5 - Um novo lugar

Abri meus olhos vagarosamente, sentindo uma enorme vertigem e a sensação de que tudo estava turvo. Meu corpo ainda doia, mas mesmo assim me forcei a sentar na cama e tentar identificar aonde eu estava. 

Eu me lembrava parcialmente do que havia acontecido na mansão do Duque, mas não sabia ao certo de que maneira a situação havia terminado. 

Já sentada na cama, pude dar uma boa olhada ao meu redor e notei que estava em um quarto muito luxuoso. Além da cama ser extremamente macia e confortável, havia também uma grande lareira no quarto que mantinha o lugar aquecido e agradável. Direcionei meus olhos até meu corpo e percebi que eu estava mais machucada do que imaginava. Eu já não estava mais com o vestido de Kiara, agora, eu estava coberta por um leve vestido amarelo. Fiquei imediatamente preocupada sobre quem teria trocado minhas roupas. 

Nesse mesmo instante, ouvi uma leve batida na porta e logo em seguida alguém entrou. Uma mulher. Isso me tranquilizou, eu sempre preferi ter encontros desagradáveis com mulheres. Homens são sempre covardes e sujos. Não se pode confiar neles. O Duque era um ótimo exemplo. 

A mulher veio caminhando pacificamente em minha direção. Tinha uma aparência totalmente anormal, mas anormal no bom sentido. Diferente de tudo que eu já havia visto. Seu rosto, iluminado pelas chamas amareladas da lareira era delicado e bonito, com olhos estreitos e bem desenhados, seu queixo levemente contornado e um pescoço ligeiramente largo, mas de uma forma elegante. Seu corpo coberto por um vestido branco com alguns detalhes em um couro preto. Porém, o mais estranho era o cabelo extremamente branco. Você não conseguiria se enganar achando que ele era amarelado, era um branco brilhante e vívido e não parecia nenhum pouco afetado pela cor das chamas. 

- Vejo que já acordou, isso é bom, a maioria não sobreviveria ao que você passou. - Disse com uma voz aveludada e gentil.

- Bom, eu não sou a maioria. - Respondi um pouco baixo. 

- Mas se meu mestre tivesse chegado apenas um pouco mais tarde você estaria morta. - Me encarou séria. 

- Seu mestre? - Perguntei confusa, até me lembrar da outra voz que havia aparecido nos meus últimos momentos de consciência. - Está falando daquele homem?

- Daquele homem? - Olhou para mim incrédula. - Você quer dizer o seu noivo?

- Noivo? - Quase gritei. 

- Ora, foi uma enorme surpresa quando a carruagem trazendo a garota que meu mestre tanto esperava, trouxe, no entanto, a pessoa errada. - Pensou um pouco. - Kiara? Acho que este era o nome.

- Kiara? - Me surpreendi. - Como ela está? 

- Não se preocupe, assim que explicou toda a situação, ela foi mandada de volta pra sua casa. - Pegou um pano em uma cômoda próxima a lareira, mergulhou em uma bacia de água e veio em minha direção. 

Ela sentou-se ao meu lado na cama, pegou minha mão, onde havia um enorme corte e começou a limpar o ferimento com delicadeza. 

- Então o homem que me salvou é meu noivo? - Perguntei curiosa, pois jamais havia visto ou ouvido nada sobre ele. 

- Ora, querida. Está aqui e nem ao menos sabe isso? Sua família não lhe contou? - Me encarou de uma forma divertida. Ela era bonita, mas sua aura era amedrontadora. 

- Minha familia? - Perguntei um pouco receosa. A única coisa que mamãe fazia, além de me tratar como escrava, era me tratar como um animal. Logo, não falava muito comigo. Ao contrário da minha irmã, Ângela, que era tratada como uma rainha, não só por mamãe e papai, mas pela maioria das pessoas em Dandelion.

- O que quer dizer, querida? Você é Ângela, certo? - Um gosto ruim tomou conta da minha boca e eu realmente quis vomitar. 

- Ângela é minha irmã, eu sou Alyssa. - A mulher pareceu ainda mais surpreendida do que eu, mas logo se recompôs.

- Ora, parece que depois de séculos começamos a cometer erros. Que engraçado. - Ela dizia, mais para si mesma do que para mim. Entretanto, ela não parecia realmente achar aquilo engraçado. Na verdade, ela parecia ter sido tomada por uma raiva repentina.

Ela então virou-se de uma maneira brusca, fazendo o longo vestido rodopiar junto com o movimento de seu quadril.

- Me acompanhe, querida. 

Eu a segui pelo enorme corredor mesmo ainda não estando totalmente recuperada. Ela me guiava pelos corredores e sempre olhava para trás para ver se ainda estava lhe acompanhando, mas devo dizer que eu conseguiria seguir ela apenas olhando para seu cabelo. 

Era quase impossível decorar o caminho. Todas as bifurcações eram extremamente parecidas, as paredes eram sempre as mesmas, ao menos para mim. Parecia que estávamos andando em círculos e isso continuou pelo menos umas oito vezes até o corredor subitamentente mudar.

O chão meio rústico foi magicamente substituído por um piso avermelhado e liso e paredes de uma cor esbranquiçada. Alguns quadros começaram a aparecer ao longo do caminho, todos com figuras caricatas e irreconhecíveis por mim.

Saindo do corredor demos de cara com uma ampla sala com uma escada no centro. A sala cheia de móveis e sofás aveludados. Um lustre gigante de velas caia elegantemente sobre o centro e nos deu a iluminação necessária. A mulher então virou-se para mim. 

- Aguarde aqui, por favor. 

Disse apenas isso é se pôs em direção às escadas, subindo rapidamente por elas com seu cabelo quase dançando com seus movimentos.

A sala era muito iluminada, uma iluminação branca e agradável. 

Caminhei até o lado esquerdo da sala, aonde havia um grande espelho apoiado a um móvel. Parecia uma penteadeira gigante, não por ser alta, mas por ser larga. Me encarei no espelho e tive certeza de que a minha aparência não combinava com aquele lugar, pois, enfim, pude prestar atenção na minha real condição. Se eu achava que meus braços e pernas estavam deploráveis e porque ainda não tinha visto o estado do meu rosto. 

Meu rosto estava com vários cortes e arranhões e meu cabelo descia horrivelmente até meu ombro - ainda não sei porque resolvi corta-lo sozinha. - meus olhos estavam com olheiras e pareciam quebrados, cheios de pequenas veias vermelhas rachando a parte branca. 

Desistindo de achar algum ponto positivo na minha aparência, resolvi me sentar, mas logo mudei de idéia. Queria estar preparada para caso precisasse fugir novamente e estar sentada me distraindo com a beleza do lugar só me deixava ainda mais vulnerável.

Tirei um breve momento para pensar em que tipo de coisa Ângela e mamãe estariam metidas ou no porquê de eles terem me confundido com ela. 

Eu estava realmente confusa até me lembrar das últimas palavras que ouvi de Ângela. 

Como se sente assumindo um destino que não é seu? 

Me senti uma verdadeira idiota por não ter percebido antecipadamente o que aquelas duas estavam planejando. Eu deveria ter suspeitado assim que vi o quão feliz elas estavam. Mas já é tarde, eu já estou aqui e aquelas pessoas já estão se sentido enganadas. 

Eu deveria estar decepcionada ou até mesmo triste por saber que eu havia sido a filha escolhida para enfrentar o desconhecido. Quer dizer, minha mãe jamais se conformou com a ideia de que Ângela teria que se casar com um desconhecido. O risco de ser um pobre coitado sem nenhuma posse era enorme e pra piorar tudo, eu, o demonio da família, teria que me casar com um dos supostos candidatos ao trono. Era um desastre para a minha mãe e a oportunidade perfeita para demonstrar com qual filha ela se importava mais. Ângela, obviamente. Por isso ela havia nos trocado de lugar, adiantado a apresentação de Ângela e me colocado em seu lugar. 

Não há surpresa nenhuma em toda essa situação, apenas as atitudes nojentas e egoístas da minha mãe. 

Escutei diversos passos e vozes, todos juntos, vindo de uma mesma direção. 

Logo a mulher de cabelos brancos apareceu acompanhada por mais dois homens e uma outra mulher. 

- Vamos conversar, querida. 

Eu não sei de que forma a situação havia ganhado aquela proporção, mas todas aquelas pessoas pareciam desesperadas, tão desesperadas a ponto de começarem a discutir entre si. Eles até mesmo tentaram ter uma conversa esclarecedora comigo, mas pareciam confusos demais. 

- O que nós somos? Amadores? Sabe o quanto ele vai ficar zangado? É tudo culpa sua Lesley! - A mulher de cabelos brancos dizia. 

Eu não sei ao certo dizer como toda essa situação começou, mas em um momento eles estavam falando calmamente e no outro já estavam discutindo como se a qualquer momento fossem praticar um assassinato. 

- Tudo culpa minha, Selene? - Um dos homens, um com o cabelo castanho encaracolado vindo até os ombros, de muita boa aparência aliás, perguntou bravo. 

Então esse era o nome da mulher de estranhos cabelos brancos? Fazia sentido. 

Segundo alguns livros que li, Selene era a deusa da lua. E o cabelo dela realmente brilhava como a lua. 

- Ela não é a verdadeira noiva do mestre.- Perguntou a outra mulher, com longos cabelos pretos e um vestido verde cheio de ornamentos e enfeites. 

- E por que isso seria culpa minha? - O homem, que creio se chamar Lesley respondeu parecendo irritado. - Foi essa garota que o mestre trouxe para cá. 

- A família dela deve ter feito a troca, Selene - A mulher de vestido verde perguntou. - Embora, isso não muda o fato de que você deveria te-las observado de perto, Lesley.

- Já chega! - Um homem alto e negro, vestido numa roupa azul extremamente elegante chamou a atenção de todos - A garota já está aqui, o que me dizem disto? 

- Eu não estou entendendo mais nada, mas espero que o mestre arranque seu pescoço, Lesley. - Selene disse ríspida. 

- Não me deseje algo assim, da última vez eu quase não volto à vida. - Ele disse esfregando o pescoço e fazendo uma cara estranha. 

- Teremos sorte se ele resolver castigar apenas o Lesley. - A mulher de vestido verde disse. - Mas o que vamos fazer com ela?

- Por Raymond, eu esqueci completamente da pobrezinha! - Selene disse vindo correndo em minha direção. 

- Pobrezinho de mim que vou virar comida de Ogro. - O tal Lesley se lamentou, se jogando num dos sofás. 

- Ah, minha querida, você está péssima. - A mulher de vestido verde disse vindo em minha direção também.

Eu mesma constatar isso era uma coisa, mas ouvir isso de outra pessoa era extremamente constrangedor.

- O Duque é realmente um monstro, como pode fazer isso com uma garota tão frágil. - Selene me olhou da cabeça aos pés e parou seus olhos azuis fixamente em meu rosto.

- Uma moça não deveria andar por aí com roupas de dormir, quer que eu lhe arranje um vestido? - A mulher de vestido verde perguntou. 

- Não, obrigada. - Respondi e então me virei para Lesley - Mas ficaria agradecida se você me emprestasse uma calça e uma camisa.

A maioria dos vestidos que haviam em casa pertenciam ou a minha mãe ou a Ângela, ou seja, nada para mim. 

O dinheiro também era todo gasto com Ângela, então era mais barato comprar roupas masculinas para mim. Mas isso só enquanto eu era criança depois que fui ficando mais velha não era mais necessário compra-las, eu apenas usava as roupas antigas do meu pai ou alguns vestidos que Kamina fazia para mim.

Eu pude ver o quão surpresos eles ficaram com meu pedido, mas era difícil explicar essa situação para pessoas que pareciam não ter esse tipo de preocupações, então eu apenas permaneci em silêncio.

- Não prefere que eu lhe arranje um vestido? - Perguntou, encarando Selene.

Apenas neguei com a cabeça.

- Na atual situação em que eu estou, é muito mais prático para mim vestir roupas masculinas. - Gesticulei. - Aumenta minhas chances de continuar viva.

Além de está ser a principal razão, para mim, era muito mais prático e confortável usar roupas masculinas. 

- Então você prefere roupas masculinas? - Me assustei quando o tal Lesley levantou do sofá e veio em minha direção. Sua sugestão quase me fez pensar que ele tivesse lido meus pensamentos.

- É isso, senhorita? Prefere roupas masculinas ou está apenas envergonhada para aceitar o vestido? - O homem negro e elegante me perguntou. 

Ele, ao contrário do outro, me passava uma imensa tranquilidade. Então acenei com a cabeça. 

- Ela me ignorou, mas respondeu você. - O tal Lesley olhou para o outro homem quase indignado.

- Sua presença miserável deve estar incomodando a pobre coitada. - Selene disse com um ar de riso, mas logo foi surpreendida por um vaso indo em sua direção. Lesley havia acabado de jogar o vaso que estava no criado mudo.

Eu apenas fechei os olhos por um instante, esperando o som do vaso se chocando com Selene, mas quando abri os olhos o homem de azul estava segurando o vaso em uma das mãos como se não fosse nada. 

- Sem brigas por hoje. - O homem caminhou até o criado mudo e colocou o vaso de volta no lugar. - Lesley, leve a moça e lhe empreste algo para vestir. 

- E como vamos explicar a situação ao mestre? - Lesley perguntou. - Digo, é a segunda garota que trazemos para a mansão como sua noiva, mas que não é realmente sua noiva. 

- Isso é algo para se pensar com calma depois. Ele saiu e só retornará amanhã à noite, isso é tempo suficiente para colocarmos as coisas nos seus devidos lugares. - Ele disse caminhando em direção à uma porta pelo lado direito da escada. 

- Bom, então vou buscar algo para você comer. - A mulher de vestido verde disse. - A propósito, sou Nesta. O homem que acabou de sair se chama Aspen, este é Lesley e aquela - disse apontando para Selene - Você já deve ter percebido, se chama Selene. 

- Me chamo Alyssa. - Sorri. - É um prazer conhecê-los. 

Por fim, consegui falar. Eu já estava um pouco mais confortável na presença daqueles estranhos que, embora fossem tão diferentes de mim em suas características físicas e comportamento, mas que eram tão gentis. O tipo de gentileza que você raramente encontraria em Dandelion.

- Embora não seja a verdadeira noiva do mestre, Alyssa ainda é nossa convidada, então a tratem bem. - Selene disse vindo em minha direção e apoiando delicadamente sua mão esquerda sobre meu ombro.

- Ela parece meio patética. - O olhei novamente um pouco assustada por ele saber mais uma vez como eu estava me sentido, mas não tive tempo de mostrar mais nenhuma reação já que quando menos esperei já estava sendo puxada escada acima por ele.

Olhei para trás esperando algum tipo de ajuda, mas Selene apenas me deu um leve sorriso e se virou caminhando para o mesmo corredor escuro de onde tínhamos vindo.

As escadas pareciam antigas pois algumas vezes, quando eu pisava nos degraus, eles rangiam e a madeira parecia prestes a saltar por baixo do tapete vermelho.

- Sua família deve te odiar, certo? - Lesley perguntou quando o lance de escadaria terminou e nós paramos em frente a uma porta branca e alta. 

Olhei para ele que também me encarava.

Eu não sabia o que responder, nem sabia que tipo de resposta ele queria ouvir, mas eu tinha uma extrema vergonha da minha situação e não queria que aquelas pessoas, que pareciam tão boas quanto ninguém jamais havia sido para mim, pensassem de mim o que a maioria das pessoas em Dandelion também pensavam. 

Entretanto, eu também não queria mentir para eles, porque se o que diziam de mim era realmente verdade, eu só traria sofrimento para eles e eu não queria causar problemas a ninguém. 

- Digo, eles entregaram a garota errada. Prefiriram que você fosse levada no lugar da sua irmã. Então você não é tão especial assim. - Ele disse tirando uma chave do bolso e enfiando a mesma na fechadura da porta. Depois de um estalo, ele girou a maçaneta e a porta abriu revelando um quarto normal.

Eu me sinto mal quando as pessoas confirmam coisas que eu já sei, não existe de fato uma necessidade de me dizer aquelas coisas, mas elas são ditas mesmo assim.

- Não estou falando isso para você se sentir mal, eu já estive no seu lugar. Sei como é quando as pessoas agem como se você fosse um estorvo. - Ele disse entrando no quarto e eu o segui.

- Você lê pensamentos? - Perguntei um pouco baixo, sem muita coragem.

- Não, mas você é extremamente óbvia. - Ele disse sorrindo. 

- Sou? - Perguntei sem perceber. A curiosidade sempre foi mais forte que o medo. 

- Acho que você não sabia, enfim... - Ele abriu as portas de um armário enorme e puxou um conjunto de roupas. - Essas eu nunca usei, acho que vão ficar bem em você. Talvez um pouco folgadas?

Peguei as roupas de sua mão e observei atentamente. Eu nunca havia ganhado roupas novas, até as que eu ganhava quando era menor eram recompradas de alguém. Nunca havia ganhado nada que já não houvesse sido usado, muito menos de um tecido tão bom como aquele.

Era uma calça preta meio azulada de um tecido grosso, tinha dois bolsos e esses eram adornados por três botões da mesma cor da calça. A camisa era branca de um tecido extremamente fino e folgado. No peito tinha um cordão feito do mesmo tecido da blusa que trançava algo como um decote. Nesse mesmo decote havia alguns babados também brancos. 

Eu estava encantada pela roupa e Lesley pareceu perceber. Talvez eu fosse realmente óbvia.

- Você gostou muito, certo? - Perguntou se encostando na porta do armário.

Eu balancei a cabeça para cima e para baixo de uma maneira muito enérgica, tão energica que fez ele gargalhar. 

- Você é muito engraçada, apesar de parecer uma morta-viva. - Ele disse ainda risonho. 

Eu estava um pouco surpresa, nunca havia recebido nenhum elogia nos meus dezoito anos de vida. Normalmente as pessoas passavam com cruzes e alhos perto de mim, mas isso era melhor do que quando elas resolviam me atacar com pedras. 

- Ficou chateada porque lhe chamei de morta-viva? - Ele perguntou um pouco mais sério, talvez preocupado em ter me ofendido. 

Ninguém nunca se preocupou se havia me ofendido ou não, era a primeira vez na vida que eu era tratada tão bem. Isso talvez é o que os marinheiros chamariam de calmaria antes de uma tempestade?

- Não, não me senti ofendida.- Eu disse um pouco sem jeito e apertei um pouco a roupa contra o meu corpo. - Obrigada por me dar essa roupa e por todo resto.

- Vou procurar mais algumas roupas para você, não sabemos quanto tempo você ainda irá passar aqui...- Ele disse pensativo. 

Parecia que iria dizer mais alguma coisa, mas foi interrompido quando Selene entrou no quarto.

- Vejo que já conseguiu as roupas, querida. - Ela lançou um olhar significativo para Lesley, parecia levemente orgulhosa. - Eu preparei um banho para você, me acompanhe. 

Esse lugar parecia uma caixa de surpresas, eles me davam roupas e até me preparavam banhos. Eu nunca vivi nada parecido, então tudo era muito suspeito.

Eu segui Selene e descemos as escadas em direção ao corredor que Aspen havia seguido anteriormente. Passamos por diversas portas até pararmos em uma de cor amedeirada, diferente das portas brancas e altas. Ela abriu a porta e me mandou entrar. Assim que entrei a porta foi fechada atrás de mim e eu me senti um pouco assustada. De certa forma, eu prefiria ter ficado com o louco atirador de vasos. 

Era um lavatório, havia uma banheira e uma mesa com uma bacia de água em cima. Algumas toalhas brancas, em cima de uma pequena bancada haviam também algumas peças íntimas e uma escova de cabelo junto com um laço, além de algumas ataduras que estavam quase impercetíveis ao lado da banheira.

Eu me senti completamente renovada quando meu corpo afundou na banheira e depois de passar um longo tempo me lavando e aproveitando o frescor da água, eu finalmente me cansei e resolvi tentar descobrir qualquer informação sobre o porquê de eles querem especificamente Ângela aqui. Quer dizer, até mesmo o Duque não havia dado tanta importância ao fato das noivas terem sido trocadas. Somente o seu ego havia se ferido. Entretanto, este homem parece estar interessado apenas em Ângela.

E o mais importante, se eu não era quem eles estavam procurando, então, o que eles farão comigo depois?

Me levantei da banheira sentindo os cortes nos meus braços e pernas arderem e depois de vestir as peças íntimas deixadas por Selene, eu resolvi usar as ataduras para não sujar minhas roupas de sangue dos cortes recentes que não estavam cicatrizados. 

Após enrolar as ataduras pelas minhas pernas e braços de uma maneira totalmente precária eu vesti a calça e depois a blusa. 

A calça surpreendentemente me coube muito bem, tinha a cintura alta e ia um pouco acima do meu umbigo, mas a blusa ficava quase como uma camisola em mim, então decidi ensaca-la por dentro da calça e gostei muito do resultado. Escovei meu cabelo com muita dificuldade, mas finalmente pude ver um castanho limpo e liso. Usei o laço para amarra-lo em algo parecido com a calda de um cavalo e me pareceu bonito. 

Sai do banheiro me sentido outra pessoa, estar limpa fazia toda a diferença. Eu me sentia capaz de qualquer coisa. 

Caminhei pelo corredor, fazendo um esforço enorme para não me perder e quando finalmente encontrei a sala, ela estava completamente fazia.

Enfim criei coragem para me sentar no sofá e tentar raciocinar um pouco sobre tudo que estava acontecendo. 

O silêncio do lugar parecia propício para isso, mas logo escutei uma nova gritaria e então Lesley apareceu na porta pálido como a neve e com um olhar assustado. 

Veio em minha direção, segurou meu braço e tentou me puxar escada acima, mas seja de quem for que ele estivesse tentando me esconder, a pessoa já parecia ter chegado.

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