8. Ela Está Grávida?

Luciana

Eu senti aquele momento. Christofer não estava brincando, e eu tive que engolir em seco. Acho que ele é do tipo egocêntrico que tem ciúme da atenção dos outros, quer todos os olhos para si.

Comecei a sacar tudo. Christofer era um cafajeste. Ele viu uma menina bobinha apaixonada pelo irmão dele, que ele odeia, e propôs essa situação para me fazer apaixonar por ele e esquecer Otávio.

Muito cruel. Ele não podia brincar comigo assim. Mordi o lábio, eu não podia perder minha única chance com Otávio, mas entrei numa fria.

Christofer nunca ia me ajudar de verdade.

Mesmo assim, eu precisava ser mais esperta que ele e fingir que nada aconteceu. Não ia deixar que ele tirasse o foco de Otávio.

— Palhaço. — Murmurei, soltando uma risada. Eu percebi que devia fingir que nada aconteceu e que não estava entendendo. Era a melhor maneira de não estragar tudo. — Eu perguntei do Otávio.

— E eu estou falando de mim. — Christofer disse, sem diminuir a distância entre mim e ele.

O olhar arrogante dele me fez rir, talvez de nervosismo. Ele era sexy quando falava desse jeito, mas eu sempre tentava quebrar esses momentos tensos de algum jeito.

Chris suspirou, colocou a mão na maçaneta da porta, e disse:

— Bem, eu vou embora.

— Jante comigo. — Eu falei. Agora era eu quem segurava o braço dele. Eu ainda tinha perguntas sobre Otávio.

— Não, obrigado. — Ele disse, e depois suspirou, fazendo um beicinho triste e introspectivo. Depois, saiu pela porta.

Eu não estava feliz por ele ir embora daquele jeito. Apesar de Christofer estar jogando contra mim, a presença dele me fazia bem.

— E o meu beijo? — Perguntei. Eu me lembrava bem das lições que ele me ensinou e ia lembrá-lo com frequência das aulas e do acordo.

Christofer parou e ergueu uma sobrancelha, curioso.

— Meu beijo de despedida. — Continuei. — Você disse que ia me ensinar todos os tipos de beijos… E ainda não me ensinou esse.

Christofer se aproximou de mim e me deu um longo beijo… na testa.

— Ué? — Foi minha vez de fazer um beicinho. Ele se afastou novamente, para ir embora. — Quando nos encontraremos de novo?

— Já está com saudades? — Christofer deu um sorrisinho bem simples.

Eu ri.

Ele fechou os dedos e esticou o polegar e o mindinho, simbolizando um telefone.

"Te ligo." Li nos lábios dele.

Ok. Aceito. Espero sua ligação.

Senti falta do beijo de despedida.

Por que eu queria tanto um beijo dele?

Christofer é um homem viciante. Eu estou tentando contorná-lo, mas ele também está tentando fazer o mesmo.

Preciso tomar cuidado com isso.

***

Avisei minha mãe que eu tinha perdido o celular para ver se ela parava de me m****r mensagens de cunho crítico, e ela se propôs a comprar outro para mim. Eu nem tinha pedido nada, vai ver que ela queria me agradar porque eu não morava mais com ela. Ou, só queria me controlar como sempre, não sei.

Alessandra não queria falar comigo ainda.

Chata.

Sei que minha amiga não concordava com nada daquilo que eu estava fazendo para conquistar Otávio, mas eu não tinha arrependimentos.

Pior é que eu estava me envolvendo em uma bola de neve e não iria admitir que ela estava certa.

Passei bastante tempo me lembrando dos beijos, pensando em estratégias para melhorá-los. Será que o Otávio gostaria que eu o beijasse daquela forma? Minhas chances de conquistá-lo iriam aumentar semana a semana.

Quando Alessandra finalmente foi me visitar de novo (depois de me desprezar cruelmente), ela entrou pela porta do meu apartamento e logo perguntou:

— Desistiu da ideia idiota?

— Não! — Gritei, para cortarmos essa discussão de uma vez.

— Q-quer dizer que você foi se encontrar com aquele cara incrivelmente bonito e sedutor?

— Sim! — Não escondi o sorriso. — Não só me encontrei com ele, como nos beijamos.

Alessandra sentiu uma tontura e teve que buscar amparo no sofá. Contei para ela tudo sobre meu primeiro beijo de verdade e meu trato com Chris. Como minha melhor amiga, achei que ela ia me dar forças e dizer que tudo ia dar certo.

Ledo engano. Ela simplesmente morreu de rir de mim. Morreu mesmo, batendo no balcão da cozinha com socos. Ainda pedia para eu repetir os gestos. Eu senti como se fosse uma sujeira de sapato.

— Você beijou o Chris de boca aberta? — Explodiu em gargalhadas. — Você inventou o beijo de tubarão!

— Você é a pior amiga que alguém pode ter! — Cruzei os braços, birrenta. Triste. Ela não só não estava me ajudando, como estava zombando das minhas tentativas e zombando das minhas esperanças completamente.

Depois de mais meia hora rindo, ela parou um pouco enquanto cozinhava, com um sorriso grande nos lábios. E voltou a rir.

— Prefiro que volte a me dar gelinho. — Falei, tomando um copo de refrigerante.

— Eu não te dei gelo, eu… eu estava passando mal.

— Sua mãe me contou da intoxicação alimentar. — Comentei, preocupada.

— Não foi intoxicação alimentar. — Ela falou bem baixinho, quase como se não quisesse falar.

— Então, o que foi? — Perguntei, ingerindo mais um gole da bebida.

— Nada. — O assunto morreu.

Alessandra estava fazendo comida e, unicamente por isso, eu ia perdoá-la por ter rido de mim e por estar fazendo segredinho. Ela estava dourando cebola e alho poró, e o aroma me deixou até suave depois do escárnio que ela fez.

— Você não tem medo de acabar gostando dele? — Ela perguntou, jogando belos e grandes camarões rosa naquela fritura sublime.

— Dele quem? — Perguntei.

— Do Chris! Você não tem experiência emocional alguma, Luci. — Ela tinha um sorriso confidente nos lábios.

— Bem difícil, ele não faz meu tipo. — Dei de ombros. Alessandra falava que eu gostava de homens no estilo sugar daddy, e eu sempre negava. Mas, comecei a achar que era verdade de uns tempos para cá.

— Mas é sua primeira experiência. Você perdeu o BV com ele, amiga! E, pelo que me disse, já deram outros beijos.

— Acho que não. Acho ele muito novo. — Expliquei.

— Ele é mais velho que você.

— Ah, mas ele deve ser o maior galinha, amiga. Imagine! Um loiro alto de olhos azuis. Gosto de caras mais introvertidos, mais exclusivos.

— Anotado a lápis. — Ela meneou a cabeça e jogou um pouco de champanhe na mistura. Depois, acrescentou creme de leite. Céus, o cheiro me fazia salivar.

O assunto morreu. Alessandra costumava saber mais de mim do que eu mesma. Isso me fez lembrar dos beijos. Acho que não consigo levar a sério um garoto que provavelmente beijou outras naquele mesmo dia, mas Christofer tinha o perigoso dom de fazer com que cada uma se sentisse especial durante o momento em que estava com ele.

Deve ser desesperador se apaixonar por Christofer. Imagino o terror psicológico que a ex-namorada dele estava passando para querer quebrar todos os instrumentos dele.

Não, eu não quero isso para a minha vida.

E, também, não a culpo. Os beijos dele são perfeitos.

Eu nunca beijei outra pessoa, mas eu sei o que é uma coisa perfeita quando experimento.

— Está suspirando, Luci? — Alessandra perguntou.

— Não, por quê? — Indaguei. A peste estava bem perseverante em me atazanar naquele dia.

— Porque você está ruborizada com os dedos na boca. — Ela falou. Não, eu não estava. Acontece que essa é minha feição de filósofa contemporânea.

Alessandra me entregou um dos pratos que ela tinha preparado e fomos para a sala. Dessa vez, a ruiva tinha se superado, a apresentação estava incrível.

A gente almoçava assistindo Netflix. Era sempre a mesma coisa: sempre combinávamos de estudar juntas, mas a gente passava o dia falando besteiras e mexendo no celular. Só conseguíamos começar a estudar às 23:45.

Coloquei uma garfada de talharim na boca e senti um sabor divino. Até ia abraçar Alessandra quando vi que ela não conseguia nem beliscar um camarão no prato. Ela estava com cara de nojo total.

Estranhei. Por que ela estava com nojo da própria comida?

— Amiga, você está bem? — Indaguei diante daquela expressão assombrosa dela. De repente, me lembrei da intoxicação alimentar dela e me perguntei se ela podia estar comendo aquilo. Mas, foi ela quem elaborou o cardápio.

— ... — Ela queria dizer algo, mas parou, se levantou e saiu correndo. Ela se meteu no banheiro e nem teve tempo de fechar a porta. Meteu a cara no vaso sanitário e ficou olhando ali dentro, sem conseguir concluir o ato. Ela quase abraçou a privada e eu fiquei do lado de fora com meu prato na mão, observando tudo.

— Quer me dizer alguma coisa, Alê? — Perguntei, após alguns segundos de silêncio.

Alessandra suspirou. Coçou a cabeça com força, bagunçando suas madeixas ruivas, olhou para mim e disse:

— Pode ser... talvez... que eu esteja grávida. — Confessou.

Fiquei surpresa, mas não demonstrei. Alessandra sempre me jogava as bombas, mas nunca me falava das situações antes de explodirem. Ela era misteriosa.

Ela se lavou um pouco, apesar de não ter vomitado, e voltou a se sentar diante do seu prato de comida. A angústia era visível em seu rosto.

— Bem, se estiver, cuidaremos com amor. — Falei, finalmente, abocanhando um camarão delicioso.

Alessandra se irritou com minha inércia e gritou:

— Fique surpresa, Luciana, droga! Você não vai perguntar como eu engravidei?

— É óbvio! Transando. — Dei de ombros.

— Mas, eu sou lésbica!

Respirei fundo.

— Amiga, nem sabemos se você está grávida ou não! Precisamos saber agora. — Peguei o telefone, achei o contato da farmácia, liguei e pedi o teste de gravidez. Demorou quase uma hora até o pedido chegar. Cada minuto foi recheado de tensão e angústia por parte dela. Eu não queria deixá-la pior do que ela já estava, então tentei distraí-la com besteiras sobre a faculdade. Alessandra era minha amiga e eu não podia tornar o momento ainda pior para ela.

Quando o remédio chegou, ela já estava com a bexiga estourando de tanta água. Antes de ela terminar de fazer o xixi, as duas linhas já estavam desenhadas, então ela gritou e me pediu que confirmasse para ela.

Tive que fazer sem pestanejar. Tive que ser forte por ela.

— Positivo. — Falei. Ela gelou, e eu também.

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