nos corredores, o Marco é realmente muito lindo...

— Ouvi boatos de que Helly sempre gostou dele, são amigos desde a infância. Ela também tem um canal de covers, e tenho que admitir, ela canta muito.

— Meninas, querem sair da sala? –Cheila chama nossa atenção.

Fazemos que não com a cabeça, olhamos uma para a outra e sorrimos.

No recreio, Glenda me puxa para ficar com ela, em um canto deserto, em baixo da escadaria.

—  (…) Então, Marga, quer dizer que nunca esteve em uma escola antes? –Ela pergunta, comendo seu saco de salgadinhos.

— Sim, é tudo muito estranho. Eu nunca vivi em um mundo onde os adultos me mandam calar a boca ou que não me deixam ir no banheiro.

— Isso é realmente uma merda…

Ficamos em silêncio, até que ela faz uma expressão surpresa.

— Se você nunca esteve em uma escola antes, quer dizer que nunca beijou??

Aperto meus lábios e faço negativo com a cabeça.

— Você com certeza é raridade.

     – – –

Enquanto saíamos conversando, Glenda aponta para um carro que veio buscá-la.

— Você não vai de ônibus? –Pergunto.

— O meu pai vem me buscar, eu só venho de ônibus...

— Certo, então... Até mais.

Antes que ela fosse, trocamos nossos números.

Tiro meu passe transporte do bolso e espero o ônibus chegar. O plano era esperar o ônibus e ir pra casa, mas, tudo muda quando um filho de uma mãe tromba em mim, roubando meu cartão e saindo correndo.

Começo a correr atrás dele.

Filho da mãe!! Me devolva isso! –Corro, enquanto seguro minha saia.

Ele olha para trás ainda correndo, e posso ver seu rosto e lembro-me perfeitamente de quem é: Joãozinho Orelha Fonseca PJL, mais conhecido como Gavetinha.

— Você de novo?! MAS QUE MER-DA, hein?! –Tento correr, mas o idiota é mais rápido.

O sol está quente, provavelmente está fazendo uns trinta Graus C. Começo a me sentir zonza e minhas pernas se enfraquecem. Sinto meus olhos rodarem, e caio, no meio da rua.

Margarida? Você está bem?

Vejo dois Marcos, por causa da tontura.

—  Estou… –Digo, não enxergando quase nada– O Gavetinha levou o meu passe …

Ele olha para os lados e vai atrás dele. Que ótimo, que dia perfeito, quero morrer.

Alguns minutos parada no asfalto com todos olhando, sinto minha consciência voltar e me levanto vagarosamente e vou para a calçada e uso a parede para servi de bengalada, firmando nela. Vejo Marco voltar, com meu vale transporte na mão.

— Pensei que tinha morrido. –Ele diz, me entregando meu cartão.

— Que horror, por quê pensou isso?

— Vi você correndo e do nada você caiu igual uma abóbora madura, o que queria que eu pensasse? –Ele diz gargalhando.

Abro minhas narinas e junto minhas sobrancelhas, fazendo uma expressão de raiva.

— Qual é, não vai dizer nenhum "Obrigada por me salvar"?.

—  Obrigada por pegar meu vale, mas você não me salvou de nada.

—  Como não? Se não fosse por mim, você perderia o ônibus, isso é uma salvação.

— É uma ova. O ônibus já partiu, eu me sinto fraca por correr nesse sol, eu não tenho como ir e também não sei pra que lado fica minha casa. Eu tô fodida, mas obrigada por pegar meu vale para mim.

— Então, boa sorte. –Ele sorri e se vira.

Mesmo que eu não tenha visto muitos meninos em minha vida, ele é provavelmente o mais bonito que já vi. Ele se vira novamente.

Tá afim de me ouvir tocar?

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