Você me Pertence {2}

CAPÍTULO 2

Sinto o meu corpo suado e as batidas do meu coração aceleradas à medida que eu abro os meus olhos, me sentindo cansada e trêmula. Minha boca está seca e eu fecho os meus olhos, percebendo como tudo não passou de um sonho. As memórias ainda estão gravadas na minha mente, mas me parecem tão reais… Acho que estou ficando louca ao ponto de ter alucinações com Benjamin. Mas a verdade é que eu não gostaria que tivesse se tratado somente de um sonho. O seu beijo em meu sonho, foi tudo o que eu mais estava precisando, mas acho que de certa forma, isso me tranquilizou e me deixou mais segura, mesmo que não tenha sido real.

A realidade volta como um soco no estômago quando eu me sento na cama e meus olhos varrem todo o local, procurando por uma única coisa que me é familiar. Mas absolutamente nada me vem à mente. Lorena dorme no dormitório da faculdade, já Alan tem um pequeno apartamento e a casa dos seus pais, mas eu não poderia estar em nenhum desses lugares, nem mesmo no meu apartamento pois eu não teria condições de pagar por algo tão caro.

A enorme cama dossel em que eu estava sentada estava forrada com sedas tão macias que eu custava a acreditar, e a parede ao meu lado, completamente de vidro com uma vista incrível para as estrelas me revelavam que eu estava em um prédio, provavelmente no último andar a julgar pela altura. 

As batidas do meu coração se intensificaram à medida que eu observava todo o lugar, de repente me sentindo nervosa. Assustada, eu me levantei em um pulo mas antes que eu pudesse raciocinar, o lençol deslizou pelo meu corpo até o chão, revelando a minha nudez. As memórias voltam como uma pancada, quase como se eu tivesse saído do agora e tivesse voltado no tempo.

"— Unhum!

Ouço alguém limpando a garganta e isso já é o suficiente para eu me afastar dos braços de Benjamin, assustada. 

— Então… — Lorena começa, de repente parecendo sem graça.

Deus, eu poderia enterrar a minha cabeça debaixo da terra nesse momento para não ter que encará-los após eles terem me flagrado o beijando. O olhar de Alan alterna entre mim e Benjamin, parecendo estar surpreso e desconfiado enquanto Lorena parece espantada e envergonhada.

— Está tudo bem aqui? — Alan questiona, franzindo o cenho na minha direção.

Ele sabe de tudo o que houve entre mim e Benjamin, inclusive, há alguns dias foi ele que me aconselhou a esperar que o mês acabasse para que eu viesse tomar uma decisão definitiva, já que no momento eu estava bem relutante quanto seguir com as minhas palavras. Eu nem faço ideia do que pode estar passando por sua cabeça, mas definitivamente ele deve estar surpreso por encontrar Benjamin me beijando quando já alguns minutos atrás eu quase fui violentada  junto com Lorena.

— Sim… — Minha voz falha e eu limpo a garganta, ainda me sentindo afetada pelo beijo. — Eu estou bem.

Alan assente parecendo estar mais aliviado e então o seu olhar se volta para Benjamin, que parece mais tranquilo que eu.

— Foi você; — Lorena sussurra abrindo os seus olhos, espantada. — Foi você que nos ajudou! Meu Deus!

Ela põe as mãos em sua boca, tentando conter a sua surpresa. Essa situação seria engraçada se eu não estivesse tão envergonhada. Benjamin me lança um sorriso convencido e eu reviro os meus olhos, desviando o meu olhar.

— O táxi está nos esperando. Podemos ir? — Alan sugere parecendo estar impaciente quanto a algo.

— Ah, claro…

— Não; — Benjamin segura o meu braço, me impedindo de ir até eles. — Ela vai comigo. 

Ele me lança um olhar que não me deixa espaços para contestar. Alan parece estar em dúvida quanto a isso, mas eu desvio o meu olhar rapidamente. A verdade é que eu quero gritar e dizer que ele não pode simplesmente me dar ordens, mas eu acho que ainda estou abalada demais. É quase como se eu estivesse dentro de um transe, e se eu falar qualquer coisa a minha voz não vai sair tão confiante quanto espero que ela pareça. Droga, eu odeio que ele me afete dessa forma!

— Mel; — Lorena se aproxima e logo segura minhas mãos, me lançando mais uma vez, um olhar arrependido. — Me desculpe, de verdade. Prometo que da próxima vez que sairmos, eu não vou beber sequer uma dose. Vou tomar muito cuidado e também não vou me afastar de vocês.

Um sorriso se desenha em nossos lábios simultaneamente e ela trata de me abraçar.

— Não acho que seja preciso que você não beba nenhuma dose. Mas não exagere, pelo amor de Deus. Você já é difícil de controlar estando sóbria, bêbada se torna impossível.

Ela ri e então se afasta dos meus braços, me lançando um olhar carinhoso e mais aliviado.

— Você tem certeza que vai com ele? — Ela olha de soslaio para Benjamin que neste momento está cumprimentando Alan, ambos de cara fechada. — Quer dizer, ele é bonito… muito bonito. Mas que sortuda, Mel! Nem eu já fiquei com um cara tão lindo assim! 

Ela bate em meu ombro e eu ponho minha mão sobre a sua boca, tentando conter o meu riso.

— Deus, você fala alto demais! E sim, eu quero ir com ele, está bem? — Murmuro baixinho retirando minha mão da sua boca e ela me lança um olhar sugestivo.

— Safada… vai ter que me contar tudo assim que nos vermos novamente, hein; — Sinto as minhas bochechas corarem ao pensar nessa possibilidade. — Aproveite a noite, e não se preocupe, eu dou um jeito em Alan.

Ela começa a caminhar até ele, enroscando o seu braço no dele, que a lança um olhar confuso.

— Você disse que o táxi está à nossa espera. E você; — Lorena direciona o seu olhar até Benjamin, que põe as mãos no bolso da sua calça. — Muito obrigada por ter nos ajudado, mesmo que agora esteja claro que foi por causa da Mel.

— Eu faria de qualquer jeito caso eu visse qualquer uma naquela situação. — Ele responde seriamente e então Lorena assente com um sorriso em seu rosto. 

— Vamos, eu quero ir para casa. 

Ela puxa Alan pelo braço que logo trata de me lançar um olhar frustrado.

— Tchau, Mel. Ligo para você em uma hora para ter certeza de que você chegou bem.

O meu sorriso se alarga em meu rosto à medida que vejo os dois se afastarem. Eu fico até emocionada quando paro para pensar que eu finalmente tenho amigos que se importam comigo. Eu não fazia ideia de como essa sensação era boa, pois fui privada disso durante toda a minha vida, por isso, quero aproveitar. 

Benjamin se vira na minha direção com a cara fechada. 

— Eu não gosto dele.

Há tanto desgosto em sua voz que eu me pergunto se Alan já fez algum mal a ele, porque não é possível odiar alguém gratuitamente. 

— Pois bem, eu não lembro de ter perguntado, Benjamin. Lembre que ele é o meu amigo e eu gosto muito dele. 

Ele arregala os olhos com as minhas palavras e eu somente cruzo os meus braços na altura do meu peito, não gostando que diga qualquer coisa sobre Alan. Um sorriso se desenha em seus lábios enquanto nos encaramos por longos segundos.

— Ah, essa sua boca ousada; — Ele sussurra se aproximando de mim com o seu olhar escurecido, ao mesmo tempo em que eu sinto um friozinho na minha barriga. — Eu quero dar um jeito nela nesse exato momento. 

Dou um passo para trás, de repente me sentindo fraca sob o seu olhar. A minha boca fica seca enquanto ele levanta a minha cabeça, me encarando com tanta luxúria que eu até poderia ver o que ele planejava fazer comigo, e em quais posições. Ele acaricia a minha bochecha e o seu olhar desce de encontro aos meus lábios.

— Onde foi que paramos, ruiva?"

Após ele me beijar, tudo na minha mente é muito vago. Lembro de estarmos dentro de um elevador enquanto nos beijamos, com a sua mão em meu bumbum, e depois posso sentir claramente a sensação dele me penetrando. Dos seus beijos e toques, até mesmo do meu corpo tremendo sobre o seu. Tudo aconteceu nesse quarto. No mesmo lugar que eu me encontro nesse momento. Arfo olhando ao redor, percebendo que não conversamos sobre o contrato e que provavelmente agora ele deve estar achando que eu irei concordar. 

As memórias ainda estão frescas na minha mente, e talvez por isso, eu me sinta levemente dolorida. Caminho até o meu vestido que está jogado no chão, junto com sua camisa, mas o que mais me chama a atenção, é a minha calcinha rasgada num canto da cama. Meu Deus, não tivemos nem senso, parecia que estávamos desesperados por isso, mas também, já faz um mês que eu anseio por sentir o meu corpo no seu novamente, com ele não deve ter sido diferente. 

Vou até a minha bolsa, também no chão, e pego o meu celular verificando as horas. Eu quase caio para trás com o susto. Quase três horas da manhã, e eu sequer vi o tempo passar. As várias ligações perdidas de Jerry e Alan estão logo no visor do meu celular, alertando que eles podem estar preocupados ou com algum problema. Aperto para retornar a ligação de Jerry, mas sou impedida quando ouço vozes vindo de fora do quarto, um pouco mais longe que isso, mas estão bem claras.

Sou surpreendida quando Benjamin aumenta o tom de voz, me assustando de certa forma por pensar que ele pode estar brigando com alguém. Me levanto, deixando o meu celular de volta na bolsa e logo vou a passos lentos até a porta, encostando a minha orelha na mesma. A verdade é que não estou conseguindo conter a curiosidade, e eu não entendo quem poderia estar aqui uma hora dessa e que tenha deixado Benjamin tão bravo quanto ele parece.

Fico surpresa com o que eu escuto. Benjamin parece hostil, e algumas das suas falas parecem embaralhadas quando chegam no meu ouvido, porém uma de suas falas não me passa despercebida.

"Eu não os contratei à toa. Não é permitido que essa pessoa suba para o meu apartamento, você entendeu? Essa pessoa está proibida de chegar perto de mim, quero que siga todos os seus passos. Eu não quero mais nenhuma ameaça."

Suas palavras me pegam desprevenidas me fazendo dar um passo para trás, surpresa. Alguém está o ameaçando? Ele está em perigo?  Suspiro sentindo meu coração acelerar cada vez mais, me sentindo preocupada por imaginar que alguém esteja o ameaçando e o pondo em perigo. Porque alguém faria algo assim com ele? Encosto a minha orelha na porta mais uma vez, não querendo perder tempo e ouvir do que se trata.

"Senhor Hunter, mas não há nem sinal dessa pessoa andando pelo prédio. Eu não faço ideia de como, mas ela deu um jeito de corromper as imagens das câmeras." 

A voz abafada da mulher parece extremamente séria quanto ao assunto. Pelo jeito em que conversam, ela pode ser sua assistente ou fazer parte da sua equipe de segurança, que eu descobri através de Jerry, ser muito grande.

"Eu não me importo com as imagens. Essa pessoa esteve aqui, e eu a vi. Eu só quero impedir que ela chegue até mim novamente. Quero que projete mais sistemas de segurança, ela deve estar procurando mais uma forma de chegar até mim, e não quero que ela ache sequer uma falha."

Mordo o meu lábio tentando compreender as palavras, já que me parecem estar bem longes.

"Tudo bem senhor, mas não acha melhor nos revelar quem está por trás das cartas que vem recebendo? Assim poderíamos ser mais úteis para o senhor."

O pouco que eu continuei ouvindo a conversa entre eles, mostrava um Benjamin irredutível quanto a revelar quem é a pessoa. Eu me afastei da porta quando já não ouvi mais a voz dos dois, sentindo um conflito acontecer dentro de mim. Posso ficar aqui e fingir que não ouvi nada, até mesmo porque parece um assunto particular, porém posso descer e conversar com ele. Quer dizer, se ele realmente está em perigo, eu deveria saber, não é?

Respiro fundo, exasperada. Tudo bem que talvez eu não devesse me meter em seus assuntos, mas eu não posso fingir que não ouvi isso, e também não posso agir como se nada tivesse acontecido. Eu estou preocupada, e por este motivo, eu irei ao menos tentar saber o que está acontecendo. É claro que se ele não me disser eu irei morrer de curiosidade e preocupação, mas vale a pena tentar.

Abro a porta do quarto, de repente me sentindo nervosa, me deparando com um corredor, e logo na minha frente, o corrimão para descer as escadas, que inclusive, é diagonal. Eu tinha um plano inicial, que era conversar sobre a nossa situação em particular, mas agora eu nem consigo raciocinar direito, tomada pela preocupação e medo do que possa vir acontecer com ele. 

Benjamin está logo no fim da escada, usando somente a sua calça moletom, parecendo nervoso e preocupado. Mas também, não é de menos. Se eu estivesse me sentindo em perigo ou sendo perseguida, eu surtaria. Molho os meus lábios o sentido seco e começo a descer as escadas, esperando que Benjamin me note, e assim acontece. Seu olhar vem de encontro ao meu e logo os seus ombros relaxam, dando a entender que ele estava tenso. 

— Ei… — Ele murmura baixinho à medida em que eu me aproximo. 

Olho para os dois lados em seu apartamento, tendo certeza de que a mulher já se foi e estamos sozinhos. A decoração não me passa despercebida, pois é tudo tão chique e extravagante. A maioria dos seus móveis são uma combinação de preto e branco, e logo se destacam. À minha direita, ao lado da escada, é possível ver uma sala, que mais se parece de lazer, se não fosse pelo enorme tamanho. De onde estou, é possível ver uma mesa de sinuca e uma lareira apagada. Havia um outro detalhe que na verdade eu já esperava, a parede é de vidro, com a vista completa dos prédios e uma parte do céu. A minha esquerda, logo próximo a porta de entrada, tem uma cascata artificial, quase como uma cachoeira que por acaso parece muito com a paisagem que presenciamos no dia da morte da minha mãe. É quase como se ele quisesse guardar uma lembrança do que tivemos. Ao lado da cachoeira, tem uma linda cozinha, com várias luminárias no teto e uma ilha com bancos ao redor. Uma luz que se move de cima para baixo, azul, ilumina o caminho até a cozinha, e eu sinto um aperto no peito ao imaginar o motivo disso. O que ele já fez com outras garotas aqui… pois lembro exatamente de quando chegamos aqui, nos beijando loucamente e desesperados para sentir um ao outro. 

Ele limpa a garganta e eu volto a encará-lo.

— Benjamin, está tudo bem? — Ele me encara por alguns segundos, parecendo estar refletindo sobre, e quem sabe pensando numa possível resposta e fugir do assunto que eu realmente quero saber. — Tinha mais alguém aqui com você. Quem era?

Ele desvia o olhar e engole em seco.

— Sim, era só a minha chefe de segurança. Estava repassando algumas ordens para ela; — Ele se aproxima de mim e deposita um beijo na minha testa. — Como está se sentindo?

Como estou me sentindo? Se eu for esquecer da conversa que eu ouvi, e do contrato que é um empecilho entre a gente, eu diria que me sinto ótima. A noite foi incrível, na verdade, ele nunca tinha me feito chegar lá tão divinamente quanto hoje. Talvez tenha sido somente pelo fato de que eu estava me sentindo desesperada por isso, e não conseguia olhar dessa forma para um outro homem.

— Bem, muito bem. 

Assinto sentindo todo o meu rosto esquentar ao lembrar de nós dois juntos na sua cama. Ele me lança um sorriso, segura em minha mão e começa a me guiar até a ilha da cozinha.

— Você quer beber alguma coisa? — Ele questiona enquanto se serve de um copo com algo que mais se parece com whisky.

Balanço minha cabeça para os lados, e me ponho ao seu lado, querendo que ele olhe em meus olhos e não tente fugir do assunto, já cansada de tanta enrolação.

— Você está em perigo? — Pergunto calmamente, resolvendo analisar a sua reação, mesmo que eu não seja boa em ler as pessoas.

Mas seus olhos arregalados me revelam que ele está surpreso com a minha pergunta.

— O quê? Porquê acha isso, ruiva?

Desvio o meu olhar do seu, não querendo admitir que estava ouvindo a sua conversa de propósito.

— Vocês estavam falando um pouco alto, e lá de cima dava para ouvir. — Forço um sorriso na sua direção, trocando o peso da perna por estar envergonhada porque não foi bem assim.

Eu poderia ter evitado ouvir se eu não fosse tão curiosa. Alguns segundos se passam em silêncio, com Benjamin parecendo estar absorvendo as minhas palavras enquanto encaro as minhas próprias mãos, que estão juntas ao meu corpo.

— Ei; — Sinto sua mão em meu queixo, levantando a minha cabeça, me fazendo encarar suas íris escuras que nesse momento, além de estarem intensas, me passam certo tipo de tranquilidade. — Eu não estou em perigo, ruiva. Mas fico feliz que se preocupe comigo. — Um lindo sorriso se desenha em seus lábios e ele acaricia a minha bochecha. — É só alguém que insiste em falar comigo. Está sempre me incomodando, mas nada demais.

Eu quase posso sentir o peso saindo dos meus ombros, com o alívio tomando posse do meu corpo. Isso definitivamente me deixa muito mais tranquila. Eu já tenho que lidar com tantas preocupações, então mesmo que Benjamin nunca quisesse compartilhar isso comigo, eu acho que eu morreria de tanta preocupação.

— Vem, senta aqui.

Nos sentamos lado a lado nas banquetas. Ele logo trata de pôr um copo na minha frente, e pôr somente dois dedos do seu whisky.

— Acho que temos muito o que conversar. — Comento o encarando, pois eu me conheço o suficiente para saber que irei ficar ansiosa demais caso não chegarmos a uma conclusão ainda hoje. 

— Você pode tornar isso simples, sabe disso. 

Sua mão pousa em minha coxa, e eu ergo uma sobrancelha em sua direção, mordendo o meu lábio pois eu não vejo como isso pode ser simples. Nenhum dos dois está disposto a ceder, por isso, uma conversa pode ajudar quanto a isso. 

— Benjamin, eu espero que não esteja falando sobre eu ceder em relação ao contrato. Eu jamais vou fazer algo que vá fazer com que eu me sinta suja!

— Caramba! Mas você já tem uma opinião formada sobre isso antes mesmo de me escutar! — Ele exclama parecendo exasperado.

— Mas você vai dizer o que eu já sei! Terei que seguir a suas regras, coisa que eu não quero, e terei uma recompensa por fazer sexo com você, coisa que eu também não quero. Eu não vejo como você pode me convencer a assinar. — Digo cruzando os meus braços na altura do peito, enquanto ele me encara balançando a cabeça para os lados com seu cenho franzido.

— Esse é o ponto, Mel. Eu não quero que me obedeça, gosto de estar se descobrindo uma garota bem teimosa; — Ele segura o meu rosto em suas mãos, tentando me passar uma mensagem silenciosa. — Você é especial para mim.

Bufo e tiro suas mãos do meu rosto.

— Se eu sou tão especial para você, porque preciso assinar um contrato sob esses termos como todas as outras?

Eu só quero que ele entenda o meu ponto de vista. Eu sei que deve haver algum tipo de bloqueio em sua mente e coração que faz ele agir assim, mas eu não posso ajudá-lo se ele não se abrir comigo. Eu estou disposta a entender ele, mas até esse dia, ele tem que entender que esse contrato iria fazer com que eu me sentisse uma prostituta. Mesmo com a minha mente abrindo aos poucos e eu me descobrindo, eu não posso ignorar quem eu fui a minha vida inteira. Eu fui criada de uma forma cheia de princípios, e não posso quebrá-los sem saber se fazem ou não parte de mim. Eu o quero tanto, mas tudo está confuso demais na minha cabeça.

— Puta merda, Mel. Não faz isso, não diz e nem me olha dessa forma. — Ele levanta da banqueta, se virando de costas e passando a mão pelo cabelo, parecendo exasperado. — Durante todo esse tempo em que estivemos separados, em que eu dei um tempo para você pensar, você não saiu da minha cabeça por nenhum instante. Ter você hoje em meus braços foi… puta que pariu. A melhor coisa que me aconteceu. 

O seu olhar escurece alguns tons enquanto eu o encaro. A única forma da gente ficar juntos é se eu convencê-lo ao menos a me entender e se abrir comigo, fora isso, estaremos perdidos. 

— Ruiva, eu quero você pra caralho. Eu quero de verdade, e eu não poder abrir mão desse contrato não significa que você é igual a todas as outras. Cacete, Mel. Eu posso até me casar, mas não abro mão desse contrato. 

O encaro sentindo a borda dos meus olhos se encherem de lágrimas. Eu quero lutar por ele, eu realmente quero. Ele está demonstrando que me quer de verdade, mas somente nos termos de um contrato. Deus, eu queria insistir mas estou cansada demais. O meu coração está doendo por saber disso, e seria mais lógico que eu tentasse o entender, mas de verdade, eu já não aguento mais ter que lidar com tantas coisas.

— Nenhuma? Nenhuma chance de ficarmos juntos? — A minha voz falha, entrega todos os meus pensamentos inquietantes, e quando ele balança a cabeça para os lados, eu tenho a certeza.

— Eu sei que eu disse que ia deixar você tentar, mas de verdade, você não vai conseguir mudar o que tem dentro de mim. Eu gosto de você, você gosta de mim, porque não tenta fazer um esforço, Mel? Se quiser, podemos ir com calma em relação a isso até que você se sinta pronta…

Eu me levanto da banqueta antes mesmo dele terminar. 

— Eu sinto muito, Benjamin… — Sussurro com as lágrimas deslizando pela minha bochecha, e logo trato de levantar o meu olhar para o seu, que parece inquietante. — Eu sinto muito, pois eu estou cansada demais. Eu queria te ajudar, mesmo sem saber de que ajuda você precisa, mas se você está deixando claro que eu não vou conseguir mudar o demônio que tem dentro de você, eu não vou insistir. Eu não vou assinar esse contrato, estou indo embora. — Murmuro sentindo as lágrimas quentes deslizando pela minha bochecha, querendo estar no meu apartamento novamente, chorar até que essa dor passe.

Mas quando eu passo por Benjamin, as suas mãos prendem na minha cintura, me puxando e me virando na sua direção, me encarando como se o mundo fosse acabar assim que eu o deixar.

— Mel, calma. Por favor, olha para mim; — Ele segura o meu rosto em suas mãos. — Eu te dei um mês, se você ao menos soubesse o que eu sinto por você, Mel. E você prometeu que…

— Eu sei o que eu disse, Benjamin! — O interrompo e tiro suas mãos do meu rosto, enxugando as lágrimas logo em seguida. — Eu disse que estaria disposta a lutar e convencer você que não precisa desse contrato para ser feliz. Mas você não quer! Nem pensa na ideia de se libertar disso! Então, sim! Eu desisto antes mesmo de lutar! Eu estou tão cansada… — As lágrimas continuam a deslizar incessantemente, e eu logo cubro o meu rosto. — Dói demais saber que você nem mesmo procura me entender. Deve estar me achando uma fresca por agir assim, mas vai a merda! Eu não tive nada durante toda a minha vida que me fizesse ser uma adolescente normal e fui privada de tantas coisas. Me desculpe, mas não me libertei de uma para me prender a outra. Eu sou louca pra te ter, Benjamin. Mas estou esgotada. Você sabe disso, eu fui enganada por todos à minha volta e você foi uma dessas pessoas. Eu perdi a minha mãe e estou aprendendo a me virar sozinha, quando na verdade eu não sei… e eu sequer posso contar com o meu próprio pai.

Benjamin segura mais uma vez o meu rosto em suas mãos quando um soluço inesperado, causado pela enorme pressão em meu peito, rompe pela minha garganta.

— Você não está sozinha, olha para mim. Eu estou bem aqui por você. 

Um sorriso descrente aparece em meu rosto, enquanto balanço minha cabeça para os lados.

— Está mesmo? Eu prometi a você que iria te ajudar aqui; — Ponho uma mão em seu peito, logo onde as batidas do seu coração estão aceleradas. — Mas agora eu estou desistindo, e eu sei que você merece alguém que lhe ajude, mas eu não posso. Por isso acho que não te mereço, você deveria começar a filtrar quem é especial na sua vida.

— Porra, para de ser tão autodepreciativa. Você já fez tanta coisa boa comigo, mudou muitas coisas dentro de mim. Você pode não perceber, mas sou eu que não mereço você, mas sou egoísta demais para te deixar ir. Assim como estou sendo egoísta agora. Eu quero você. — Ele repete lentamente, com o seu olhar tão intenso que eu poderia me deixar levar agora mesmo.

— Não importa o quanto você insista, eu nunca vou me vender, assim como você nunca vai se abrir comigo e me fazer entender, então para quê insistir?! — Pergunto me afastando dele mais uma vez, não conseguindo entender tudo isso.

— Mel, eu já lhe disse tantas vezes. Não é nada disso que você está pensando…

Ele tenta segurar os meus braços, porém mais uma vez eu me desvencilhei dele, evitando que eu mesma me entregue sem pensar nas consequências, pois é isso que o seu olhar causa em mim. 

— Coloca de uma vez na sua cabeça que eu não sou esse tipo de pessoa! Se você não está disposto a me ajudar, eu não posso fazer absolutamente nada! Tem tantas candidatas por aí que não perderiam a chance de serem suas escravas sexuais, ou sei lá que merda é essa, mas eu não! De verdade, Benjamin. Eu não!

Sequer tenho tempo para ver a sua reação, pois somente viro minhas costas e eu praticamente saio correndo do seu apartamento, ouvindo ele me chamar baixinho. Eu não queria pensar demais sobre isso, mas aquilo estava me atormentando. Eu quero ele, e o mesmo me quer, mas se a única forma de ficarmos é com um contrato que me faça me sentir suja, eu não quero. Quero viver um pouco dessa liberdade que estou vivendo, e também por este motivo, não posso me prender a ele. Eu saio do seu prédio, com o pensamento de que ele encontre alguém que consiga o ajudar mais do que eu, pois é nítido que ele tem traumas fortes. Mas eu sou fraca demais para lutar por ele.

Eu estava atravessando a rua, completamente perdida quando o farol de um carro reluziu em meu rosto. Acho que eu congelei no lugar, percebendo o carro se aproximar de mim em alta velocidade. Acho que eu poderia desmaiar naquele mesmo instante, pois a minha cabeça estava girando e me deixando tonta. Meu corpo estava trêmulo e apenas uma frase se repetia na minha cabeça.

Eu vou morrer!

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