Athia
Athia
Por: Priscilla Tôrres
Ato I - Athia

Foram os Deuses quem construíram este planeta. Gaia, que se nomeia. Em Gaia as coisas funcionavam devagar. O dia passava devagar. A noite vinha a se arrastar. Phebo, o Deus sol, irmão gêmeo de Diana, a Deusa da lua, conversavam entre si numa vagareza sem igual, porém poucas vezes marcavam encontro à luz do dia. A natureza de Gaia era exuberante: árvores frondosas espalhadas por todo lado, florestas e campos largos cheios de grama verde, mas também havia o espaço designado ao deserto e aos rios. Os animais viviam em pura harmonia. Aves, insetos, felinos, répteis, peixes, baleias, entre outros. Tudo era perfeito, cada qual em seu lugar, porém todos conectados entre si por forças invisíveis.

Entediado, Júpiter, o Deus dos Deuses, resolveu criar um outro tipo de animal. Um mais parecido com os Deuses. Fortes, com duas cabeças e quatro pernas, quatro braços e inteligência além do comum das raças já existentes em Gaia.

Entretanto, quando Júpiter criou os homens, mal sabia ele que a calma de Gaia estaria fortemente ameaçada. Considerando-se seres superiores, os homens travaram várias batalhas, não somente contra a natureza, bem como entre si.

Irritada, Pã, a Deusa da natureza, juntou-se ao Deus carrasco, Pluto, e enviaram doenças e outros males aos homens, para que sentissem a cruel realidade do quão frágeis eles eram perante a força da natureza de Gaia. Pã não foi punida, muito pelo contrário. Seu exemplo foi seguido por outros Deuses, que deixaram de dar bênçãos àqueles que não lhes concediam lisonjas.

Júpiter achou justo: ele não queria que sua criação fosse ingrata. Resignado e tentando entender o motivo pelo qual os homens eram tão rebeldes, Júpiter desceu à Gaia, em forma de um belo touro, onde se confinou durante muitas eras, deixando Juno, sua esposa, com as responsabilidades de curadoria do Olimpo. Como touro, era difícil conviver com os homens de perto e, então, para viver em Gaia, Júpiter assumiu a forma de sua criação. Por alguma mágica que não se explicava, Júpiter, em sua forma humana, foi muito bem recebido por aqueles que criou. Talvez essa comunicação se tornou fácil por haver uma ligação de paternidade entre Júpiter e sua cria.

Vivendo com os humanos durante eras, Júpiter caminhou por toda Gaia, em busca do entendimento daquilo que ele próprio criara. Juno, muito irritada com a deserção do marido, não poupou esforços para fazê-lo voltar. Assim, fez alianças com diversos Deuses para que Júpiter passasse as piores intempéries e desistisse de viver em Gaia, retornando ao Olimpo, que era seu lugar.

Júpiter, por sua vez, sempre foi bem sucedido nos testes que Juno lhe enviava e, na maior parte das vezes, ele conseguia se safar mesmo sem usar seus poderes: afinal, ele não podia se revelar como Deus perante os homens, mas, com a ajuda de sua criação, ele obteve sucesso nos testes de Juno.

Aos poucos, Júpiter foi se apaixonando por sua própria criação. Vivendo entre eles, percebeu que eram fortes, decididos, dedicados, mas também tinham defeitos, como ele próprio. Afinal de contas, ele os criara com base no que ele próprio conhecia: os Deuses e Deusas. Ou pelo menos como ele achava que os Deuses deveriam ser: unidos.

O molde dos homens era único: eram seres duplos, como se fossem duas pessoas abraçadas, entretanto, suas cabeças eram viradas para trás, de modo que, efetivamente pareciam duas pessoas, uma de costas para a outra, porém sua pele era única. Desta forma, pareciam duas pessoas grudadas.

Júpiter entendia que aqueles seres eram completos, holísticos e viveu tanto tempo com eles que se esqueceu de seus poderes divinos, bem como de suas responsabilidades com o Olimpo e com sua esposa.

Juno, muito irritada com a notícia de que Júpiter se negava a voltar aos céus, seguiu até os aposentos de seu marido e lhe tomou suas armas: raios poderosíssimos. Do ponto mais alto do Olimpo, deitou-se confortavelmente nas nuvens e jogou os raios de Júpiter, um a um, bem no meio de todas aquelas criaturas que ela passou a odiar. Sua ira matou cada um deles e, na vez de eliminar Júpiter, ela jogou o maior dos raios e achou que o tinha partido em dois, entretanto, o ataque não surtiu efeito. Abalado com o que a esposa tentara fazer, Júpiter retornou ao Olimpo e ordenou que Pluto prendesse Juno no fundo da terra de Gaia, pelo menos até que pudesse reparar o dano que a esposa causara.

Apaixonado pelos homens, Júpiter se trancafiou por 50 longos anos de luto por eles. Olhou cada um deles, partidos ao meio. Sofreu por cada uma de suas criações... não conseguia nem pensar no que faria, pois criar outros não substituiria aqueles que ele tanto amou.

Concórdia, Deusa da harmonia, compadeceu-se de Júpiter e, conversando com Minerva, a Deusa da sabedoria, tiveram uma ideia. Fizeram um jantar para Júpiter e, enquanto ele se enchia de ambrosia, a bebida dos Deuses, elas tiveram tempo suficiente de descer à Gaia e recolher todas as metades dos seres humanos. Elas tentaram costurá-los uns nos outros, mas o corte dos raios de Júpiter era mágico e elas não conseguiram retornar os humanos ao que eram antes. Assim, costuraram as feridas de cada uma das metades deles, fazendo um nó no que hoje chamamos de umbigo e "partes". Para não deixar de registrar nos acontecimentos a raiva de Juno e não contrariá-la pelo que estavam fazendo escondidas, Concórdia e Minerva viraram os rostos dos homens para trás, para que vissem com seus próprios olhos as cicatrizes de sua condição anterior, e que nunca esquecessem da ira de Juno.

Acontece que os seres humanos com as barrigas costuradas não levantaram. Eles não acordaram e as Deusas ficaram com receio da reação de Júpiter, mas o encararam e contaram sua ideia ao Deus dos Deuses. Para sua surpresa, ele ficou feliz e, com seus poderes divinos, reanimou os homens. Porém, algo estranho ocorreu. Eles estavam tontos e não conseguiam se levantar. Arrastaram-se, chorando de dor, deixando as costuras de suas barrigas arrastarem dolorosamente no chão das terras de Gaia. Concórdia pediu a Júpiter piedade e que os matasse, mas Júpiter não aceitou o pedido da Deusa. Por tudo o que havia passado em Gaia, ele sabia que os homens iam prosperar. Confiava que eles eram fortes. Foi no momento em que ele viu lá do alto uma cena emocionante: todos eles se abraçando, chorando, sofrendo, tentando se completar...

Júpiter sabia que aquelas criaturas jamais se sentiram completas de novo e estavam condenadas a vagar por Gaia eternamente, procurando por suas metades. Com o tempo, os Deuses do Olimpo perceberam que os humanos não estavam mais os reverenciando e fizeram reclamações com Júpiter. Ele, por sua vez, sabido de que os homens haviam perdido a memória, resolveu condenar Juno por seu crime: ela teria que ensinar aos homens tudo sobre os Deuses, tornando-a uma sacerdotisa em meio daqueles que ela odiava.

Ao contrário do que aconteceu com Júpiter, Juno não foi bem recebida entre os homens. Eles gritavam e sentiam as dores das feridas em suas barrigas apenas com a aproximação da Deusa. Irritado, Júpiter ordenou que Pluto levasse Juno acorrentada até ele, para que desse suas explicações por ter falhado em seu castigo.

Quando Juno se encontrou com Júpiter novamente, sua felicidade extrema era visível. Júpiter, entretanto, se demonstrou impassível e pediu explicações. Juno não sabia explicar o que tinha acontecido, não sabia porque os humanos não gostavam dela e pediu perdão, dizendo que Pluto havia se aproveitado da ira de Juno para persuadi-la a destruir a criação de Júpiter, da qual Pluto tinha inveja. Júpiter se lembrou que estava cansado das brigas de ego entre os Deuses, todas infundadas, por isso mesmo criara os seres humanos: um modo de distração parcialmente controlável para se livrar da convivência com os caprichos dos Deuses. Entretanto, agora havia perdido o controle sobre os seres humanos, bem como sobre os Deuses, devido à sua grande ausência.

Júpiter perdoou Juno e condenou Pluto a cuidar do submundo pela eternidade, pois algo era necessário se fazer pela alma daqueles humanos que, vez ou outra, morriam devido à incompletude. Destarte, Pluto foi trancafiado no subsolo de Gaia e proibido de visitar o Olimpo, enquanto Juno foi recebida e reergueu-se novamente aos céus.

- Assim, a paz foi restaurada no Olimpo e todos os Deuses, de tempos em tempos, até hoje descem à Gaia para ensinar sacerdotes, aplicar testes de fé aos homens e, por vezes, compartilhar conosco um bom vinho, especialmente o Deus Baco - disse o sacerdote em frente a um grupo seleto de crianças nobres da pólis. O ajudante do professor, sacerdote de Baco, tentou esconder o rosto insatisfeito com o comentário sobre Baco.

Um sino foi ouvido ao fundo, anunciando o final das aulas das crianças. Com suas pequenas togas, elas pegaram seus pequenos livros e levantaram dos balcões da sala de aula, que era um protótipo do Senado: degraus subindo de baixo para cima, como a quarta parte de um coliseu.

Uma garota de toga rosada e sorriso maroto ajeitou os cabelos negros ondulados para trás e olhou para um de seus amigos.

- O que você achou da aula de hoje, Claudius? – ela perguntou, com a voz doce. Os pés pequenos subiam e desciam em pedras irregulares da calçada do lado de fora da sala de aula, ainda dentro do grande pátio do Centro de Estudos.

- Uma bobagem danada. Todos sabemos que os Deuses não existem, Camila – disse Claudius, o rosto infantil cheio do ceticismo adulto.

- Diga isso ao sacerdote e ele lhe corta a língua – Camila sorriu e deu um giro enquanto saltava de um paralelepípedo ao outro.

- E o que você achou? – disse o garoto de olhos claros e cabelo castanho, liso, brilhando ao bater do sol do meio dia, rindo-se.

- Eu acredito nos Deuses. Não há como explicar o surgimento de Gaia. É algo sobrenatural, com certeza – ela sorriu e desceu da calçada para o pátio da escola. – Você vai para casa?

- Não. Preciso passar na biblioteca – disse o garoto, sério.

- Tudo bem. Depois nos vemos, ok? – disse Camila, dando um cocão na cabeça de Claudius e rindo, saindo correndo, o garoto ao seu encalço.

Os dois continuaram em sua perseguição, como gato e rato, demonstrando suas habilidades físicas. Passaram pelos corredores apertados da escola, um por um, até que deram a volta completa pelo prédio, passando perto da ala da diretoria. Os risos ecoavam nas paredes e a brincadeira era mansa, pacífica, leve e divertida.

Apesar de ter apenas dez anos, Claudius já mostrava maestria nos movimentos com pés, enquanto a sapeca Camila tinha habilidades de se misturar aos outros alunos e se esgueirar por colunas e pilastras, deixando Claudius confuso, quando finalmente viraram à direita e os dois bateram de frente com uma figura medonha: o diretor do Centro Educacional.

- Já falei para não correrem por aí, onde estão seus modos? – disse, irritado. – Crianças! – exclamou, ao mesmo tempo em que girou sua toga branca com raiva, dando as costas para as crianças, seguindo seu caminho.

- Não podemos desapontar o diretor – disse Claudius, rindo.

- Sim, ainda mais com essa costela dura que ele tem – riu Camila, com o rosto um pouco vermelho, passando a mão onde havia batido nas costelas dele.

O diretor seguiu adentro pelos corredores de pedra da escola, irritadíssimo. Não estava com tempo para crianças agora. Aliás, se não fosse por uma troca de favores no qual estava envolvido, nunca seria diretor daquele Centro Educacional, ou de Centro Educacional qualquer. Agora havia coisas mais importantes para serem resolvidas na pólis.

Seu nome era Damião Domenicus, senador, filósofo, notável da pólis de Athia e, infelizmente, diretor do Centro Educacional Rubis Domenicus. Sua "família" estava na direção da escola por décadas a fio e ele não podia deixar de seguir os passos de seus ancestrais. Por algum tempo, escravos foram diretores, mas as crianças das nobres famílias recusavam-se a obedecê-los. Assim, em troca por uma vaga no Senado, Damião aceitou se tornar diretor após um escravo da família Rubis tê-lo sido. Isto foi motivo de chacota nos primeiros anos e todas as paredes de Athia foram pichadas com figuras anedóticas acerca do assunto. Após, outras pichações de fatos e atos reprováveis da elite foram sendo feitas por cima e a vergonha de Damião foi sendo esquecida aos poucos. Pelo menos pelo povo.

Damião tirou da toga sua “costela”, ou pelo menos o que Camila pensara ser uma costela onde enfiara o rosto no baque com o diretor. Na realidade, era um tomo bem grosso. O diretor o estendeu para o lado, largando-o. Escutou o tomo cair no chão e ficou parado, nem mesmo se deu ao trabalho de olhar para o livro caído no chão.

- O que houve? – disse ele, carrancudo, para um de seus escravos, que o seguia desde que se entendia por gente. – Se não sabe me ajudar, pode cortar seus próprios pulsos ou... Gioacchino Rubis! – ele exclamou, fingindo estar feliz quando viu um outro senador vindo em sua direção pelos corredores da escola. Nênio, o escravo do diretor, apressou-se e pegou o tomo no chão, com medo das chibatadas que poderia levar à noite por não ter sido rápido o suficiente e adivinhado que seu senhor precisava que carregassem o livro para ele, deveria ter pego o livro antes que caísse no chão. Sempre de olhos baixos, Nênio obedecia Damião. O medo, entre outros instrumentos, açoitando-lhe a alma.

- Grande senador, Damião! – cumprimentou Gioacchino, cheio de pompas. Sua toga bege com detalhes de fios de ouro lhe davam um ar especialíssimo. Estava sendo seguido por dois escravos.

A família Rubis era uma das famílias que havia doado para a pólis aquele Centro Educacional, entretanto, nenhuma delas queria cuidar da escola.

- Senador Gioacchino – Damião fez uma reverência equivalente. – O que o traz por estas bandas? A escola está já quase encerrando as atividades por hoje.

- Vim visitar a biblioteca. Preciso de alguns livros específicos. Nada de muito interessante. É para o professor de minha filha.

- E como vai Gioacchina?

- Crescendo, uma beleza estrondosa. Puxou a mãe.

De fato, Gioacchina Rubis era a moça mais bela da cidade, exceto, talvez, por sua mãe, Márcia, filha de Március De Luca, um famoso senador, jurista e notável da pólis. O dote de Márcia fora milionário, não só pela importância política da associação das famílias De Luca e Rubis, mas também por sua beleza memorável. Cabelos claros, olhos azuis como as águas do Rio Acima e corpo torneado como um belo vaso de barro. Parecia ter sido modelada pelas mãos da própria Deusa Juno.

- Certo. Preciso ir a uma reunião na casa de banhos particular do cônsul – disse Damião, cheio de pompas, se sentindo importantíssimo.

- E que assuntos tratará com o cônsul Petrônio? – se referiu a Petrônio, pois sabia que ele era o cônsul que tinha uma casa de banhos particular. O outro cônsul, Américo, por sua vez, gostava de frequentar os banhos públicos.

- Assuntos particulares - respondeu Damião. - Nada de muita importância.

- Hum... Sei... Não se trataria do casamento de Damiana com Petrônio I?

- Hahaha, como adivinhou? - mentiu Damião.

- Eu tenho meus contatos - Gioaccchino respondeu numa aposta rasa para descobrir o que Damião tinha a dizer para Petrônio, mas não fazia nem ideia do que se tratava o assunto. - Espero que seja um casamento estrondoso.

- Eu também. Nos vemos depois, Gioacchino. Aproveite a biblioteca! Sabes o caminho?

- Como se eu fosse um impúbere! - disse, referindo-se à época em que estudara no Centro de Ensino.

- Até breve!

- Até breve! Que Júpiter guie seus passos!

- Os seus também! - respondeu Damião, que saiu da escola, indo diretamente para a casa do cônsul.

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- Papai - disse Camila, muito feliz. - Preciso sair. Me dê permissão?

- Mas já? - disse Camilo Santoro, pater familias de uma grande e respeitável família de notáveis de Athia. - Mal comeu.

Estavam todos sentados à volta de uma mesa redonda do mais fino mármore existente por aquelas bandas. Camilo, Fidélia e Camila, a família dos notáveis Santoro, almoçando juntos. Era uma casa grande e respeitável, com uma decoração típica: flores naturais por dentro da casa em jarros de barro coloridos, divãs espalhados pela sala em formatos de "U" para que se melhor conversasse e aproveitasse o tempo livre. No saguão, havia grandes mesas para recepção dos clientes no café da manhã que a família sempre oferecia ao povo, além de muitas obras de arte finíssimas, em sua maioria de Deuses.

- Já estou satisfeita, papai - respondeu Camila, chamando uma escrava para retirar seu prato, a qual, desde já, o fez. - Preciso visitar uma pessoa.

- E quem seria essa pessoa? - disse o pai. - Você é muito pequena para ficar andando pela cidade sozinha.

- Não tem problema papai, irei ao cemitério.

- Dentro de nossas propriedades, querida, não precisa me avisar onde vai. Vai ofertar algo a nossos ancestrais?

- Não, papai. Ao cemitério público, na margem sul da cidade.

- O quê!?

- Deixe-a ir - disse Fidélia, sorrindo. - Ela sempre vai lá acalentar o coração de uma jovem professora que recentemente perdeu o marido na guerra de Pantinus.

- Oh... Tudo bem. Mas volte cedo para casa. Não quero que digam que minha filha é uma menina que anda pelas noites - definiu Camilo.

- Obrigada papai! - ela levantou e o abraçou. - Ande, Zuppa. Vamos!

A escrava com pele de marfim e cabelos cacheados fez uma reverência e seguiu Camila até a porta da casa, abrindo-a para a menina passar.

- Essa Camila, um dia ainda vai me matar do coração - disse Camilo.

- Pelo menos ela está fazendo uma caridade, pelo nome Santoro - disse Fidélia -, isso aumenta nosso status e nosso nome percorrerá entre os notáveis como o fogo sobre um fio de pólvora.

Camilo finalmente sentiu-se à vontade para acariciar os cabelos ondulados e negros da esposa, que a filha herdara.

- Estás com seu melhor perfume, minha dama - disse.

- Almíscar para você, meu senhor - respondeu, em tom de flerte.

Os outros dois escravos começaram a retirar a mesa do almoço enquanto Camilo e Fidélia trocavam beijos quentes no meio do dia.

- Pare, Camilo. Não quero que pensem que sou uma mulher da vida, que faz as coisas no meio do dia...

Camilo, com aqueles olhos castanhos e o cabelo preto como carvão, era simplesmente muito charmoso para Fidélia resistir. Ali, no meio da mesa de mármore, enquanto os escravos retiravam o restante do almoço, Camilo abriu as vestes de Fidélia, revelando um corpo escultural.

- Estamos a sós... Ninguém saberá - disse, e começou a beijar-lhe os seios ardentemente como se nenhum escravo estivesse ali.

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- Você sabe que está muito recente, Julius. Pare de me importunar - disse uma dama, inteiramente vestida de preto, usando uma capa com capuz, o que escondia a beleza de seus cabelos castanhos e olhos de igual cor.

A dama estava em frente à uma lápide, onde se lia o nome de Marcus, a data da morte e o epitáfio:

"Fui artesão, um dos bons. Possivelmente em suas casas há um pouco de mim, e em mim há um pouco de ti. Trate bem do meu legado e boa viagem."

- A guerra acabou já faz seis meses. Você ainda vem aqui todos os dias, no mesmo horário, chora a mesma quantidade de lágrimas e depois vai fazer sabe-se lá o quê - disse Julius, impaciente. Ele fumava uma folha de parreira seca enrolada com fumo, sentado em cima de uma lápide tão casualmente que parecia até desrespeitoso. Os olhos claros do rapaz fitavam a dama de negro e os dedos passaram por entre os cabelos vermelhos como fogo. Se tratava de Julius Rubis, o filho mais novo da família Rubis, notáveis de Athia, primo da mulher mais cobiçada da cidade, Gioacchina. - Você já sabe que seu período de luto acabou. Case-se comigo, mulher!

- Não, Julius. Meu luto por Marcus será eterno. Fui mulher só dele.

- Ah, e o que você vai fazer quando os seus fundos acabarem? Vai ser mulher do mundo como todas as outras dos prostíbulos e então estará perdida, pois não mais a desejarei.

- Você me deseja desde pequeno, Julius - ela ergueu o olhar para ele. - E prefiro me matar do que virar uma mulher da vida.

- Hades e Pluto vão recebê-la direto no inferno, com muito prazer, se tirar sua própria vida. Você acha mesmo que Marcus gostaria de vê-la no estado em que está!? Magra, mal cuidada, só chora o dia todo presa em casa, em meio ao artesanato que ele lhe legou. E quando acabarem os fundos e vender todos os materiais, obras e ferramentas de Marcus, você acha que vai conseguir sobreviver? Case-se comigo, mulher! - repetiu.

- Não. Julius, por favor, me deixe em paz, antes que eu comece a falar umas verdades para você - disse a dama de preto.

Julius se ajoelhou ao lado dela e tentou pegar sua mão. A mulher desvencilhou-se.

- Você sabe que eu preciso arrumar uma esposa. Já passei da idade.

- Procure uma nos prostíbulos, talvez alguma lhe agrade, já que é lá que você supõe que vou parar - respondeu, ríspida. - Estou tentando me concentrar, se puder me dar licença...

- Você quem sabe, Virgília. Depois não venha chorando até mim implorando por um casamento - ralhou Julius, aparentemente perdendo a paciência e adentrando pela cidade.

"Fui artesão, um dos bons. Possivelmente em suas casas há um pouco de mim, e em mim há um pouco de ti. Trate bem do meu legado e boa viagem." - Virgília releu o epitáfio. Então uma doce voz infantil lhe penetrou nos ouvidos. Era Camila Santoro, que lhe visitava sempre a tentar lhe alegrar.

- Olá, Sra. Virgília - disse Camila, feliz. - Trouxe maçãs para a senhora. Escolhi as melhores da feira... Está se alimentando muito mal! - Camila fez um sinal para que sua escrava entregasse as frutas à Virgília, que aceitou por educação e, também, por necessidade.

- Muito obrigada, Srta. Santoro. Olá, Zuppa - cumprimentou a escrava, que apenas assentiu com a cabeça, manteve-se calada.

- Já disse que pode me chamar de Camila - ela ri. - Podemos?

- Sim.

Ficaram uma de frente para a outra. Deram as mãos e as de Camila sempre aqueciam as de Virgília no momento de profunda tristeza. Falaram juntas:

- Marcus, siga a trilha de Júpiter aos céus. Marcus, siga a trilha de Juno aos céus. Marcus, sê recebido bem pelos Deuses. Marcus, siga a trilha de Júpiter aos céus. Marcus, siga a trilha de Juno aos céus. Marcus, sê recebido bem pelos Deuses...

Ficaram um bom tempo repetindo aquilo enquanto viajantes, camponeses e notáveis passavam de um lado para o outro, entrando e saindo da cidade, alguns às vezes lendo uma lápide ou outra por diversão, como era costume fazê-lo, mas as duas estavam ali, paradas, de mãos dadas, olhos fechados, orando pela trágica morte de Marcus.

Pantinus e Athia sempre foram regiões que não se davam bem, politicamente falando. Os doze de Pantinus não concordavam com uma palavra sequer dos duzentos Senadores de Athia e sempre estavam guerreando, seja por território, por colheita, por serem maioria ou minoria, sempre havia um motivo legitimamente estúpido para colocar os homens em pé de guerra e as mulheres à chorar em frente a um grande número de lápides. Geralmente Athia vencia as guerras contra Pantinus, mas logo naquela guerra, perdida por um pedaço de terra nos confins das fronteiras entre as duas regiões, Athia havia perdido a batalha e, todos os homens, morrido em campo. Mas a derrota era óbvia... Aqueles homens não eram soldados de Athia. Eram camponeses que mal sabiam manear uma espada. A guerra durara tanto tempo que as forças militares de Athia haviam se esgotado e mandaram qualquer homem da pólis que tinha idade suficiente para brandir uma arma e servir ao exército.

Virgília sequer vira o corpo morto do finado marido. Fora um massacre completo e os soldados de Pantinus, sedentos por sangue, atearam fogo nos corpos mortos dos soldados de Athia, quão potente era o ódio e a rivalidade entre eles. Athia não pôde sequer recolher os corpos de seus soldados. Então, Virgília chorava sobre um caixão vazio, pela única memória do marido que havia ali: o epitáfio que, em testamento, mandara escrever. Deixara a casa para a esposa juntamente a todos os seus pertences e ferramentas, mas os recursos de Virgília estavam se esgotando e ela sabia disso. Havia ainda cerca de 40 conjuntos de barro para serem vendidos, mas ela não era boa vendedora e eles estavam começando a ficar desgastados pelo tempo. As ferramentas não lhe renderiam muito e, se vendesse a casa, teria que voltar para a velha casa de seus pais em Pantinus, sua terra natal, que engolira o corpo de seu marido em chamas.

Pela primeira vez, lágrimas rolaram sobre o rosto de Virgília após as orações com Camila, que via de regra acalentavam o coração da viúva.

- Sabe porque venho aqui todos os dias, Sra. Virgília? - disse Camila, secando as lágrimas da mulher após as orações. - Porque eu gostava de você quando você era minha professora. Você estava em seu melhor tempo, viçosa, bela... E agora, você está um pequenino caco de vidro caído na entrada da cidade...

Virgília não respondeu, apenas terminou de secar suas lágrimas e leu o epitáfio novamente.

- Hoje quero lhe fazer uma proposta. Quero que seja minha tutora.

Os olhos de Virgília arregalaram-se. Ser tutora de um membro da família dos notáveis Santoro era algo de muita responsabilidade.

- Tudo o que sei já lhe ensinei, pequena Camila.

- Não. Eu sei que a senhora é um poço de conhecimento. Por favor, deixe-me beber de sua fonte. Acompanhe-me à minha casa hoje à noite. Haverá uma festa, meu pai receberá muitos de seus clientes e ele não poderá recusar meu pedido para que seja minha tutora.

- Não sei, Srta. Santoro. Não posso aceitar tal oferta. Não seria de bom tom.

- De pior tom seria recusá-la! Por favor, professora Virgília. Lhe peço. Inclusive, você terá garantido sempre seu momento diário de vir até aqui. Aceite meu convite, pelo menos para a festa.

A professora ponderou um pouco e, por fim, disse:

- Sim, então eu vou. Mas não sei se tenho roupas adequadas...

- Eu sei que a senhora tem. Esse chato desse Julius lhe presenteia todos os dias faz duas semanas - disse Camila, olhando um pacote em cima de uma lápide. Era um pacote deixado por Julius. - Eu o vi escolhendo o tecido hoje antes de ir pra aula. É uma maravilha, você devia pegá-lo.

- Certo... - Virgília deu um leve sorriso. Afinal, ela não tinha muitas opções agora. Não poderia comer maçãs levadas por sua aluna o resto da vida, ou comer as refeições servidas pelos notáveis para sempre, o que era sua alimentação fazia algum tempo.

- Então, nos vemos lá - disse Camila, sorrindo. Partiu com sua escrava, como se ela nem estivesse ali. Deu as costas e se enfiou cidade adentro.

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Na mansão do cônsul Petrônio, tudo estava harmoniosamente belo. O prédio tinha esculturas de Deuses por todos os lados, arcos magníficos e colunatas com capitel de ábaco e équino, lisos. Nas paredes, imagens dos mesmos Deuses. A partir de um enorme frontão, o jardim estava completamente florido pela primavera que chegara mais cedo e os escravos trabalhavam incessantemente. A mansão tinha pé direito duplo e, aos fundos, um enorme salão de banho particular, no qual o cônsul se banhava e recebia seus convidados mais íntimos.

Damião chegou após o horário do almoço, antes de qualquer cliente do cônsul. Parado na porta, foi recebido por um escravo muito bem vestido, que logo lhe ofereceu um vinho de ótima qualidade e um assento ao lado de uma fina dama. Era a esposa do cônsul, Patrícia De Rossi, cujos olhos negros transmitiam uma calma sem igual. O aposento era ricamente adornado e pintado de cores vibrantes. Uma fenda quadrada no teto assegurava a entrada de luz, sendo que o feixe refletia as águas da fonte decorativa que havia ali no meio.

- Sê muito bem vindo, Sr. Senador e Diretor - dissse a dama.

- Agradeço. Tua beleza continua encantadora ao meu olhar - respondeu Damião.

- Oh, não fale assim. Com certeza, só aos seus olhos. Está com a encomenda? - disse a mulher, indo direto ao assunto, mas com um belo sorriso na face e a voz aveludada.

- Sim, estou. Poderei ver o cônsul pessoalmente?

- Mas é claro. Aguarde alguns instantes que ele lhe encontrará na sala de banhos.

- Tudo bem.

- E como vão as crianças? - perguntou sobre Damiana e Damião I e II.

- Crescendo fortes e com muito viço, graças aos Deuses.

- Que os Deuses continuem os abençoando. Com sua licença...

A mulher, trajada dos mais finos tecidos existentes em toda Athia, deslizou calmamente pelo salão com seus cabelos negros encaracolados presos para o alto. Adentrou em outro recinto e, em poucos momentos, retornou.

- O Cônsul o aguarda no salão de banhos. Por favor, siga-me...

Após seguir a ninfa, Damião adentrou em um grande salão maravilhoso onde sentiu logo o cheiro de eucalipto e alecrim por todo o ambiente. A cúpula de vitral era decorada por belas ninfas e Deusas, que faziam combinação com as largas colunas que sustentavam o peso da arquitetura rebuscada das paredes e teto. O chão de mármore era levemente molhado pelo vapor do local.

- Com licença - disse Patrícia, e saiu.

Damião tirou os calçados e adentrou na sala de banhos, maravilhado com aquilo. Era o mais belo local que havia visitado em toda sua vida. Até mesmo os templos dos Deuses não possuíam aquela beleza, especialmente pelo motivo da liberdade que havia ali dentro, do contrário dos templos, onde devia-se manter a postura, a compostura e o silêncio. Em poucos minutos o cônsul apareceu, nu, os cabelos longos castanhos e encaracolados levemente molhados, os olhos negros como os da esposa, a barriga gorda à mostra.

- Que se passa? Ainda não tirou suas vestes para nosso banho?

- Cônsul Petrônio, é um prazer revê-lo. Infelizmente não poderei ficar para o banho, o objeto que trago comigo não pode ter contato com vapor ou água.

- Oh, ele não estraga assim tão fácil, tenha certeza disso. De toda forma, deixe-o ali naquele guarda-roupas. Vamos, venha, tome um banho comigo. Esteja à vontade. O aguardarei dentro d'água.

Com uma certa dificuldade, Damião colocou o tomo vermelho no guarda-roupas e dependurou suas vestes para tomar o banho. Adiantou-se, pois sabia que Petrônio era muito volúvel e poderia tratá-lo mal a qualquer instante por ter demorado. Os pés de Damião nunca tinham tocado em uma água tão deliciosamente quente num banho. Talvez fosse porque a água não era resfriada por tanta gente se sacudindo dentro dela, havia somente ele e o cônsul ali.

- Esta água está com uma temperatura maravilhosa - comentou Damião, casualmente.

O cônsul sorriu, satisfeito com o elogio.

- Pois sente-se ao meu lado, para que possamos conversar.

Damião obedeceu ao cônsul e sentou-se ao lado dele. Deixou os braços apoiarem-se na beirada da piscina de banho e olhou para a cúpula no teto. Juno, em vitral colorido, olhava diretamente para eles.

- Percebo que vês quem nos vê. Este é meu ponto favorito das águas - disse Petrônio.

- Juno.

- Acredita mesmo nos Deuses, Senador?

- Oh, sim, senhor Cônsul. Piamente. Ou Gaia não existiria.

- Nem Pantinus.

- Nem Athia.

- Nem os banhos.

Riram. Um escravo estava lhes servindo vinho para bebericarem enquanto conversavam.

- O que achaste deste vinho? - perguntou o cônsul.

- Uma maravilha, de muitíssimo bom gosto - respondeu o senador.

- Acredita que foi comprado na feira sulista!?

- Não acreditaria se não fosse o próprio senhor que o dissesse!

Brindaram.

- À Juno - falaram juntos.

Sorveram o líquido enquanto apreciavam a beleza do local, a arquitetura rebuscada, as obras de arte, a cerâmica branca nas paredes, enquanto seus corpos nus relaxavam na água quente.

- Sabe, cônsul. Não sei qual a urgência em pegar aquele tomo velho.

Petrônio fez um rosto sério e olhou profundamente para Damião. Tão profundamente que pareceu provocativamente romântico.

- Naquele tomo eis o segredo da vida. Naquele tomo, Damião, dorme algo que está próximo a despertar neste mundo. Inicialmente pensamos que este livro estivesse à salvo na biblioteca do Centro Escolar, afinal nenhuma criança se interessaria por um livro tão grosso e pesado.

Era verdade. O livro era gigantesco, possuía mais páginas do que podiam ser enumeradas de uma só vez e era quadrado, de difícil manuseio. Vermelho, aveludado, com uma concha marinha em baixo relevo na capa. Nenhuma criança em sã consciência abriria tal tomo. Nem mesmo algum professor, tão velho e desinteressante era aquele livro embolorado.

- Entretanto, descobriram o esconderijo dele e querem utilizá-lo. Precisamos de um local mais adequado.

- Quem descobriu?

- Os Marconi.

- E o que querem fazer com tal livro? Eu o abri por curiosidade e percebi que não está escrito em nossa língua.

- Não sei, parece que encontraram um tradutor. Onde o livro estava?

- No lugar de sempre, nas prateleiras mais altas.

- Ótimo. Meu mandato de cônsul está para acabar, Damião, e eu gostaria de lhe propor um acordo.

- Pois, diga-me, cônsul.

- Senador: tornar-se-á cônsul em meu lugar e terá que tomar conta do tomo vermelho.

- Não lançarei candidatura a tal ocupação, senhor cônsul. Não me acho digno.

- Não diga bobagens. Será lançada depois de amanhã, na assembleia de quarta-feira. Já consta em minha pauta e terá meu apoio.

- Mas, senhor, eu não poderei deixar a direção da escola. É algo muito importante para mim - mentiu Damião. Odiava ser diretor daquele maldito centro de crianças malucas.

- Ordene que seu primogênito trate da escola, fale com ele ainda esta noite, para que se prepare.

- Os primogênitos dos Domenicus nascem preparados para isso, senhor cônsul.

- Ótimo. Muitos pensam que desejo me reeleger, mas não aguento mais os acessos de loucura de Américo. Ele sabe do tomo vermelho e agora quer tê-lo de todo jeito. Ele pensará que o tomo está comigo, mas na realidade estará com você, Damião. Você será o guardião do tomo e, em troca, tornar-se-á cônsul com meu apoio. Você sabe que mais de cento e oitenta senadores estão ao meu favor.

O certo seria dizer "a meu favor" do que "ao meu favor". Desta forma que Petrônio dissera, isso significava que haveria muitas trocas de favores para que isso acontecesse.

- E porque esta súbita confiança em mim, senhor cônsul?

- Porque és o homem mais forte que conheço. Nem que seja à força, sei que manterá o tomo vermelho em segurança.

- E porque não queimamos essa desgraça? - sugeriu.

- Ele não pega fogo, não se derrete n'água, não pode ser destruído ou rasgado. Há apenas uma folha que parece que foi cortada com uma espada muito afiada. Trata-se da pura magia dos Deuses nos quais acreditamos, Damião.

- Qual é a página faltante? - disse Damião, que não sabia as dimensões da importância daquilo e nem ao menos abrira toda aquela porcaria: apenas as primeiras páginas.

- A última. Recortaram uma imagem, como se fosse uma espécie de pintura, ficando apenas a moldura de papel. Meu escriba fez uma cópia da frase que seguia-se debaixo da imagem que foi retirada da folha e nenhum tradutor que conheço sequer conseguiu padronizar a escrita. Alguns classificaram apenas como desenhos sem um sentido lógico, não parecia uma frase, mas quando você olha para aquelas linhas no papiro, você sabe que tem algo escrito ali. E o pior de tudo, é que você sente que é algo definitivo. Você sente as palavras entrarem na sua mente e você as reconhece como verdade, porém não entende. Se tiver a curiosidade e tempo, dê uma olhada na última página do tomo.

Petrônio se levantou e rapidamente um de seus escravos o adornou com um tecido macio, uma espécie de toalha, mas que ao mesmo tempo era uma toga.

- Aliás, soube que Petrônia e Damião I estão se encontrando frequentemente em meus jardins. Inclusive alguns arbustos já estão ficando altos demais para que eu veja o que eles andam fazendo. Estão se aproximando.

- Meu filho é muito respeitoso, senhor cônsul - disse Damião, se levantando, e rapidamente outro escravo o envolveu na mesma espécie de toalha de Petrônio.

- Sim, tenho medo é de Petrônia, aquela menina nunca foi bem ajustada - ele riu.

Damião apenas sorriu, desajeitado. Pegou o vinho que o escravo lhe servira e tomou o último gole. Era de excelente safra.

- Faço muito gosto da união dos dois. Aproveite e converse com ele sobre um possível casamento. Isso fará com que sua eleição seja mais certa que a estrela de Júpiter nos céus.

- Sim, posso prometê-lo à Petrônia.

- Então estamos conversados. Nos vemos no fórum.

- Até breve.

- Até breve - disse Petrônio.

Damião mal podia se conter de tanta felicidade. Vestiu-se o mais rápido possível, pegou o tomo vermelho e passou direto por todos os escravos, abrindo ele mesmo as portas para sair da mansão de Petrônio. Entrou em sua biga e chicoteou os cavalos, seguindo para casa.

Continua...

Priscilla Tôrres

Para meus pais e para F. G. Card, por acreditar em mim e me proporcionar uma luz em meio a toda essa escuridão pela qual estamos passando.

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