Já haviam se passado seis meses desde que fui transformada, desde que fui acolhida pelos Roux. Eu me sentia muito bem com eles, cada um tinha um jeito carinhoso de me tratar. Até Amélia, ela era a que eu tinha mais certeza que iria me tratar com indiferença ou frieza, mas não, ela é um amor comigo, um pouco mandona, mas um amor. 

Jenna havia comprado um monte de coisas para mim, roupas, sapatos e bolsas de marca. O quarto de hóspedes virou meu quarto, e eu simplesmente amei ele, Gael me deu carta barca para fazer o que eu quisesse com ele, e com a ajuda de Maitê, que é design, ele ficou incrível. Amélia insistiu com Gael para que ela me ensinasse a dirigir e depois disto feito, ela me deu um carro de presente, um que eu amei. 

Eu já estava bastante habituada a minha nova vida. Não me refiro só ao fato de eu ser uma vampira e sim a minha vida como uma Roux. Mas havia algo que estava me incomodando, me deixando nervosa na verdade. Hoje seria meu primeiro dia na escola. Eu estava super ansiosa.

A história que contaríamos a todos é bem simples. Eu sou a filha mais nova de Gael e Maitê que estudava em um internato na Inglaterra. Bem simples. Ninguém desconfiaria do fato da minha aparência ser diferente dos meus irmãos, já que todos sabem que eles são filhos adotivos de Gael.

Dei uma última olhada no espelho e suspirei fundo antes de pegar minha bolsa e descer para ir para a escola com meus irmãos. Eu iria estrear meu carro hoje, Calebe já havia me desafiado a uma corrida, está que eu aceitei sem pensar duas vezes. Eu gostava de desafios e apostas. 

Sai do meu quarto pois já estava ouvindo Amélia reclamar. Eu apenas revirei os olhos bocejando. Ainda estava com sono. Eu sei, uma vampira que dorme. Não tinha como ser mais estranha, mas eu gostava disso. Ser diferente. 

- Finalmente a princesa terminou_ Amélia disse me olhando de braços cruzados.

- Desculpa. Ainda tô com sono_ Disse dando outro bocejo_ E com fome 

- Infelizmente a madame não tem tempo para comer. Aqui_ Ela me entregou uma garrafa térmica para mim_ Maitê fez café para você antes de sair_ Abro a garrafa e bebo um pouco. Eu amo café, é uma das melhores coisas que existe no mundo.

- Vamos logo. Ou vamos chegar atrasados_ Calebe passou o braço envolta dos ombros de Amélia e sai a puxando para a garagem. Eu os segui.

Cada um entrou em seu respectivo carro. Amélia e Calebe no Jeep, Jenna, Finn e Vince no Volvo e eu no meu lindíssimo Audi R8 GT Nero. Meu xodó. 

- Pronta para perder pirralha ?_ Calebe pergunta ligando seu Jeep. Eu apenas sorriu de canto ligando o carro, escutando o lindo ronco do motor. 

No final eu acabei ganhando, o que rendeu muitos resmungos de Calebe. Tivemos que diminuir a velocidade quando já estávamos perto da escola, estacionei o carro bem ao lado do de Vince, e como meus irmãos tinham previsto, todos estavam olhando na minha direção, os olhares aumentaram quando eu saí do carro e fui para perto dos meus irmãos. Era irritante os cochichos relacionados a mim. Será que ninguém tem nada melhor para fazer não ?

- Somos o assunto preferido deles_ Vince respondeu ao meu pensamento. Eu retirei meus óculos o encarando, odiava essa invasão_ Desculpa_ Ele levantou a mão rindo. Iria brigar com ele, mas um ronco de um motor um tanto velho me chamou a atenção. Vinha de uma picape laranja. Não era de todo mau, uma revisada bem caprichada no motor e uma pintura nova e a picape estaria novinha em folha. 

A dona da picape parou do outro lado do estacionamento, atraindo a atenção para ela, e eu dei graças a Deus por isso. Ela era magra, cabelos escuros e pele pálida, tão palida quanto meus irmãos. Ela era normal, bonita ao seu modo, mas normal. E bastante desajeitada. Escorregou ao por os pés no chão, se não tivesse se segurado na porta teria ido ao chão. Eu segurei a risada desviando o olhar.

(...)

O primeiro turno de aulas foi um saco. Nenhum dos meus irmãos teve aula comigo, e eu tive que aguentar pessoas curiosas me olhando de canto ou até mesmo descaradamente. Alguns corajosos vieram falar comigo, fui apenas educada respondendo suas perguntas. Sempre as mesma. "Você é mesmo uma Roux ? Onde você estava esse tempo todo ? Quantos anos você tem ?" Me perguntaram até se Vince e eu tínhamos alguma coisa. Eu apenas ri. 

Estava saindo da sala quando fui abordada por uma fadinha saltitante e muito animada. Ela apenas pegou na minha mão e sai me puxando em direção ao refeitório.

- Aconteceu algo ?

- A novata irá perguntar sobre nos_ Ela disse animada.

- E ?

- Jenna quer fazer uma entrada "dramática"_ Vince respondeu colocando o braço envolta dos meus ombros_ Só entra_ Eu ri balançando a cabeça negativamente. Amélia e Calebe entraram primeiro, seguidos por Jenna e Finn, e por último Vince e eu. 

- Quem são eles ?_ A novata perguntou a uma loira.

- Os Roux_ Uma morena respondeu_ Eles não se misturam muito.

- São os filhos adotivos do Dr. e Sra. Roux_ A loira começou_ Mudaram do Alasca há alguns anos. Eles estão todos juntos, tipo junto mesmo_ Disse com certa maldade na voz_ A garota loira que parece modelo e Amélia Maison, uma sobrinha da Sra. Roux. O grandão ao lado dela é Calebe. Eles são uma coisa só e eu nem sei se isso é legal.

- Suzi, eles não são parentes de verdade_ A morena disse.

- É, mas eles moram juntos. É estranho_ Ela rebateu_ Certo. A baixinha de cabelos curtos é Jenna, ela está com Finn Maison, o loiro que parece está com dor. Ele é gêmeo da Amélia. O Dr. Roux é tipo pai adotivo e casamenteiro. 

- Ele podia me adotar_ A morena disse risonha.

- E eles ?_ A novata perguntou.

- O garoto é Vince Roux. Ele é um gato tá na cara, mas parece que ninguém aqui é boa o suficiente para ele. E parece que agora ninguem tem chance mesmo_ Ela disse olhando de canto para mim. Vince deu um risinho e eu tive que acompanha lo_ A garota, é Allegra Roux. Ela acabou de chegar. Parece que estava em um internato na Inglaterra_ Disse sussurrando.

Me sentei ao lado de Vince, ele ainda estava com o braço envolta dos meus ombros. Meus irmãos empurram suas bandeiras com comida para mim, já que eu era a única que comia. Menos Vince, ele estava concentrado na mesa da novata, inquieto. 

- Vince ? Tá tudo bem ?

- Não consigo ler os pensamentos dela_ Disse frustrado.

- Xii. Tá dando defeito. Deve ser a idade_ Brinco arrancando risadas dos outros na mesa, menos de Vince, ele ainda estava de cara fechada_ Não liga. Talvez ela seja do tipo que não pensa_ Digo dando de ombro e comendo um pedaço de pizza.

- Provavelmente ela não tem nada na cabeça_ Amélia disse me fazendo rir. Eu não era mau ou nada do tipo, só não havia ido muito com a cara da novata. Ela tem uma cara lerda que me dá sono. 

(...)

Meus irmãos haviam ido para suas salas enquanto eu ainda terminava de comer. Já terminado, eu me levantei e sai do refeitório. Assim que sai do local acabei esbarrando em alguém, este que foi ao chão. As vezes eu esquecia do quão forte eu era. 

A pessoa que eu havia esbarrando era a novata, Brien Fox, filha do chefe de polícia. Estiquei minha mão para ela e a ajudei a levantar. 

- Se machucou ?

- Não. Me desculpa_ Disse com uma voz baixa. Acho que ela é tímida. 

- Tudo bem, só cuidado_ Dou um sorriso pra ela prendendo a respiração. O cheiro dela é bom. Balanço a cabeça afastando esses pensamentos e sigo meu caminho.

Eu teria aula de matematica junto ao Finn. Quando cheguei na sala, já haviam muitas pessoas, a maioria dirigiu o olhar para mim. Eu apenas ignorei e segui até Finn, me sentando ao seu lado. 

Ele estava sentado na última cadeira, ao lado da janela aberta. Finn era o que tinha mais dificuldade em se adaptar com nossa dieta. Até eu lidava melhor com isso do que ele. Mas esse não é seu único motivo de desconforto. Finn é um empata, ele consegue sentir e manipular as emoções das pessoas. E digamos que esse dom não é muito bom para quem tem que conviver com um monte de adolescentes cheios de hormônios. 

Ao contrário de todos os meus irmãos, eu tinha muita facilidade de conviver com os humanos. Eu descobri que eu não preciso de tanto sangue quanto meus irmãos, apenas o bastante para me manter forte, mas ficar sem consumir sangue por muito tempo não me deixa como meus irmãos, famintos. 

- Hmn_ Finn murmurou, parecendo incomodado.

- Finn, o que houve ?

- Vince. Ele está com muita sede_ Ele diz apenas para que eu escute.

- Caçamos ontem. Como ele pode estar com sede ?_ Pergunto confusa.

- A novata. O sangue dela é muito atrativo para ele_ Me lembre da hora que sai do refeitório, quando esbarrei nela. O cheiro dela era realmente bom. Mas não era tão forte ao ponto de deixar meu irmão assim. Ou era ? 

- Você pode ajudá-lo ? Acalmar ele ?_ O encaro.

- Posso tentar_ Ele fica quieto, parecia estar se controlando. Logo ele solta um suspiro, não que fosse necessário_ Ele está mais calmo. Ainda está incomodado, mas conseguirá manter o controle até o final da aula.

(...)

As aulas haviam finalmente acabado. Finn e eu corremos - em velocidade humana- até o estacionamento. O clima estava tenso, Finn estava tendo dificuldade para acalmar os ânimos de todos.

- Cade Vince ?_ Olho em volta procurando ele. Será que ele havia ido atrás da humana ? Não, ele não perderia o controle desta forma.

- Foi para casa. Arrumar as malas_ Jenna responde, e eu a encaro confusa.

- Como ? Por quê ?_ Falo perplexa.

- Ele irá para o Alasca_ Jenna diz com o olhar distante, ela estava observando as decisões dele.

- Jenna, se eu for agora eu consigo chegar a tempo ?_ Pergunto rápido, se ela não fosse vampira obviamente não teria entendido. Ela confirma com a cabeça e eu apenas entro no carro o ligando. Não ia deixar Vince ir embora por conta de uma humana. Acelerei em direção à casa, não me importando com os limites de velocidade. 

Em poucos minutos eu já estava em casa. Sai do carro e entrei em casa, me deparando com Vince com uma mala na mão. 

- Você vai mesmo ?_ O olhei esperançosa, queria que ele disse que não, que ia ficar.

- Vão ser apenas alguns dias_ Ele diz e eu balanço a cabeça negativamente.

- Não acredito que vai deixar sua família por conta daquela garota_ Falo um pouco alto, eu estava ficando irritado_ Não precisa passar por isso sozinho, nos pod...

- Não, não podem. Agora sai da frente_ Ele me empurrou de leve pro lado e passou por mim.

- Vince, fica_ Falei um pouco mais grave, e ele parou. Depois de alguns segundo ele se virou para mim, parecendo irritado. E eu sabia porque, eu havia usado meu dom nele.

- Não faça isso. Me deixe ir Allegra_ Ele me encarou_ Pare de ser criança_ Ele gritou_ Me deixe ir.

- Quer saber ? Vai_ Gritei_ Covarde 

Ele passou pela porta, desaparecendo entre as árvores. Com raiva eu acabei jogando um dos vasos na parede. Maitê ia me matar, mas no momento não importava. A única coisa que importava era que meu irmão havia quebrado sua promessa. Tudo por conta de Brien Fox.