Capítulo 3

DOMINIC

Eu estava completamente ferrado. Havia oito mensagens de tio Aspen, cinco de tia Sabrina e pelo menos umas doze ligações de minha mãe, o que, resumindo de modo bem sucinto, significava que eu estava ferrado. Ferrado pra cacete.

Quando cheguei no aeroporto, às 17h32, eu sabia que havia pisado na bola. Não apenas sabia, mas sentia-me culpado e envergonhado por isso.

Tio Aspen tinha feito um pedido e estava esperando de mim. Se ele realmente quisesse me matar, tinha todos os motivos do mundo para cometer tal ato: sua sobrinha não merecia essa recepção nem um pouco bem admita. A garota havia perdido a mãe há poucos dias, estava se deslocando de sua cidade natal para outra completamente desconhecida, provavelmente estaria super cansada devido a viagem e, Dominic Sant, um grande idiota, tinha esquecido de buscá-la no maldito aeroporto porque estava tentando se afogar na bebida na tentativa inútil de esquecer que sua ex havia tido a audácia de lhe mandar o convite de seu camento.

As coisas começaram a fazer sentindo para mim a partir daquele minuto: talvez coisas ruins acontecessem comigo, porque eu era uma pessoa relativamente ruim. Não se pode dar coisas boas a quem não pratica o bem, certo?

Completamente envergonhado, dirigi de volta para casa, preparando-me para as inúmeras reprimendas que estariam por vir.

Quando estou prestes a abrir a porta, no entanto, ouço um aglomerado de vozes, gargalhadas altas e estrondosas. Hesitante, só decido entrar depois de alguns segundos e de uma dose súbita de coragem me invadir.

No momento em que coloco meus pés na sala, toda a família está reunida no local e todos os olhares são desviados para mim. Entretanto, apenas um olhar na sala me fisga a atenção e eu acredito que isso acontece por ser o único olhar ainda desconhecido por mim.

Então era ela. A sobrinha de tio Aspen. Seus olhos acinzentados e bem expressivos me analisam sem pudor algum. Seu cabelo é vermelho como o fogo e não é apenas isso que lhe é chamativo. Ela, como um todo, chama a atenção. Não que eu nunca tivesse visto outras garotas ruivas por ai, mas aquela garota era diferente. Ela é... não sei... apenas diferente.

— Alina, Alina! Esse ai que é o meu tio Dominic, aquele que a mamãe falou há pouco tempo que era extremamente irresponsável e egoísta, você lembra, você lembra?

A voz fina de Sophia soa arrancando de todo mundo uma sonora gargalhada, exceto de mim, é claro.

Olho para Lexie ressaltando meu aborrecimento e ela simplesmente se faz de desentendida.

— Ora, ora, se não é o furão do meu filho... Podemos saber onde o senhor estava, uh?

Mamãe deu início a sessão de constrangimento na frente de toda a família.

Então era isso, eu seria exposto e crucificado na frente de todos. Ótimo, Sant! Ótimo!

— Eu... bom...

— Que feio, tio Domi! Se não fosse eu e meu papai a coitadinha da Alina ainda estaria toda entediada esperando pelo senhor! Isso é tão feinho, tio...

Até mesmo Sophia estava me dando um sermão.

Minha sobrinha de nove anos estava me dando um sermão.

Nove anos, Dominic.

Ela é só uma criança e está te dando um sermão. Anda, cara, faça alguma coisa! Se mostre superior! — meu subconsciente me encoraja, entretanto, tudo que consigo dizer a seguir, é:

— Eu sinto muito... — olho para mamãe, em seguida corro meus olhos na direção de tio Aspen.

Ele não parece muito contente e isso não me admira.

— Ai, ai, ai, Dominic! Já pedi milhões de desculpas para a Alina, mas, ainda assim, fico extremamente constrangida de saber que a coitadinha ficou a nos esperar por quase duas horas...

— Dona Amanda, não tem problema nenhum. Sério... — A ruiva pousa seus olhos em mim rapidamente. — Está tudo bem. Imprevistos acontecem. Quem adivinharia?

Eu acabo cedendo um sorriso fraco para a garota.

Ao menos ela, que foi a única "prejudicada", parece me entender.

De repente, todas as atenções, graças à Deus, são desviadas de mim por um rápido período de tempo quando Henri adentra na sala juntamente a Barbara, sua namorada.

— Ah, Domi! Aí está você! Cara, me desculpe, é que, bom... — ele passa o olhar por todos na sala. — meu carro quebrou e o Domi fez o grande favor de me emprestar o seu. Precisei resolver algumas coisas, me empolguei e esqueci totalmente a hora... eu... sinto muito. Sério. — ele varre com os olhos em busca de alguém em específico. — Alina, me perdoe de verdade. Não era a minha intenção, eu juro. E, a propósito, seja muito bem-vinda em casa!

Fico surpreso. Henri rola seus olhos em minha direção de modo discreto e eu ainda custo a entender o que ele acabara de fazer.

Ele me lança um olhar esquisito. Como se estivesse implorando para que eu apenas confirmasse sua história. Sem enxergar uma outra alternativa, assinto, concordando com toda a sua mentira que naquele minuto era uma verdade para muitos.

E, talvez, minha única escapatória.

— Por que não me avisou? Eu poderia ter emprestado o meu, Henri...

Tio Aspen disse, bebericando seu suco, com um olhar um tanto quanto desconfiado.

Todos sabíamos que Henri e eu éramos unha e cutícula desde que nos entedíamos por gente, assim como Lexie e Hector se davam super bem.

Mesmo Henri sendo um pouco mais velho, quando éramos meninos, prometemos um ao outro que jamais mentiríamos um para o outro. Mas que mentiríamos para ajudar o outro se aquilo parecesse o certo a se fazer.

Foi então que eu compreendi. Ele estava tentando me safar de sermões desnecessários. Eu sabia que, em tese, era por pena. O pobre Dominic, traído, de coração partido, não merecia levar mais uma rasteira da vida. Eu deveria ser poupado, esse era o caso.

Deus, veja só quem me tornei, sou um homem digno de pena!

— Não sabia se iria precisar, pai. Da próxima vez, eu vou... vou fazer isso. Me desculpe.

Cara de pau.

Henri Leho era um verdadeiro cara de pau. Meu primo leva a vida de um jeito leve. Ele não deposita tanta expectativa sobre nada e eu desejava ser mais com ele. Talvez obtesse mais sucesso nela.

— Bom... — tia Sabrina abre um largo sorriso. — Deixando as contendas de lado, vamos voltar a jantar? Estou certa de que Alina está faminta e todo esse reboliço deve está assustando-a, não é querida? Mas eu prometo, nossa família é super normal...

Alina solta uma leve risada.

Ela é bonita. Bonita até demais. Consegue, com facilidade, arrancar qualquer olhar para si.

Seu sorriso é bonito, embora não pareça um sorriso de toda a sua plenitude. Pudera, perder a mãe, deixar a cidade que mora, os amigos, namorado, provavelmente isso era terrível.

E eu achando que minha vida era uma droga.

— Imagine, dona Sabrina... vocês são ótimos. Tenho me sentido muito acolhida desde que coloquei meus pés nessa casa.

— Epa, epa! — tia Brin repreende-a e todos já conseguem imaginar o motivo. — Dona, não. Por favor! Pode me chamar de tia Brin, mas dona, não. Dona parece coisa de velha, e velha eu ainda não sou.

— Qual o seu problema com os velhinhos, tia Sabrina? Ah! E a mamãe falou que não é velhinho e sim idoso! — Sophia indaga, aparentemente ofendida com o comentário de nossa tia.

Tenho de ceder uma risada baixa e fraca.

Sophia era engraçada, eu deveria admitir.

— Querida, eu não estou dizendo que tenho problema com os velhinhos, eu... — Sô censura minha tia com os olhos. — Quero dizer, com os idosos. É só que... bom... que tal voltarmos a jantar, uh?

— Isso. Isso mesmo, mocinha. Trate de terminar seu jantar. — Lexie murmura para sua garotinha desenfreada, que assente e volta a se dedicar ao se jantar, como se nada tivesse acontecido.

— Meu filho, não vai sentar-se conosco? Seu pai não virá para o jantar, venha, sente-se aqui do meu lado!

Nego, balançando a cabeça, enquanto coloco as mãos nos bolsos da calça.

— Estou sem fome, mãe. Não se preocupe. Além disso, estou com dor de cabeça. Acho que vou deitar um pouco.

— Domi, precisa se alimentar, filho.

— Eu farei isso, mãe. Não se preocupe. Peço a Meg que guarde para mim, quando me sentir melhor, desço.

Mamãe dá de ombros.

Passo rapidamente por Henri e deposito dois leves tapas em seus ombros. Ele me lança um olhar cheio de cumplicidade.

Antes de caminhar em direção a escada, no entanto, giro o corpo e me direciono a Alina.

— Alina... mais uma vez, sinta-se em casa. Seja bem-vinda e... desculpe por todo esse... — eu olho para Henri, ele ri, fingindo vergonha, depois olho para ela. — Por isso.

Ela morde os lábios avermelhados levemente.

— Hã... tudo bem e... obrigada, mesmo assim.

Sorrio.

— Pode fazer mais do que simplesmente pedir desculpas, irmãozinho. — Lexie diz num tom de deboche e provocação. — Como por exemplo, convidá-la para conhecer a cidade amanhã, quem sabe...?

Olho para Lexie. Ela gosta de me provocar. Sabe que nos últimos meses não tenha tido ânimo para sair, salvo para ir ao escritório. E, vale ressaltar que, ir ao escritório não passa de uma grande obrigação.

Depois de tudo que acontecera com Kate, simplesmente alguma parte de mim havia murchado. Não tinha ânimo mais para muitas coisas. E, pode parecer besteira ou frescura, mas era a verdade.

Quando você ama alguém e você a perde, de alguma forma que seja, você se perde também. E se encontrar novamente pode ser um grande problema por um tempo.

Será que eu nunca mais me encontraria?

Encarei Lexie. Me doía admitir isso, mas minha adorável - ou nem tanto - irmã, dessa vez, só dessa vez, parecia ter razão.

Talvez eu pudesse me redimir com tio Aspen se me dispusesse a levar a garota para conhecer alguns pontos turísticos da cidade.

Voltei meu olhar para a ruiva.

— Ânh... Lexie tem razão. Posso fazer isso se quiser...?

Aparentemente envergonhada, Alina olha de modo desajeitado para tio Aspen que, depois de olhá-la, me encara sério.

Ele estava com raiva. Ele sabia que Henri havia mentido para me ajudar.

Merda.

— Não sei. Acho que precisa de um bom guia turístico, Alina. Mas, se quer saber, conheço alguém que faria muito bem esse trabalho...

Um sorriso divertido surge no canto dos lábios de meu tio. Crispo a testa.

Quem seria essa pessoa????

Sigo seu olhar, assim como todos ali presentes.

Ah, não. Não. Não. Não. Não.

Definitivamente, não!

— Sim, sim, sim, sim!!!! Acertou em cheio, tio Aspenzito do meu coração! Eu super-hiper-mega quero ir!! Eu posso, mãe? Posso papi? Posso? Por favor!

Lexie olha para mim se divertindo com toda a situação, depois ela e Stephan se entreolham.

— Bom, se seu tio Dominic quiser levá-la e prometer que vai tomar conta de você, não vemos problema algum, não é, amor? — Stephan diz olhando para Lexie, que concorda, para meu grande azar.

Tio Aspen queria me castigar por ter sido tão irresponsável. Conseguiu.

Teria de ser babá por um dia.

Belo preço a se pagar, Dominic. Belo preço.

— Ótimo...

— Eba!!! Vai ser mais que demais, Alina!! Mal posso esperar...

Sorrio para Alina, dessa vez de modo forçado, já me arrependendo de ter feito tal convite.

Parabéns, Domi! Você é mesmo um cara muito sortudo!

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