CONTOS DE FÁBULA
CONTOS DE FÁBULA
Por: J. Eff
PRÓLOGO

Uma folha vermelha se desprendeu da frondosa árvore que me refugiava sombra. Por trás da montanha o sol se despedia, sangrando o azul celeste e convidando o anoitecer. Desviando o olhar para a passagem há alguns metros de mim, senti meu rosto se transformar em um sorriso tímido. A grama se estendia entre ela e eu, formando um tapete verde sombreado pelas copas das muitas árvores que se projetavam ao céu. Mas naquele momento só me importava aquele vulto que se projetava, anunciando a chegada da donzela tão aguardada.

A jovem me observou por um instante, retribuindo meu tímido sorriso com um mais largo e atrevido. Seu rosto alvo de pele sedosa rosava pelo esforço através do dificultoso trajeto. Ela ergueu-se assim que conseguiu sair do buraco, sacudiu o vestido azul fazendo voar alguns pedaços de grama e, após ajeitar os cachos dourados, apressou-se em minha direção.

- Espero não ter demorado mais que o costume! - Comentou em meio ao sorriso.

- Não mais que o costume. - Retruquei implicante enquanto erguia-me também sacudindo a roupa para então continuar: - Estava pensando sobre sua proposta de viver em seu mundo...

- Esta é sua única chance! - Sua fala assumiu uma urgência inesperada. - Aproxima-se o fim do ciclo e logo a passagem não mais estará aberta. Você precisa decidir se irá comigo ou se permanecerá aqui. E precisa decidir agora!

O sorriso em meu rosto deu lugar a um misto de pesar e preocupação, visivelmente notado no semblante decaído de sobrancelhas curvadas. Já havia sido alertado sobre nosso tempo restrito e no início tomei seu aviso como o prenúncio de um amor de verão. Mas a medida que os dias passavam em sua doce companhia, era cada vez mais difícil a despedida. Seu toque macio e a doçura dos seus lábios, seu olhar acolhedor e sua voz apaixonante... Já não conseguia imaginar minha vida sem ela. E antes do que imaginei, precisava decidir prender-me de vez ao amor que nutria e abandonar o meu mundo ou deixá-la ir para sempre. Sabia que um dia teria que me decidir mas não imaginava ter que fazê-lo tão repentinamente.

Do outro lado daquele buraco aguardava um mundo novo, tão fantástico quanto perigoso. Um mundo habitado por criaturas diminutas com asas e um imenso poder. Guerreiras de uma ordem secreta, trajadas de mantos vermelhos e armas letais. Lobos imensos de aspecto humanoides. E criaturas tão diversas, perigosas e belas que aguçavam ainda mais meu desejo de embarcar naquela aventura sem volta.

Respirei fundo ainda pensativo enquanto caminhava em direção à passagem. Não sei por que me veio à mente, naquele exato momento, uma intrigante pergunta na qual nunca havia pensado. Cortando por completo o clima que se formara, a pergunta fugiu dos meus lábios:

- Por que chamam a passagem de "Toca do Coelho"?

- Se vier, conto-lhe no caminho. - Respondeu Alice

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