CAPÍTULO III

Quando buscamos dentro de nós respostas para aquilo que não concordamos, muitas vezes nos deparamos com situações que não podemos explicar, e fica cada dia mais difícil convencer que a vida segue um roteiro e que muitas vezes queremos que nossas vidas sejam escritas por nós mesmos. Se isso fosse possível, não seria a vida e sim uma peça teatral, fadada ao desengano ou a mesmice sem nenhuma surpresa, seríamos marionetes de nós mesmos. Quando questionamos o que não concordamos é por que a aceitação é difícil para algumas pessoas, e isso não quer dizer que não aceitamos a morte, ou uma outra forma de valorizar a vida, mas sim, uma forma de querer estar no controle.

Algumas pessoas não sabem que cada um de nós nascemos e morremos, na maioria das vezes com um propósito ou motivo, você não está aqui por acaso, a vida não é um turismo, e sim um aprendizado. E na escola da vida é preciso entender a essência de viver e alegrar-se com cada amanhecer no universo e sua biodiversidade. Estamos no mesmo sistema, sentimos que a terra nos acolheu e criou condições perfeitas e harmônicas para nossa sobrevivência. Seria muito bom se tivéssemos um tempinho para agradecer a cada nascer e pôr do sol.

Alguns meses depois, Dr. Henrique volta novamente a misteriosa residência e de longe avista, um caminhão de mudanças, algumas pessoas carregando móveis para dentro, e com uma pintura nova no muro, desesperado ele pensou que a dama poderia ter se mudado, aproximou-se então da casa e perguntou:

- Gostaria de fala com a antiga moradora, como posso encontrá-la?

E a resposta não foi a mais agradável, a jovem disse:

- A antiga moradora já está morta há muitos anos, e a muito tempo essa residência estava fechada.

Admirado ele falou:

- Faz apenas alguns meses que estive aqui e falei com ela. Ele mostrou um lenço com perfume que estava na entrada da residência.

A jovem lhe respondeu:

- Não faço idéia de quem seja esse lenço...

Muito sem graça ele guardou o lenço e saiu.

Mais tarde Dr. Henrique compareceu a um coquetel e na conversa com alguns amigos, fizeram–lhe um convite para pescar, aquilo tudo havia deixado ele entediado e precisava um pouco de ar puro, essa poderia ser uma viajem para uma boa reflexão, afinal o campo serve para nos renovar as energias. Chegando lá ele notou que a casa era uma das mais bela e agradáveis, os três amigos teriam um fim de semana muito divertido, mesmo Dr. Henrique só pensando na bela dama, resolveu então ir para pescaria. A noite estava muito boa, poderia pegar alguns peixes. Algumas horas se passaram e conseguiu seus tão desejados peixes, guardando seu molinete, com um pouco de sono, mas satisfeito, começou então a sentir o cheiro do perfume da dama exalando na direção do vento, como se ela estivesse ali próximo, Dr. Henrique assustado perguntou:

- Você está aí?

- Sim, você está com algo que me pertence – Diz uma voz feminina.

- O lenço? – Ele perguntou.

- Sim – Ela respondeu.

Então Dr. Henrique colocou o lenço no chão e disse:

- Me Desculpe, encontrei seu lenço na casa e apenas guardei.

Dr. Henrique curioso então perguntou-lhe:

- Eu gostaria de saber mais sobre você, e o motivo que a faz chorar tanto...

A Dama então disse:

- Eu estava no auge da minha carreira profissional e era um sonho antigo, ser consagrada como a maior atriz de todos os tempos e quando eu consegui, meu sonho terminou.

Dr. Henrique ficou inquieto e quase sem entender nada, então pergunta:

- É esse o motivo que a faz chorar?

- Sim- Respondeu ela.

Então ele disparou:

- Se eu puder te ajudar, é só me avisar!

A dama responde então:

- Talvez você possa sim. Porque pensando igual a mim, concentramos uma energia e essa energia nos dará forças para lutarmos, eu também não aceitei a morte, mas a maldita veio e me levou. Continuou a dama:

- Vou ao templo todos os dias para ouvir quase as mesmas coisas, mas fiquei impressionada com suas perguntas, eu sei de um grupo que são bastante religiosos e não aceitam a morte. A dama disse que seu nome é Dorothy e foi a estrela do grande teatro e completou:

- A pouco tempo eu era uma grande estrela, e hoje não sou mais nada, e começou novamente a chorar.

Afinal de contas, o que foi feito com sonho dessa mulher! Ficando comovido com as palavras dela, então ele fez uma fogueira caso a dama quisesse falar um pouco mais sobre sua vida e seu sofrimento, mas a dama agradeceu dizendo:

- Serei eternamente grata se você lutar pelo seu objetivo, contestando a morte, como você pensa com certeza vai me ajudar muito, pois nada mais posso fazer.

Dr. Henrique então resolve seguir para casa, a dama recebeu o lenço e saiu andando e logo desapareceu da vista do Dr. Henrique.

Com passos rápidos ele logo chegou à residência.

Nunca saiu da sua cabeça, quem seria aquela dama, algum mistério teria por traz de tudo isso. Após alguns dias de lazer, ele se preparava para voltar a cidade, nunca esquecendo daquela dama, arrumou suas malas, e voltou ao hotel, onde estava hospedado. A noite foi ao templo para ouvir algumas coisas e contestar algumas outras.

Mas agora ele teve uma surpresa, na qual ele nunca mais iria se esquecer, ao entrar na sala sua admiração foi muito grande.

- Nossa que isso? Que lugar é esse? Olha isso! - Apontando para o detalhe do lugar.

Foi quando percebeu que estava em um grande teatro, e as pessoas que estavam no templo agora estavam ali, eram as mesmas, e lá estava no palco a grande atriz Dorothy se apresentando.

Dr. Henrique não poderia acreditar em tudo que estava havendo, perguntou para um amigo que sempre sentava ao seu lado:

- Aqui não era um templo?

- Nunca foi um templo- Respondeu o rapaz e afirmou:

- Aqui sempre foi o grande teatro Avenida!

Dr. Henrique ficou assustado. A peça com a Dorothy era uma das mais belas, a peça falava de amor, vida, e coragem para vencer barreiras. Ao final da apresentação a atriz cai do palco e havia sangue espalhado em todo canto, nada tinha a ver com a peça aquele cenário, ela provavelmente contava como foi sua inaceitável morte, e foi uma das cenas mais impressionantes e chocantes para o Dr. Henrique. Em seguida viu um jovem correndo com uma arma nas mãos e as características físicas desse jovem não lhe eram desconhecidas, o jovem lhe parecia com seu pai mais jovem.

A partir daquele dia, Dr. Henrique percebeu que tinha uma ligação com aquela bela mulher, e ao passar do tempo uma fotografia nos álbuns de família veio revelar isso. Perguntando por Dorothy aos familiares, percebeu o silêncio, quase ninguém queria fala sobre o assunto, ele queria apenas uma explicação, quem era Dorothy?

Uma das tias mais velha entre olhares respondeu:

- Dorothy era sua mãe. . .

- Minha mãe? - Disparou ele.

- Sim, ela foi assassinada no palco pelo seu pai, há muito tempo atrás…

- Inaceitável! Perdi minha mãe por uma morte cruel e dolorosa, e é a coisa que me deixa mais triste, por que vocês não me falaram que minha mãe está enterrada em Inápolis?

- Bem Henrique, nós queríamos te poupar do sofrimento, se soubesse que sua mãe era atriz talvez sentisse vergonha disso.

- Eu jamais renegaria minha própria mãe.

Dr. Henrique ficou sem acreditar o que tinha vivido naquele lugar, voltando diversas vezes para visitar o túmulo de sua mãe, tudo que ele dizia agora era que sentia muito não ter a conhecido pessoalmente e que se orgulharia muito da profissão dela, sempre dizia isso em seu túmulo.

Aquela revelação foi muito dura, um golpe para Dr. Henrique, as coisas não ficaram muito boas dentro de seu coração, era difícil aceitar tal acontecimento, ainda mais que ele estava muito sensível com a morte de sua primeira esposa que era um fato muito recente, e isso não ajudou em nada, só serviu para deixá-lo isolado e obcecado no trabalho. Era uma rotina de fuga para compensar tamanha decepção, sempre um degrau a cima, mas uma coisa se sabe, não importa tanto o tempo, mas termos equilíbrio como uma forma inteligente de deixar a vida menos cansativa quando pensamos muito na morte, perdemos um pouco da vida.

Em uma manhã de sol com seus familiares, e o vento soprando, atmosfera agradável, alguns patinhos nadando, os amores de sua vida ao seu lado, seus filhos e familiares, pensou, “é uma perca de tempo pensar nessa terrível morte”.

Dr. Henrique despede-se de suas tias e planeja sua viagem de volta. Pediu para seu motorista para passar em frente o grande teatro Avenida, afinal foi ali os últimos momentos de sua mãe, e uma olhada apenas seria para se despedir da grande atriz Dorothy, sua querida mãe. Algo havia se quebrado dentro dele, mas tudo poderia servir de conformidade ou de aceitação, a morte de sua mãe foi triste, porém não havia nada o que fazer, já se passaram muitos anos e as percas são consideradas normais.

Mas nem todos conseguem entender e aceitar as coisas da vida, Dr. Henrique era uma dessas pessoas. Durante a viagem seus pensamentos eram o seu único conselheiro. Ao se aproximar de um vilarejo, ele pede para seu motorista parar, então o motorista estacionou o carro na beira da estrada. Dr. Henrique pede ao motorista que o aguarde. Entra em uma reserva ecológica misteriosamente sem dizer uma palavra, permaneceu por alguns minutos, depois ele voltou e disse para o motorista que eles iriam passa a noite ali.

Seu motorista não costumava contestar suas ordens, mas aquela não era uma ordem comum, aquele lugar era muito misterioso, havia várias cavernas, morcegos, algumas vozes eram ouvidas naquele local. A noite não foi uma das mais agradáveis, à beira de uma fogueira os dois passaram a noite fria e sombria.

Cláudio era o motorista da família há muito tempo, e notou uma mudança de comportamento muito grande no patrão, que desaparecia por algumas horas, e depois retornava sem dizer nada, mas tudo parecia fazer parte daquela atmosfera misteriosa daquele lugar, após algum tempo Dr. Henrique resolveu conversar:

- Sabe Cláudio eu preciso organizar minha vida, daqui em diante tudo será diferente...

- Por que Dr. Henrique? - Perguntou Cláudio.

- Vou me empenhar ao máximo para que tudo fique bem comigo e com minhas filhas, eu não quero que nada de mal aconteça à elas, como coisas que considero inaceitáveis, como a doença e a morte.

Cláudio ficou olhando para seu patrão, e imaginando como as coisas eram difíceis para ele aceitar. Logo que amanheceu, saíram do vilarejo, e seguiam para São Sebastião onde residia.

Quinze anos se passaram...

E esses anos pareceram sufocantes para aquele homem atormentado com seus pesadelos.

- Bom dia Dr. Henrique- disse Luiza a governanta, avisando que era hora do café da manhã.

- Bom dia, minhas filhas já acordaram? – Perguntou.

- Sim já estão aguardando o senhor para o café da manhã Respondeu Luiza.

- Avise que já desço Luiza.

- Sim doutor eu avisarei.

Ao se aproximar da sala ele fala:

- Bom dia Cláudia, bom dia Janete.

- Bom dia pai! Responderam as duas ao mesmo tempo.

- Eu posso sair hoje pai? -Perguntou Cláudia.

- Não hoje eu vou receber alguns amigos para o coquetel, e gostaria que vocês estivessem presentes.

- Tudo bem pai, conte comigo-Respondeu Cláudia.

Mas Janete logo disse:

- Pai eu não posso ficar, pois já marquei com meu namorado.

- Não é possível Janete! Você nunca está presente quando eu preciso de você...

Janete então respondeu-lhe:

- A sua queridinha estará presente, então bastará!

Dr. Henrique ficou irritado com a rebeldia de sua filha Janete, e disse:

- Sua irmã é muito especial para mim, não a trate assim.

- Está bem pai, eu fico, mas posso trazer meu namorado?

- Sim traga. –Disse Dr. Henrique.

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