3º Capitulo

Érika desceu a rua chorando, era sempre assim no aniversário de Kurt, sua mãe fazia todas as vontades dele e ela ficava em segundo plano, no fim das contas ela terminava o dia chorando em seu quarto, mas hoje tinha sido um pouco pior ela não tinha ido para o seu quarto, mas tinha saído de casa e gritado com a mãe, tinha dito que a odiava, ela nunca tinha dito para Cat que a odiava até então... E no fundo ela sabia que não era verdade, só estava irritada e quando estamos irritados falamos sem pensar a primeira coisa que nos vem à cabeça.

Ela estava tão perdida em seus pensamentos que não viu Chuck que vinha subindo a rua e acabou esbarrando nele.

- Érika?

Ela olhou para trás e assim que viu quem era correu até ele e o abraçou com força.

- Chuck...

- O que é essa carinha de choro?

- Briguei com a Cat, ela tomou meu celular e eu disse coisas horríveis para ela.

Ele balançou a cabeça.

- Pobre garota, não me diga que Kurt foi o pivô disso?

- Ela o superprotege de tudo!

- Você sabe que isso não é verdade, não é? Já conversamos sobre isso...

- Eu sei..., mas eu fiquei com raiva, ela não podia ter tomado meu celular, como vou falar com você agora?

- Pode pegar o notebook de Kurt, tenho certeza que ele emprestaria...

- Claro que emprestaria, se eu implorasse de joelhos e prometesse favores intermináveis para ele...

Chuck riu e ela se obrigou a rir também.

- É justamente para isso que servem os irmãos mais velhos, ora vamos sua mãe já deve estar mais calma, por que não volta para casa e vocês duas tentam conversar e se entender? Não seria a primeira vez que você diz que vai largar tudo e ir atrás do seu pai e decide voltar para casa por que sabe que estar com ela é muito melhor.

- É... Tem toda razão... Como sempre.

- Vem cá... – Ele a puxou para um abraço e fez um afago em seu cabelo, daquele ângulo ela conseguia ver melhor a rua e nessa hora ela viu o carro de Cat que parou no sinal vermelho.

- Olha, é o carro da minha mãe, será que ela está me procurando?

- Pode ser, por que não faz um sinal para ela?

Érika começou a abanar freneticamente, mas Cat não viu, nessa hora o sinal abriu e ela acelerou.

Um caminhão que vinha na direção contrária acelerou também acreditando que dava tempo de passar, porém Cat já estava no meio do caminho e não conseguiu voltar, o carro foi acertado em cheio e começou a capotar na avenida enquanto era empurrado, Érika viu o carro da mãe ficar destruído e começou a gritar.

- Mãe!

Chuck a segurou rapidamente pelo braço para impedi-la de ir até lá.

- Não Érika fica aqui...

- É a minha mãe Chuck, ela ta lá, alguém tem que tirar ela de lá...

- Eu vou ligar para a ambulância, fica calma...

Ele pegou o telefone e começou a ligar para o resgate, mas nessa hora soltou Érika que invadiu a rua desesperada correndo.

- Mãe!

- Érika não...!

Mas era tarde demais, ela já tinha atravessado a rua e invadido o local do acidente, o carro de Cat estava capotado de cabeça para baixo, Érika se aproximou do vidro e bateu com a mão nele, para tentar fazer sua mãe acordar, mas Cat já estava inconsciente.

Ela enrolou o casaco na mão e começou a bater com força nos rachados do vidro para quebra-lo, e conseguiu, Chuck assistia de longe a loucura desesperada dela, ele precisava fazer alguma coisa, as pessoas começavam a se juntar e a rua tinha sido fechada o motorista do caminhão altamente alcoolizado tinha tentado fugir, mas foi barrado pelas pessoas na rua que ameaçavam linchá-lo, não demorou muito para a polícia aparecer, Érika conseguiu quebrar o vidro e um policial correu até ela para impedi-la de entrar no carro, mas ela já tinha se colocado dentro quando ele começou a pegar fogo, as pessoas começaram a ser afastadas ás pressas, pois havia grandes riscos de explosão, o guarda gritava do lado de fora para que ela saísse do carro, mas Érika estava determinada a soltar a mãe e tirá-la de lá.

- Eu vou salvar você mãe, eu não vou te abandonar... Vamos acorde mãe... Acorde...

Qualquer um que estivesse ali por perto rezava em silêncio ao ver o desespero da filha que tentava a todo custo tirar a mãe com vida de dentro do carro, mas Catherine estava muito machucada, havia sangue para todos os lados e todos bem sabiam que era dela, o caminhão tinha acertado o carro em cheio, quando finalmente ela percebeu que não conseguiria soltar a mãe, Érika tentou sair, mas sua perna tinha ficado presa na janela e o fogo já tinha dominado praticamente todo o carro a fumaça tóxica penetrou em seus pulmões e começou a deixa-la tonta, ela juntou suas forças e abraçou a mãe com carinho.

- Eu não odeio você... Por favor, não me deixe...

Nessa hora Érika ouviu uma pequena explosão na parte de trás do carro e acabou desmaiando.

A vida é um jogo, horas estamos combinando ações e palavras para tentar não ferir ninguém e horas estamos tentando sobreviver às situações sem nos ferir.

Em São Paulo mais uma noite chegava sorrateira e gelada...

Sebastien se cansou da festa e resolveu subir para descansar, ainda tinha alguns amigos brincando na piscina, mas ele não se importou, disse para Thereza que estava cansado e que era para dizer que a festa tinha terminado, quando cruzou pelo corredor, viu que o pai mais uma vez tinha apagado sobre os papeis, ele entrou cuidadoso no escritório e pegou a manta sobre o sofá o cobrindo as costas.

- Boa noite, meu velho...

Mas em Porto Alegre a noite estava muito longe de acabar, pelo menos para Tiago.

Eram nove horas da noite quando o telefone da casa tocou e Kurt se levantou para atender já começando a ficar preocupado com Érika que não tinha voltado e com Cat que estava demorando demais.

Era a polícia, Cat tinha sofrido um acidente de carro e ela e a filha estavam internadas no hospital em estado grave, ele não quis acreditar quando ouviu, o que Érika fazia com Cat? Como podiam ter se encontrado?

Ele pegou a carteira e as chaves e se dirigiu até o local, rezando para que tudo não passasse de um mal-entendido.

Enquanto isso em São Paulo,

Eduardo desistiu de ficar no barzinho e resolveu ir para casa, ele sabia que tinha alguém esperando por ele lá, ele tinha saído cedo da casa de Sebastien, alegando estar cansado do trabalho, acabou parando em um barzinho, pois não queria ter que chegar em casa, ele sabia que ela precisava dele, mas depois de dois anos de terapia e psicólogos ele começava a desconfiar que logo mais quem precisaria de ajuda seria ele, ele se levantou e pagou a conta, pegou a moto, mas não tinha mais certeza se estava apto para dirigir, ainda assim ligou o motor e o deixou ele funcionar por um tempo até que respirou fundo e decidiu de vez que deveria ir para casa.

Há dois anos atrás Eduardo tinha largado tudo, faculdade trabalho e namorada em Minas gerais, depois que sua mãe tinha se suicidado, tudo por causa daquele homem.

Eduardo abriu a porta da frente e silenciosamente tirou os sapatos para que não a acordasse, na verdade ele não sabia se ela estava dormindo ou não, mas ele esperava que sim.

Dois anos atrás as coisas iam muito bem, ele tinha passado em Medicina Veterinária em Uberlândia e Suélem estava terminando a sexta série, foi então que aquele homem entrou na vida deles, sua mãe chegou bastante animada do serviço e o apresentou como o novo namorado, no começo Eduardo gostou do homem já que ele era bastante simpático e para a alegria de todos sua mãe estava finalmente feliz e realizada, desde que o pai deles os tinha abandonado, ela nunca tinha saído com outra pessoa, mas aquele homem tinha conseguido quebrar o gelo em seu coração e agora ela estava realizada e feliz, tudo ia bem.

Dois meses depois Eduardo teve sua primeira discussão com o homem, pois ele tinha uma mania nada agradável de andar pela casa com a toalha na cintura, e Eduardo não gostava já que Suélen além de ser uma menina era ainda muito nova, a mãe obviamente defendeu o novo namorado e disse que não tinha necessidade de tudo aquilo, os dias passaram e parecia que ele tinha entendido Eduardo já voltava a se dar melhor com ele novamente. Naquele dia Moisés seu chefe o liberou para sair antes do serviço, pois estava com uns problemas em casa para resolver e teria que fechar a loja, Eduardo pegou suas coisas e montou a moto indo direto para casa.

Quando Suélen chegou do colégio ela viu o namorado da mãe sentado apenas de toalha no sofá e se assustou.

- Que foi garota? Nunca viu um homem não?

A menina não gostava do sujeito, ele era agressivo com ela, sem responder subiu correndo as escadas, não demorou muito para ver que ele vinha atrás dela gritando.

- Precisa aprender a respeitar seu novo papai!

Assustada ela se trancou no banheiro, mas ele estava alcoolizado e empurrou a porta entrando logo atrás dela, e foi então que tudo aconteceu.

Quando Eduardo chegou escutou os gritos da irmã que vinham do andar de cima e subiu as escadas correndo, Leon o namorado da mãe estava deitado sobre a irmã que se debatia no chão e gritava, havia sangue pelos lados e ele sabia que era dela, aquele desgraçado... Eduardo perdeu o foco e pegou o namorado da mãe o batendo fortemente contra a cuba de porcelana do banheiro e fazendo um corte em sua testa o homem desmaiou em seguida, mas Eduardo só parou de bater quando a mãe chegou e começou a gritar.

Suélem foi socorrida, precisou levar alguns pontos, pois ele não tinha abusado dela como tinha a machucado bastante, o homem foi detido, mas a mãe apenas se culpava por ter deixado aquele homem entrar na casa deles, os dias se passaram e Suélem não ria mais, não falava, não descia para almoçar e aquilo foi destruindo a mãe deles que tinha voltado a tomar os antidepressivos, um certo dia Eduardo que agora carregava o mundo em suas costas, por que precisava cuidar da mãe e da irmã que tinha pesadelos praticamente todas as noites, encontrou sua mãe morta em cima da cama, ela tinha tomado doses extras de remédio, eram agora ele e sua irmã, mas Suélen não ia mais a escola e logo os vizinhos começaram a falar que ela tinha ficado louca, uns até a perseguiam até que por fim Eduardo decidiu que deveria se mudar, largou tudo, casa, faculdade, namorada e partiu ao lado de Suélen para São Paulo, onde logo começou a trabalhar na empresa Kirtman, Suélen, porém nunca mais voltou a ir as aulas, estudava em casa trancada em seu quarto presa a um mundo de ilusão que ela tinha criado para se proteger.

Ninguém sabia sobre Suélen, Eduardo preferia não falar dela, ou melhor, era preferível que ninguém soubesse, ele não queria que o conselho tutelar batesse sua porta e perguntasse por que a menina não frequentava as aulas, ele não queria uma equipe médica dopando sua irmã como tinha acontecido com sua mãe, ele não queria ter que dividir aquela dor com ninguém.

Catherine deu entrada no hospital com traumatismo craniano e precisou passar por uma longa cirurgia, Chuck acompanhava tudo de longe sem se envolver, o que ele faria ou diria? Ninguém sabia de sua amizade com Érika ou que ele tinha uma ligação direta com eles, rapidamente ele telefonou para Lílian.

- Hei...

- Oi, Chuck e então como foi com Érika hoje?

- Lílian, é... Aconteceu uma coisa horrível, você está no hospital?

- Sim, é meu plantão lembra? Aliás, tenho uma cirurgia daqui a pouco então fale logo...

O silêncio no outro lado da linha fez com que ela se preocupasse.

- Algum problema Chuck?

- Lílian, a Cat sofreu um acidente grave e considerando que eu esteja no hospital em que você trabalha, eu acredito que ela seja a paciente aguardando pela cirurgia.

Era a vez dela de fazer silêncio, de perder o foco ou de simplesmente enlouquecer, Lílian deixou o corpo cair sobre a cadeira e nessa hora a enfermeira abriu a porta e chamou por ela.

- A equipe está aguardando para a cirurgia, doutora.

Lílian não respondeu, Chuck continuava chamando por seu nome no telefone, de repente ela tinha ficado muda e aquilo o tinha deixado ainda mais nervoso do que estava.

- Doutora, tudo bem?

Lílian olhou para a mocinha na sua frente que deveria ter uns 19 anos no máximo.

- Sim... Sim está, diga que já vou, eu vou me preparar...

- Claro.

Lílian voltou para o telefone.

- Chuck eu preciso ir, nos falamos.

- Mas você está bem?

- Não, ou melhor, eu não sei, mas vou ficar.

Durante o caminho Lílian não conseguiu parar de pensar que a vida da mãe adotiva de seu filho estava em suas mãos, ela poderia se aproveitar daquela situação? Não! Meu Deus, aquela mulher tinha feito de tudo por seu filho, tinha dado o melhor a ele, como ela poderia pensar nisso como algo bom? Culpou-se tanto que quando entrou na sala e viu aquele rosto, teve vontade de recuar e passar a responsabilidade para outro, mas Cat podia não resistir a tanta demora, e ela tinha que fazer seu trabalho e ele tinha que sair perfeito, por que aquela mulher precisava voltar para a vida de Kurt, ele precisava dela, assim como ela também precisava dele.

Tiago entrou as pressas no hospital, ele gostaria de que aquilo tivesse sido uma mentira, mas ele tinha visto o carro destruído, tinha estado no acidente, porém não conseguia entender o que Érika fazia com a mãe, será que tinham se encontrado no caminho? Teriam feito às pazes? E se estivessem brigando, e se Érika tivesse provocado o acidente sem querer? Não, ele não queria pensar nisso, se alguma coisa acontecesse a Catherine ele não a perdoaria.

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