2 - É preciso ter coragem

Como Dandelion era apenas uma aldeia, não haviam muitas casas. Olhando pela janela da carruagem as únicas coisa que passavam por meus olhos eram enormes árvores. Em sua maioria carvalhos.

A carruagem parou em frente à uma pequena casa e uma garota com em um vestido azul saiu de lá com um véu negro cobrindo seu rosto. Tinha os cabelos pretos e a pele alva que em contraste com a cor do vestido a deixava ainda mais pálida. Assim que entrou na carruagem e a porta foi fechada ela retirou o tecido que cobria seu rosto.

Não havia nenhum guarda dentro da carruagem, apenas dois seguiam na frente guiando os cavalos pelo caminho que levava até a saída de Dandelion. E o outro guarda havia ficado para trás.

Mesmo que fossem apenas dois guardas, eu não tentaria fugir. Todos em Dandelion sabem que qualquer um que consiga a vaga como um dos guardas do Palácio, trabalhando na escolta das garotas, é alguém experiente que, com certeza, não seria vencido facilmente. Assim que entrei na carruagem eu sabia que minhas chances de escapar eram nulas. Principalmente pelo fato de que depois que passarmos pelos portões de Dandelion o número de guardas irá aumentar.

- Está chorando por que está com medo? - Resolvi perguntar quando percebi que a garota estava chorando silenciosamente enquanto encarava a vista de fora da janela.

Eu não esperava que ela me respondesse, pois no momento ela parecia simplesmente inconsolável. Senti pena dela, mesmo que eu também estivesse na mesma situação.

- Estou chorando porque me sinto injustiçada. Eu não queria ter que me casar dessa forma.- Tentou, em vão, enxugar as lágrimas que continuavam caindo.

- Não é apenas mais um dia comum na vida das garotas de Gorgonea? - Perguntei, por fim, sem ter qualquer certeza do que estava dizendo.

Eu me sentia extremamente mal por todas as garotas, inclusive por mim, que eram e continuariam sendo obrigadas a terminar o resto de suas vidas com homens desconhecidos. Me sentia mal também por suas famílias, que precisavam entregar não só suas filhas, mas também seu filhos, nas mãos de um homem como o Rei.

Se os gorgoneanos fossem realista sobre a maneira que são obrigados a viver talvez pensassem melhor. Penso que não há sentido em crescer, casar, ter um filho e, de repente, ter que entrega-lo como um objeto nas mãos do rei ou, no caso das garotas, nas mãos de algum homem desconhecido. Como se já não bastasse a quantidade de impostos que eram cobrados e aumentavam a cada estação. Acredito que um rei deve possuir riquezas, mas não quando seu povo não tem o suficiente para comer.

- Três dias antes? O que eles pensam que somos? Idiotas? - Falou com os lábios trêmulos. - Eles nem ao menos conseguem manter suas próprias palavras.

- Eles não querem que a alguma de nós tente fugir. - Suspirei passando minhas mãos completamente suadas na saia do vestido.

- Acha mesmo que alguma de nós seria realmente capaz de fugir? - Perguntou olhando nos meus olhos. - Para mim não passa de uma piada, uma desculpa para fazer nossa vida ser um inferno o mais rápido possível.

- Disseram que alguém estava incentivando as garotas a fugirem... - Agi como se não soubesse de nada, levantar suspeitas apoiando o que ela estava dizendo seria arriscado demais, talvez estivessem me testando. Talvez até já soubessem qual era o objetivo do meu plano.

- Eu não preciso que ninguém me incentive a fugir, faria isso por vontade própria. - Apertou as mãos em punho. - Quem, em sã consciência, aceitaria essa situação de bom grado?

Durante toda a minha vida eu vi as outras meninas comprarem vestidos, joias e tudo que as deixasse ainda mais lindas. Elas todas pareciam tão felizes em serem levadas para o lado de seus respectivos noivos. Eu ficava sentada no gramado pensando que nunca conseguiria ser igual a elas, ficar feliz em ter minha vida decidida por outras pessoas. Então, o pensamento de que eu era a única querendo ir embora tomou conta da minha mente e nunca me passou pela cabeça que, talvez, elas estivessem tão infelizes quanto eu. Que escolhiam vestidos e joias para se distrairem. Que agiam daquela forma porque não havia outra escolha. Por que, agora eu vejo, não há escolha para mim também. Nunca houve.

- Meu nome é Kiara, tenho dezesseis anos. - Ela disse repentinamente, enquanto eu estava presa em meus próprios pensamentos.

- Me chamo Alyssa, tenho dezessete anos - Respondi timidamente.

- Eu acho que estou um pouco mais desesperada que você. - Ela respondeu triste.

- Talvez por você ser mais nova. - Falei enquanto mexia nas mechas do meu cabelo. - Você não deveria ser levada apenas quando completasse dezessete anos?

- Seria o certo, mas o Duque Frederick está impaciente. - Abaixou a cabeça e apertou as mãos uma na outra.

-  Frederick? Está falando do Duque de Amaranthine? Aquele velho que dizem ser indecente e que teve mais de oito pretendentes? - Sussurrei, sem querer que os guardas me escutassem falando dessa maneira de alguém tão importante para o nosso reino.

Apesar do Duque Frederick ser um nome importante de Gorgonea, ele também era um dos nomes mais comentados em todas as aldeias. Todas as garotas que eram enviadas para sua casa acabavam morrendo de formas misteriosas. Sendo um membro tão importante da corte de reino ele não sofria nenhum tipo de punição, e continuava a receber ainda mais garotas em sua teia. Sem qualquer atitude por parte do rei, as garotas ainda eram mandadas para lá. E aos pais só restava pedir aos deuses que suas filhas não estivessem destinadas a um futuro tão imprevisível.

- Sim, sabe que eles podem casar quantas vezes quiserem. Sou apenas mais uma delas. - Vi seus olhos encharcados e não pude dizer nada. De repente, meu noivo já não parecia alguém tão ruim. Mesmo que eu não o conhecesse.

Ainda estávamos no território de Dandelion. Sabia disso porque as espécies de árvores não mudavam e os dentes de leão ainda eram vistos na borda da estrada. Mas o tempo que a carruagem estava em movimento e o sol se pondo no horizonte me traziam a impressão de que logo estaríamos fora dos limites da aldeia.

- Você fugiria se pudesse? - Perguntei séria.

- Eu não perderia nenhuma chance. - Disse com a voz firme e apertando o tecido do vestido na mão com força. - Não posso aguentar a idéia de que não tenho controle sobre minha própria vida.

Eu sempre imaginei que era a única interessada em fugir da aldeia, talvez uma ideia egoísta. Mas sempre acreditei que ninguém, além de mim, achava aquele lugar um inferno. Foi uma surpresa ver alguém com um vontade de escapar tão grande quanto a minha.

- Eu vou te ajudar. - Falei de forma clara, tentando me convencer de que eu realmente conseguiria fazer isso. Talvez eu estivesse apenas sendo precipitada e tentando bancar a heroína.

- Vai me ajudar a fugir? - Perguntou sussurrando com os olhos castanhos brilhando de pura esperança.

- Eu vou. - Respondi. - Farei o que for preciso.

Eu não sabia como iria cumprir aquilo, não tinha nenhum plano. No entanto, eu queria fazer alguma coisa por ela. Eu não tinha nenhum pecado para carregar além do ódio da maioria dos habitantes de Dandelion. Eu não precisava tentar salvar ninguém, nem me meter em problemas que não diziam respeito a mim. Mas eu queria fazer por ela o que ninguém jamais teve coragem de fazer por mim, eu não aguentaria ver ela sendo levada para as mãos de algum velho imoral sem fazer nada a respeito. Se eu salvasse aquela garota, seria como salvar a mim mesma.

Mas não importava o quanto eu pensasse, nenhuma ideia de fuga vinha em minha mente. Eu sabia que estava longe de casa, talvez até mais do que eu conseguia imaginar. Mas, quanto mais rápido a carruagem percorria as longas estradas de barro mais eu me sentia impotente.

Ao meu lado, Kiara parecia ainda mais nervosa e eu não a culpava por isso. Diferente de mim, ela teria que ser noiva de um velho estúpido que se aproveitaria de sua fragilidade. O desespero tomou conta de mim, minhas mãos estavam trêmulas e cada vez que eu olhava para fora da janela eu avistava lugares que nunca havíamos visto antes. Não devíamos estar muito longe da saída de Dandelion e logo mais estaríamos a caminho de Amaranthine.

Eu encarei meu pés envergonhada por não ter mais certeza se poderia manter minha promessa. No entanto, nesse exato momento, como mágica, eu tive uma idéia. Uma idéia que parecia genial demais. Se tudo desse certo, Kiara seria salva e eu teria a chance de fugir.

- Kiara! - Chamei sua atenção que no momento estava voltada para a janela.

Ela me encarou com os olhos vermelhos, os lábios caídos e cabelo colado por todo seu rosto. Eu não aguentaria ver aquela imagem por mais tempo. Por isso tratei de colocar meu plano em ação.

Com muito cuidado rasguei um pedaço do pano do meu vestido, um pano branco sem nenhuma transparência. Não alterava em nada o meu vestido, já que era um dos muitos tecidos que davam volume a saia.

- Tire sua roupa e vista a minha. - Me adiantei em tirar meu vestido.

- Para quê? - Perguntou confusa, mas mesmo assim me obedeceu.

- Eu irei no seu lugar, me passarei por você. - Ela continuou com a mesma cara de dúvida, então expliquei. - Trocaremos de roupa e eu irei encontrar o Duque no seu lugar, enquanto isso você irá encontrar o meu noivo e, com sorte, poderá fugir.

- Acha que dará certo? - Me encarou. - Não acho que seu noivo deixará a prometida do Duque fugir bem diante de seus olhos.

- É nossa única chance! - Apertei seus ombros com minhas mãos enquanto encarava seu rosto. - Ou quer passar o resto de sua vida com o Duque sem ter lutado pela sua liberdade?

Ela não me respondeu, mas não precisava. Eu soube que ela faria qualquer coisa pois continuou vestindo o horroroso vestido branco que Kamina havia feito para mim.

Coincidência ou não, nós tínhamos as mesmas medidas.

- Coloque o véu branco no rosto e não tire até os guardas terem ido embora, me entendeu? - Alertei.

- Você ficará bem? - Me olhou e eu podia ver o quão preocupada ela estava.

- Acho que sim. - Sorri.

- Você é uma pessoa incrível. - Encolheu os ombros. - Ninguém daquela aldeia jamais faria o que você está fazendo.

- Eu não estou fazendo nada demais. - Respondi envergonhada.

- Está assumindo um destino que não é seu e colocando sua vida em risco por uma desconhecida. Não sei sobre os outros povos de Gorgonea, mas conheço os dandelianos o suficiente para saber que não teriam a sua coragem. - Ela se aproximou de mim e agarrou minhas mãos.

- É a segunda pessoa a me dizer isso. - Constatei.

- Que é corajosa? - Perguntou.

- Que estou assumindo um destino que não é meu. - Encarei o vestido azul que me deixava um pouco mais confortável que o anterior. Azul também é uma boa cor.

- Isso te incomoda? - Soltou minhas mãos.

- Não tenho certeza. - Suspirei.

- De qualquer forma...- Deu uma rápida olhada para a janela e voltou a me encarar. - Sou imensamente grata pelo que está fazendo e viverei para tentar recompensa-lá.

- Não estou fazendo isso porque quero algo em troca. É apenas uma boa oportunidade para nós duas.

A carruagem parou e uma movimentação repentina tomou conta de nossa volta. Olhei para fora da janela e vi mais guardas cercarem a carruagem, isso significava que estávamos saindo de Dandelion.

Os dois guardas que antes nos acompanhavam foram deixados para trás e os cavalos da carruagem foram rapidamente substituídos.

- Nós realmente precisávamos ter trocado nossos vestidos? - Kiara perguntou com um leve sorriso.

- Talvez não... - Ponderei. - Mas você não pode negar que o plano se torna mais emocionante assim.

- Nisso você tem razão. - Kiara sorriu.

Com cuidado para não ser vista puxei dos meus seios o mapa de Gorgonea. Eu precisava de um ponto de referência, não sabia se pegariamos o portão de saída localizado ao norte ou se pegariamos algum dos atalhos a leste. Mas agora era diferente, eu sabia que havíamos acabado de passar pela saída que ligava Dandelion a Amaranthine. O enorme muro que nos cercava não deixava nenhuma dúvida.

- Segundo o mapa, Amaranthine é a próxima cidade. - Falei baixo para que somente Kiara escutasse.

- Onde conseguiu esse mapa? - Perguntou analisando todo o desenho.

- É uma longa história, não faria sentido contar. - Eu não queria ter que falar sobre Odila, o peso de sua morte ainda era um pouco vívido em minha consciência.

Guardei o mapa depois de tentar decorar o máximo possível para não precisar tira-lo novamente do lugar que estava escondido.

- Acha que teremos chances agora que o número de guardas aumentou? - Kiara sussurrou.

- São novos guardas, eles não sabem quem somos. Se usarmos os véis e mantivermos nossos rostos escondidos tudo dará certo.

- Espero que tenha razão. - Suspirou.

- Também espero. - Cobri meu rosto para que nenhum dos guardas nos reconhecessem e pedi aos deuses que meu plano não fosse descoberto.

O céu já estava totalmente escuro quando a carruagem em fim parou. A lua cheia estava radiante no céu e mesmo assim os guardas haviam acendido algumas tochas. Eu continuava me perguntando por quanto tempo toda aquela situação duraria. Me peguei até mesmo pensando que não deveria assumir qualquer risco por Kiara.

Eu não me considerava uma boa pessoa, todos a minha volta sempre deixaram isso claro. Por que eu deveria assumir os problemas de alguém? Por que eu deveria sofrer para que alguém pudesse ser feliz?

Passei minha vida inteira dando o meu lugar a Ângela, sem exigir qualquer afeto por parte de nossa mãe. Aceitei de cabeça erguida todas as ofensas que lançaram contra mim e me forcei a ficar bem com isso. Pela primeira vez em minha vida, eu tinho a chance de ir para um lugar melhor e estou simplesmente jogando tudo fora para salvar uma garota desconhecida. Eu passei toda a minha vida aceitando o meu destino sem reclamar. Por que ela não podia aceitar o dela? Por que eu deveria tomar seu lugar? Quais as certezas que eu tinha de que realmente conseguiria fugir do Duque? E se eu ficasse presa para sempre enquanto ela estava livre e aproveitando sua própria vida sem se dar conta do meu sacrifício?

- Kiara Annesley! - Escutei um dos guardas chamarem.

Já estávamos em frente à mansão do Duque e Kiara precisaria descer e encarar seu destino. Eu queria respostas para as minhas dúvidas, queria saber porque eu deveria tomar seu lugar em algo tão absurdo, mas eu não tinha nenhuma resposta. Entretanto, o plano era meu. Ela não me pediu para fazer nada. Eu mesma me ofereci. Dei a ela falsas esperanças e estaria sendo uma bastarda se não cumprisse minhas palavras.

- É preciso ter coragem! - Disse baixo, mais para mim mesma do que para Kiara, mas sei que ela escutou.

Levantei um pouco atordoada e desci da carruagem com a ajuda de um dos guardas. Caminhei sem olhar para trás com medo de tomar alguma decisão estúpida. Com medo de desistir de tudo. Mas, mais um vez, o plano era meu. A partir do momento em que desci da carruagem eu já não podia voltar atrás. Se eu parasse de repente e gritasse para os guardas que eu era a garota errada seria imediatamente punida. E Kiara também.

Caminhei com passos firmes sentindo o olhar de Kiara sobre mim e, de alguma forma, sentindo seu remorso e sua dúvida sobre toda a situação. Talvez ela também estivesse procurando motivos para me deixar ir em seu lugar ou se perguntando como ela podia ser tão egoísta a ponto de me deixar assumir algo tão tempestuoso.

Em algum lugar dentro de mim eu queria que ela estivesse se sentindo assim, porque eu ainda estava me perguntando como tive a ideia de começar tudo isso. Mas, de certo modo, eu sabia que era responsável por tudo e decidi que mais tarde eu poderia procurar algum motivo plausível para explicar o que me levou a fazer tamanha loucura, que antes considerei uma genialidade.

Era uma mansão enorme e eu só sabia reconhecer uma porque, alguns anos atrás, um dos remanescentes trouxe inúmeros desenhos de mansões que estavam localizadas na capital de Gorgonea. Nos mostrou para que víssemos como nosso reino estava progredindo, mas eu não achava isso. As casas de Dandelion, por mais bonitas que fossem, não se comparavam as casas da capital e isso mostrava o quão desigual eram nossas vidas. Que nós não estávamos ganhando tanto quanto imaginávamos e que no final estávamos apenas servindo de marionetes do rei.

O lugar era realmente grande, mas devido à escuridão da noite não pude ver como era de forma geral. Havia apenas um muro baixo que circulava todo o terreno e algumas lanternas que serpenteavam todo o caminho pelo jardim até a porta principal.

Caminhei para dentro do Jardim e mais uma vez tive certeza de que tudo que Odila havia dito sobre o rei era verdade. Dar tanto a um nobre e esquecer seu próprio povo. Para mim, era algo inadmissível.

Os guardas não entraram comigo, o que me deu ainda mais tranquilidade. Um senhor de meia idade me esperava na porta da mansão, eu não pude ver seu rosto com clareza por ainda estar com o véu.

- Por aqui, senhorita. - Abriu a porta e fez uma reverência para que eu entrasse primeiro. - O Duque está a sua espera.

Agradeci com um leve acenar de cabeça e segui pelo longo corredor sombrio sentindo todo meu corpo estremecer a cada passo.

Escutei vozes mais adiante e conclui que estava mais perto do Duque do que eu imaginava. Por mais nervosa que estivesse, de repente, me peguei aliviada por saber que Kiara estava a caminho de um lugar mais seguro do que esse. Na casa de um possível candidato ao trono.

Retirei o véu do meu rosto assim que me senti segura. Finalmente pude ver tudo a minha volta com um pouco mais de clareza, mesmo que a mansão fosse mal iluminada e tivesse um aspecto mórbido.

As paredes eram num tom acinzentado e pareciam empoeiradas, haviam partes gastas e alguns longos arranhões. O chão de madeira, no entanto, estava limpo, mas algumas madeiras soltas rangiam quando eram pressionadas. A aparência interna destoava muito do que viamos do lado de fora. O que parecia uma enorme mansão, interiormente era, na verdade, uma casa abandonada.

- Então esta é minha noiva? - Ouvi um voz repugnante vindo de uma porta a esquerda do corredor e quando meus olhos foram em sua direção eu tive a certeza de que sua voz não era a única coisa monstruosa.

Sua aparência combinava perfeitamente com o lugar.

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