3 - Do que é capaz?

Nem em meus piores pesadelos eu havia visto alguém com uma aparência tão asquerosa e sombria. Tudo nele me dava calafrios. O cabelo eram fios brancos totalmente desgrenhados e secos, haviam rugas por todo seu rosto, o nariz enorme e os dentes separados de uma maneira grotesca. Entretanto, as roupas e joias que vestia destoavam totalmente da sua aparência, pareciam valiosas e feitas especialmente para ele. 

- Não vai me cumprimentar? - Perguntou com sua voz monstruosa. 

- Me perdoe pela indelicadeza, senhor. - Foram as únicas palavras que consegui formular em minha cabeça. 

Todo o meu corpo parecia em alerta, até mesmo meus pensamentos estavam turvos. Eu não conseguiria dizer nada mais do que palavras adoráveis. Eu não queria ver aquele homem com raiva, pois eu tinha certeza que dessa forma ele se tornaria um perfeito monstro. 

- Minha aparência não lhe agrada, senhorita? - Ele veio em minha direção caminhando com a ajuda de uma bengala de madeira com um crânio no fim da haste em sua mão direita.

- De forma alguma, senhor. - Minhas mãos ficaram ainda mais trêmulas por sua aproximação repentina. - Estou apenas nervosa.

- Então devemos ir até meus aposentos? - Sua mão esquerda alcançou meu rosto e deslizou asperamente pela minha bochecha. 

Eu não aguentaria aquilo por muito tempo, ele claramente estava falando sobre termos relações antes do casamento. Claro que, poucas eram as mulheres que realmente casavam. Diziam que estávamos apenas indo nos apresentar a nossos noivos, mas eram raras as mulheres que voltavam dessas apresentações. A maioria em caixões, quando sua aparência não satisfazia os critérios do noivo. Apresentação era apenas uma palavra para acobertar a falta de compromisso dos homens com suas noivas. Assim era mais fácil mata-las e substitui-las por mulheres mais novas. Como o próprio Duque estava acostumado a fazer. 

- Peço humildemente que me perdoe, senhor. - Suspirei, odiando a mim mesma pelo que faria a seguir. 

Puxei delicadamente sua mão que ainda se encontrava em meu rosto e a beijei. Tive que aguentar firme quando a ânsia de vômito veio até minha garganta. Havia um odor de algo podre vindo de suas mãos. Eu estava entrando em colapso. 

Havia sido uma ação difícil, mas assim que retirei meus lábios de suas mãos eu vi a satisfação brilhar em seus olhos. E antes que eu pudesse me orgulhar da minha inteligência em escapar de uma situação ainda mais devastadora eu escutei o som de algo cair no chão e suas duas mãos puxaram meu rosto com força em sua direção e sua língua invadiu minha boca junto com seu hálito imundo. 

- A ultima porta do terceiro corredor a direita é um dos quartos de hóspede. - Ele disse assim que soltou meu rosto. - Que fique claro que hoje será a única noite que dormirá sozinha. Assim que acordar amanhã se dirija imediatamente até meus aposentos. Se estiver viva, claro.

Eu encarei seu sorriso maldoso enquanto ele se abaixou levemente para pegar sua algo. O som que eu ouvi foi a maldita bengala que havia caído no chão quando ele estava me torturando com toda sua asquerozidade*. Eu não poderia jamais considerar aquilo um beijo, mais que isso, beijo parecia uma palavra muito romântica para a tortura que aquilo havia me proporcionado. 

Ele então me deu as costas e entrou novamente na sala onde estava antes, fechou a porta e eu continuei sem nenhuma reação no corredor. Minhas pernas ficaram tão fracas que não aguentaram o peso do meu próprio corpo e me levaram ao chão. Meus olhos começaram a ficar húmidos e, pela primeira vez em muito tempo, lágrimas escorreram pelo meu rosto.

Eu me sentia nojenta e impura. Queria sumir daquele lugar. Me odiava por ter tido a ideia que estava me fazendo passar por tudo aquilo, mas me odiava mais ainda por não me arrepender. Me odiava porque eu não conseguia pensar em Kiara vivenciando aquilo, porque eu não queria pensar em nenhuma outra garota sendo sujeitada aquilo. Mas eu sabia, no fundo do meu coração, que todas as garotas que foram levadas passaram pela mesma coisa, que ficaram assustadas e tiveram que perder toda sua inocência de uma única vez. 

Uric, nosso rei, não tinha nenhum tipo de remorso quando se tratava de estragar a vida de seu povo. Ele devia estar feliz sentado em seu trono vendo todos desmoronando enquanto ele estava cada vez mais rico e poderoso. 

É engraçado, porque eu nunca pensei que meu anseio por liberdade aos poucos se tornaria em um desespero por vingança. 

No entanto, eu realmente pensei que poderia fugir, sabia claramente que lá fora não havia nada mais do que um mordomo cuidando da entrada, mas a falta de guardas na mansão me incomodava. 

Todos sabiam que Gorgonea não estava nem perto de ser um bom lugar para se morar, a falta de recursos de algumas aldeias forçava seus habitantes a se tornarem mercenários e ladrões que não tinham o mínimo de misericórdia.

Eles atacavam apenas casas nobres e mansões como a do Duque. O lugar era extremamente atrativo, então por que não haviam guardas? 

A falta de vigilância era suspeita vindo de alguém que aparentava se importar tanto com bens matérias. Entretanto, mesmo que fosse uma perfeita chance de fuga, eu não poderia arriscar escapar sem saber o porquê de tudo aquilo. Ou o Duque era um idiota que não sabia defender suas riquezas ou ele tinha algo que afastava todas as ameaças. 

Eu já havia encontrado o quarto ao qual ele se referiu, mas não me atrevi a tentar tomar banho ou qualquer outra coisa. Não queria me sentir ainda mais vulnerável do que já estava me sentindo. 

Olhei pela décima vez a movimentação do lado de fora da mansão, mas nada acontecia. Ninguém saia ou entrava. E quando paro para pensar percebo que nem os guardas ousaram entrar, apenas eu. 

Kiara já devia estar ao lado do meu noivo e, com alguma sorte, estaria em uma situação melhor que a minha. Eu esperava que ela estivesse, de preferência, viva. Pois era algo que eu sentia que não estaria por muito tempo.

Me deitei na cama, mas sem nenhuma intenção de dormir. Queria poder abrir a porta e ir embora, mas o medo me refreava e me impedia de ir adiante com outro plano que colocaria minha vida em mais perigo do que já estava.

Fiquei presa em meus pensamentos até escutar leves batidas na porta. Me levantei rapidamente e muito assustada. Medo parecia ser a única coisa que eu conseguia sentir nesse lugar. O Duque havia mudado de ideia? Achava que eu já tinha descansado o suficiente? 

As batidas continuaram, leves e insistentes, como se quisessem chamar apenas a minha atenção. O Duque teria esse cuidado? O que eu pude aprender pelos horríveis e, felizmente, breves momentos que passei ao seu lado é que jamais, em hipótese alguma, ele teria alguma consideração comigo a ponto de bater na porta. Ele provavelmente a quebraria depois da segunda batida. 

Caminhei vagarosamente até a porta ainda imaginando se eu estava enganada e que talvez o Duque realmente estivesse ali, do outro lado da porta, me esperando para fazer sabe-se lá o que. Quando minha mão alcançou a maçaneta fria da porta todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. 

A porta finalmente se abriu revelando ninguém mais, ninguem menos do que o mordomo que havia me recebido na porta da mansão. Um senhor de cabelos brancos arrumados, bochechas rosadas e olhos brilhantes. Ele não vestia roupas como as do Duque, mas conseguia ser mais elegante e adorável que o mesmo. 

Ele me encarou por um longo tempo, um pouco assustado. Eu não o culpava, estava tão aterrorizada quanto ele.

- No que posso ajudá-lo? - Perguntei como a única alternativa para quebrar o silêncio ensurdecedor entre nós. 

Ele apenas continuou me encarando enquanto apertava um pano branco em sua mão.

- Quando escutar os uivos saia do quarto e tente se esconder. - Disse apressado, como se quisesse estar bem longe daqui.

- Uivos? Esconder? O que quer dizer com isso? - Perguntei um pouco desesperada. Por que eu teria que me esconder de algo? 

- Use isso! - Jogou o pano branco para dentro do quarto e eu ouvi algo tintilar quando o pano finalmente encontrou o chão e um leve brilho veio debaixo dele. 

Quando voltei minha atenção para a porta o senhor já não estava mais lá, apenas o vazio do corredor. Me agachei próximo ao pano e desenrolei com cuidado o que estava dentro. Uma adaga. A lâmina prateada estava afiada e parecia nunca ter sido usada. O punho também era prateado e haviam asas perto da lâmina, mas o que mais chamava atenção era a pedra azul envidraçada que tomava parte do punho da adaga.

Assim que acordar amanhã se dirija imediatamente até meus aposentos. Se estiver viva, claro.

A lembrança das palavras do Duque me atingiram ainda mais afiadas do que a lâmina daquela adaga. Por ter ficado tão aterrorizada com suas ações eu não havia prestado atenção em suas palavras, mas agora tudo fazia sentido. Ele não me deixou passar uma noite sozinha porque estava preocupado com meu cansaço, tudo fazia parte do seu plano. Mas qual o significado de tudo isso? O que ele pretende? 

Não tem mais importância, o que quer que ele esteja planejando já está em execução. Fuja quando ouvir os uivos? O que é isso? Uma caçada?

É isso! Só poderia ser. 

Agora tudo está se encaixando. Por que um nobre estaria sem guardas em sua mansão justamente no dia da chegada de sua noiva? Eu não o conhecia, mas sabia que nenhum nobre deixaria seus tesouros a vista para ninguém. Então esse era o seu plano, Duque? Tirar todos os guardas da mansão e poder caçar sua noiva em seu joguinho sem sofrer com as consequências das leis do reino?

Se ele planejava me caçar, eu não iria facilitar. Esperar os uivos? Eu pareço ser tão ingênua assim? Eu jamais esperaria qualquer sinal para começar a correr pelo bem da minha vida.

Agarrei a adaga com força em minha mão esquerda e percebi que seu peso era reconfortante. Era como saber que eu estava levemente mais segura do que a minutos atrás, que eu poderia me defender quando fosse necessário. Me acalmava. 

Retirei meus sapatos com cuidado para não fazer nenhum barulho enquanto caminhava, passei pela porta que permanecia aberta e caminhei vagarosamente pelo corredor precariamente iluminado. 

A mansão era enorme, haviam mais portas e corredores do que eu imaginei inicialmente. Eu senti uma leve felicidade me inundar quando pensei em quantos lugares diferentes teria para me esconder, mas logo lembrei que o Duque conhecia todo o lugar muito melhor que eu. Obviamente não era sua primeira vez fazendo esses joguinhos. Entretanto, considerando o destino de todas as outras mulheres que entraram nessa mansão, fica claro que ele não acredita que eu serei capaz de sair viva desse lugar. 

- Não me subestime, seu velho imundo. - Sussurei para mim mesma enquanto seguia para a terceira bifurcação. 

De certa forma, todos os corredores pareciam iguais. As portas eram sempre as mesmas e não havia muita diferença na decoração. Exceto pelos quadros, que mostravam sempre imagens e diferentes fases da lua. 

Eu sabia que tentar sair da casa, a essa altura, seria burrice. O fato de eu não conhecer nada nas redondezas de Amaranthine me colocariam em risco. Além de ser um plano óbvio. Não quero nem pensar em quantas garotas morreram só por terem seguido esse mesmo raciocínio. 

Me assustei quando ouvi uivos vindo do lado de fora da casa e automaticamente agradeci a mim mesma por não ter tentado sair. Ele estava usando cachorros para me caçar? E se farejassem o meu cheiro? 

Fiquei desesperada quando ouvi os uivos ainda mais próximos, como se soubessem exatamente aonde eu estava. E talvez soubessem. Por isso, não perdi tempo. 

Uma das portas que achei levavam até uma enorme cozinha. Ótimo, alguma coisa deveria servir para disfarçar o meu cheiro.

Abri com cuidado algumas portas e achei um jarro com algum líquido dentro. O puxei cuidadosamente e senti um cheiro conhecido. Era vinagre. 

Enfiei a mão dentro do recipiente e comecei a esfregar o líquido por toda o meu corpo. Enquanto estava distraída com minha pequena tentativa de camuflagem ouvi um barulho alto ecoando pelo corredor. Eu havia fechado a porta assim que entrei, mas sabia que não estava segura. 

A idéia de lutar me parecia apetitosa, mas o meu corpo me mandava sinais constantes de que era apenas uma tentativa óbvia de suicídio. 

Os barulhos no corredor aumentaram, ouvi rosnados e o som das paredes sendo arranhadas. Olhei para toda a cozinha e não havia nenhum lugar para se esconder. 

Um som ainda mais alto que todos os outros veio ecoando por toda a casa, eu não estava vendo, mas podia dizer com toda certeza que alguma janela de vidro estava completamente destruída, o ruído dos pedaços de vidros chocando-se contra o chão não me deixavam dúvidas. 

Embora tentasse me concentrar no que estava acontecendo ao meu redor, eu não conseguia deixar de pensar que não conseguiria sobreviver. Mesmo tentando tanto manter não só minha sanidade, mas também minha integridade física, eu ainda sentia que não estava fazendo o suficiente.

Eu queria ser forte o suficiente para ter certeza de que conseguiria lutar contra qualquer coisa, mas eu nunca tive confiança em mim mesma. Nunca me esforcei o bastante e é por isso que tudo sempre foi tão raso para mim. Minha fé em ter uma vida um pouco mais digna era quase inexistente. 

- Onde você está se escondendo minha coelhinha? - A voz monstruosa do Duque me tirou de meus pensamentos. 

Andei vagarosamente até a porta da cozinha e me encostei na parede. Se ele entrasse e abrisse a porta, eu seria encoberta pela madeira.

Prendi a respiração quando percebi que ele já estava de frente para a porta da cozinha. 

A porta abriu-se vagarosamente e eu conseguia escutar o meu coração batendo extremamente acelerado em meu peito.

Vi o vulto do Duque entrar na cozinha e, pelas frestas da porta, vi ele pegar o vidro de vinagre que eu havia deixado em cima do armário.

- Porque será que tem cheiro de vinagre vindo de trás da porta? 

Não esperei mais nenhum momento. Eu não saberia explicar o que me fez agir desse jeito, mas toda a adrenalina em meu corpo fez eu criar coragem para afastar a porta o mais rápido possível e sair correndo pelo corredor, sem esperar qualquer reação por parte do Duque. 

Respirar estava se tornando algo realmente difícil pois eu nunca precisei correr tanto em minha vida. Nunca me senti tão vulnerável quanto agora. Eu corria, mas ainda podia escutar seus passos leves e lentos atrás de mim. Como se tivesse certeza que não importava o quanto eu corresse, ele iria me encontrar. 

Enquanto eu continuava abrindo e fechando portas, correndo e tropeçando em meus próprios pés e enquanto o desespero tomava conta de todo o meu corpo, eu me perguntava se Kiara ainda estaria viva. Pois, por algum motivo, eu me julgava mais forte que ela. 

Em algum momento, quando o desespero já tinha tomado conta da minha mente, quando eu já estava sufocando com a minha própria respiração e minhas pernas não tinham mais a mesma força, eu entrei em um quarto distraidamente e só depois percebi que não havia nenhuma saída. Voltar seria dar de cara com ele. Eu havia me condenado. Entreguei minha própria nas mãos de um lunático. 

- Você não pode fugir de mim, coelhinha. - O Duque já estava na porta do maldito quarto, me olhando com um ar de desprezo e divertimento. Como se nem por um momento sequer ele houvesse confiado nas minhas chances de fulga.

Eu odiava isso, odiava ser subestimada, odiava quando agiam que eu era uma inútil, uma incapaz. Eu nunca fui uma garota indefesa. 

- Você não deveria me subestimar. - Falei em alto e bom som.

- Oh! querida, acho que você é a única que está me subestimando. - Ele gargalhou. - Eu já poderia te-la matado, se que quisesse.

- Não vejo como um velho decrépito poderia me matar. - Soltei uma leve risada, esperando que ele me mostrasse todos os seus truques. 

Eu pude ver seu olhar de desprezo se transfigurar para algo cheio de ódio, como se agora, eu fosse digna de sua atenção. 

- Você irá se arrepender de cada palavra que usou contra mim, de cada passo que deu e de cada porta que abriu. - Ele disse chegando cada vez mais perto de mim e agarrando o meu pescoço.

- E você vai se arrepender por ter me subestimado. - Eu respondi, mesmo com toda a falta de ar e dificuldade de formar alguma frase coerente.

- Como você faria isso? - Debochou da minha situação. 

- Assim! - Respondi.

Nesse mesmo instante, fechei minhas mãos ao redor do punho da adaga que eu estava escondendo na parte de trás do meu vestido e perfurei seu estômago. 

A surpresa em seu rosto foi a melhor coisa que eu poderia ter visto depois de todo esse tempo. Quando suas mãos lentamente soltaram meu pescoço e seu corpo caiu ao meu lado, eu pude respirar com tranquilidade. 

- Isso é apenas o que você merece, seu monstro. - Passei por cima de seu corpo e sai do quarto sentindo o meu corpo um pouco mais leve.

Mas toda a minha alegria durou muito pouco, assim que sai do quarto pude ouvir o barulho de algo se arrastando pelo chão e se contorcendo. Por curiosidade, ou talvez burrice, eu voltei até a porta do quarto e observei a cena mais grotesca de toda a minha vida. 

Ali, na minha frente, o velho imundo estava se transformando em um verdadeiro monstro. A pele estava cheia de pelos e um cheiro de enxofre começou a tomar conta do ambiente, seu rosto se transfigurando em algo como um focinho. Na verdade, seu rosto estava tomando uma aparência animalesca. Como um cachorro gigante, ou um lobo. 

Embora eu estivesse muito assustada, ainda arrumei o restante das minhas forças para sair correndo enquanto sua transformação não terminava por completo. Corri o máximo que pude, tentando me manter calma e pensar, seriamente, em um jeito de fugir. 

Enquanto corria, achei uma escada que levava para uma espécie de túnel subterrâneo extremamente escuro. Desci o mais rápido que pude e fui andando pelas diversas bifurcações. No fim, enquanto tateava as paredes, constatei que aquilo não era um túnel qualquer, mas também um calabouço. Haviam várias celas por todo o lugar, correntes presas ao chão e água escorrendo por toda a parte. 

Um pouco mais calma, eu comecei a pensar sobre o que o Duque poderia ser, pois claramente não era um simples humano. Lembro dos remanescentes falarem sobre homens que se transformavam em enormes bestas e lutavam contra exércitos durante as guerras. Mas claro, tudo isso não passavam de lendas. Até então, nunca imaginei que esse tipo de criatura realmente existiria.

Respirei fundo tentando compreender tudo que estava acontecendo. Várias vezes me peguei arrependida por assumir tudo isso no lugar de Kiara, mas percebi que isso também fazia parte do que eu havia prometido a Odila. Sair de Dandelion e procurar a verdade sobre o reino. O que seria tudo isso se não a verdade? Todos os remanescentes achavam que esses monstros eram apenas estórias e invenções dos mais velhos para assustaram crianças, mas aqui estava um deles, me perseguindo e me provando que havia muito mais coisas para ver nesse mundo do que apenas encarar árvores e um chão sujo em uma aldeia esquecida e desprezada pelo reino.

Mas, talvez, eu não pudesse chegar a ver tudo isso. Percebi muito tarde que não havia saída alguma naquele maldito calabouço. Eu estava apenas andando em círculos e meus olhos já não aguentavam toda aquela escuridão.

Meu corpo gelou quando ouvi garras passarem pelas paredes, um rosnado assustador e o odor de enxofre ficando cada vez mais forte. Meus olhos finalmente conseguiram enxergar, no fim de um dos caminhos, olhos amarelos brilhantes. Aquela coisa gigante veio correndo em minha direção e, de repente, eu fui jogada para longe sem conseguir respirar, sentindo um líquido quente escorrer pelo meu corpo. Sangue?

Ouvi aquela criatura monstruosa se aproximar mais uma vez e uma luz tomar de conta de todo o lugar. 

Então, isso é morrer?

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