2. Meu Primeiro Beijo Foi Nele?

Despertei cuspindo uma lufada involuntária de água com gosto de cloro. Uma boca tinha acabado de tocar a minha, mandando ar para meus pulmões com toda a força, mas eu não identifiquei quem era, minha visão era o menos importante dos meus sentidos nesse momento.

Pensando bem, foi o primeiro beijo que eu recebi em toda a vida.

Fiquei alguns segundos entre a consciência e a inconsciência e senti meu corpo sendo carregado. Quando me forcei a abrir os olhos de vez, pensei que iria desmaiar. O amor da minha vida me carregava nos braços: Otávio Prescott.

Deus existe. Segurei meu rosário, em louvor. Eu sempre o manuseava, até inconscientemente, um hábito que adquiri desde a infância.

Fiquei tão ruborizada por ele estar ali que esqueci da multidão que tinha ao meu redor e que se perguntava onde estava o valentão que provocou meu acidente.

Eu só pensava em uma coisa. Toquei minha boca e lembrei que fui beijada. Assumi, imediatamente, que Otávio tinha feito respiração boca-a-boca em mim.

Quando olhei as pontas dos dedos, havia gotículas vermelhas. Só então, percebi que quase morri num acidente. Passei a língua nos lábios e senti o machucado. Ardeu.

Alessandra discutia com algumas pessoas, mas estava acompanhando tudo. Fui levada até a enfermaria por Otávio, que cuidou de mim como em várias outras oportunidades. Ele fez um curativo tão delicado na minha boca que fiquei mais apaixonada. Foi tão fofo que não reparei em mais ninguém ali presente. Aqueles olhos cor de mel junto aos meus fizeram meu coração palpitar rapidamente. Seu toque era tão delicado, atencioso. Acho que ele era o homem mais bonito que já esteve perto de mim. Seu hálito tinha aroma de menta.

— Você tem alguém para levá-la em casa? — Perguntou Otávio, preocupado, mas viu que eu estava bem. Eu estava sentada na maca da enfermaria, e ele estava diante de mim. Só não deve ter entendido minha cara de idiota apaixonada.

— T..tenho. — Falei.

Falei com o meu amor. Tremi de nervosismo, como em todas as outras consultas. Aquela ansiedade ao estar perto dele nunca ia passar?

Eu me recordei dos lábios que senti me tocando. Eram os dele. Meu primeiro beijo foi com meu amor? Só posso estar sonhando, alguém me belisca?

— A Luciana bateu a cabeça, professor. — Reivindicou Alessandra, me beliscando. Eu sofri um acidente e a idiota me belisca. Ela ouviu meus pensamentos? — Não temos como levá-la em casa.

— M...mas é só… — É só chamar o chofer, pensei.

— Calada, você bateu a cabeça muito forte. — Alessandra me beliscou de novo. Eu apalpei a região assiduamente. Já tinha tomado um soco na cara e dois beliscões. Eu me sentia esculachada como aquelas mulheres que brigam por homem na rua.

Só quando ouvi uma voz desconhecida notei que tinha alguém ali do lado de Otávio.

— Eu as levo em casa, Otávio. — Disse um rapaz loiro. Ele era forte, e era bem bonito, na verdade. Ele estava de braços cruzados e expressão preocupada. Ele estava com os cabelos molhados.

— Pode fazer isso, Chris? Vou com você, depois você me deixa em casa. — Disse Otávio.

Eu reprimi um susto. Reconheci aquele cara! Era ele quem estava ao lado da piscina, foi a ele que eu disse aquelas gracinhas antes de ser jogada na água. Meu Deus, eu tinha falado besteiras bêbada para um conhecido do meu professor!

Virei meu rosto e o escondi com uma mecha de cabelo, ruborizada. Chris. Espero que ele não conte nada para o Otávio sobre mim.

Eles nos levaram de carona até meu apartamento e depois conversaram com minha mãe sobre o que aconteceu, mas eu juro que não senti aquele momento, ainda estava em choque e pensando em como Otávio era perfeito e responsável. Eu amei ver seu lado daddy preocupado. Eu estava nas nuvens.

Tive mais certeza de que preciso dele em minha vida.

Alessandra foi muito cuidadosa, e preparou um chá quente para mim. Ela estava acostumada a mexer nos armários da cozinha da minha mãe, que falou alguns impropérios sobre o acidente enquanto eu mergulhava na minha cama.

Olhei em volta e percebi como eu não sentia mais meu antigo quarto como sendo meu.

Alguns minutos depois de deitar na minha cama e sentir as dores começarem a voltar, tentei rebobinar a fita e entender tudo que aconteceu. E lembrei-me que Alessandra tinha muito a me explicar.

Alessandra trouxe minha xícara e se deitou ao meu lado na cama, ficamos escondidas sob o cobertor enquanto eu tomava um gole quente e revigorante daquele líquido. Era camomila, bem o que eu estava precisando.

— Alê, o que aconteceu? — Indaguei, finalmente.

— Amiga, antes de mais nada, você tem que me agradecer por ter procurado o professor-médico para socorrer você.

— Obrigada, Alê. — Abracei-a, muito emocionada só de lembrar. — Mas, você mexeu mesmo com a namorada daquele babaca?

— Amiga... — Alessandra ofegou um pouco antes de responder. — Você realmente acertou mais cedo. Eu sou lésbica.

Continuei olhando para ela. Acho que ela pensou que eu ia surtar e se decepcionou.

— Ok. — Eu disse.

— Ok? Não vai falar que tem medo de eu me apaixonar por você e por isso vai se afastar de mim? Todas as minhas amigas fizeram isso. — Murmurou a ruiva, fazendo um beicinho.

— Amiga, olha para você. Você é linda, seria uma honra se me quisesse.

A gente riu um pouco.

— Você é maravilhosa, Luci. — Ela falou, acariciando meu rosto. — Detesto sua mãe por fazer você pensar o contrário.

Suspirei. Eu nem sei por que ela mandou os rapazes nos trazerem aqui no apartamento da Amélia. Eu fico muito mais confortável sozinha. Quis mudar de assunto e disse:

— Obrigada por ter me ajudado com o professor.

— Como se sentiu sendo carregada por ele? — Ela perguntou, risonha.

— Maravilhosa! — Abracei meu travesseiro, tentando resgatar da memória tudo que podia sobre o acontecimento. Eu estava com a boca machucada e dores no corpo, mas tudo bem. Deu tudo certo, afinal. — Alê, você não pode pegar mulheres comprometidas.

— Ela estava dando mole para mim, Luci! — Alessandra murmurou.

— Mesmo assim. — Fechei meus olhos e continuei sonhando acordada, lembrando do sabor dos lábios do meu médico favorito.

— Você está bem, Luci? Achei que ia morrer. Foi uma queda de metros, e tudo por minha causa.

— Nossa, eu não sei o que seria de mim sem os remédios para dor. Mas, vaso ruim não quebra. — Murmurei.

— Caramba, foi tudo muito rápido. Eu só consegui gritar. Desci correndo as escadas para te ajudar e acabei encontrando o professor no meio do caminho. Só falei "Acidente! Minha amiga sofreu um acidente!" e puxei ele pelo braço. Ele foi correndo ajudar, bem solícito.

— Ele é um amor. Eu o amo. — Apertei o travesseiro com minhas pernas, sorrindo. — Mas como eu não morri afogada? Deu tempo de ele correr e mergulhar na piscina?

— Não, amiga, não teria dado mesmo. — Alessandra explicou. — Quem mergulhou para te salvar foi o Chris.

— Chris? Quem é esse? — Fechei a expressão, eu tinha ouvido aquele nome em algum lugar.

— O irmão do professor. — Alessandra falou como se fosse óbvio.

— Irmão do professor? — Comecei a não gostar daquele assunto. Se fosse quem eu estava imaginando, faria sentido ele estar de cabelo molhado. — Está bem, mas... mas... O professor chegou e fez respiração boca-a-boca em mim.

Fiquei apavorada. As próximas palavras de Alessandra poderiam me levar do céu ao inferno.

— Não, amiga. — Alessandra estranhou. Ela só percebeu nesse momento o quanto eu estava iludida. — O professor te levou à enfermaria. Quem fez respiração boca-a-boca em você foi o Chris.

O quê?!

Aqueles lábios que eu pensei serem do meu amado Otávio eram de outra pessoa?

Quem me deu o meu primeiro beijo foi o Chris?!

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