Lidando Com A Dor.

Bom dia/ Boa tarde/ Boa noite/ Boa madrugada.

Aqui vai mais outro capítulo, espero que gostem e compartilhem a história.

Está história terá uma playlist oficial com músicas originais, estou trabalhando nas canções e quando estiver pronto irei disponibilizar aqui para vocês.

Boa leitura !

Byeeeeeeeeee !

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Pov. Izzy

As vezes a melancolia pode trazer com ela um pouco de humor, humor negro. Tudo nesse cemitério me faz querer rir, as pessoas que nunca vi, os que fingem estar sofrendo, os que nunca nos deram bom dia antes vindo cumprimentar a mim e meu irmão.

A hipocrisia um dia ainda vai ser a destruição da humanidade.

Talvez já esteja fazendo isso.

- Eu estou indo embora. - digo para meu irmão me levantando antes mesmo do padre iniciar as homenagens da missa de um mês da morte dos meus pais. 

- O que ? - questiona se levantando e sei que ele está vindo atrás de mim, sei disso, pois posso ouvir os cochichos a nossa volta. - Ainda nem começou a missa. - diz meu irmão e eu paro de andar.

Me viro e olho para ele, seu cabelo loiro recém cortado, a barba bem feita, seus olhos azuis assustados, ele se parece tanto com nosso pai que é como se eu estivesse vendo uma cópia mais jovem dele parada na minha frente enquanto eu sou uma cópia jovem da minha mãe, ruiva de olhos verdes. Suspiro e ele se aproxima de mim, Nick segura minha mão e sorri fraco.

- Eu sei que é difícil, mas temos que passar por isso juntos, nós só temos um ao outro agora. - diz calmo e baixo olhando em meus olhos.

- Eu sei disso, assim como você sabe que a hipocrisia e demais para o ser superior em mim aguentar. - digo e ele assente.

- Entendo, realmente tem muitas pessoas fingidas aqui, confesso que não achei que viria tantas pessoas. - diz pensativo e eu assinto. - Pode ficar mais afastada se quiser, só não vá embora, preciso somente da sua presença para ter coragem de ir ali falar sobre eles. - pede e eu assinto.

- Tudo bem, mas o jantar é por sua conta. - digo e ele revira os olhos.

- Pode apostar que é. - diz sorrindo e em seguida volta para o seu lugar.

Respiro fundo e em seguida olho em volta, vendo somente túmulos, capelas e árvores, vejo uma enorme árvore que fazia bastante sombra em um lugar mais afastado de todos e caminho até ela. Me sento embaixo da árvore e assisto a missa um pouco impaciente por ter que continuar aqui, mas meu irmão precisa de mim, não posso deixar ele sozinho. Nick é o mais velho, porém parece ser o mais novo, pois ele tem a alma de uma criança, ele está sempre brincando com as crianças na rua de casa, as vezes as leva para o parque de diversões, ele sempre está fazendo todos a sua volta sorrir.

E eu adoro isso nele.

Sua pureza.

Sorrio ao ver meu irmão se levantar para ler seu discurso, ele passou semanas escrevendo isso. Observo as reações das pessoas e reviro os olhos para as lágrimas de crocodilo da maioria. Como maneira de me distrair começo a observar os nomes nos túmulos, depois de algum tempo estou rindo sozinha dos nomes nas lápides.

É um mais estranho que o outro.

Tipo quem diabos se chama Cornélio ?

Continuo observando até que um me chama atenção, pois não me lembro de conhecer alguém com esse sobrenome na cidade. Me levanto é caminho até a lápide que ficava mais afastada, parecia uma área reservada pela família para apenas túmulos de familiares. Assim que estou próxima da lápide vejo dois nomes " Catherine McGauthier Leblanc é Hector McGauthier Leblanc ", as datas de falecimento dos dois constava para quase vinte anos após o fim da segunda guerra mundial o que me deixa surpresa por ver um túmulo tão antigo ainda cem por cento intacto, o que significa que alguém ainda cuida daqui. Noto uma frase estranha em formato bem pequeno, quase invisível para olhos despreocupados, por trás de uma coroa de flores que já estava precisando ser trocada e quando vou tocar nela, sinto um calafrio forte, isso me faz paralisar.

- Você é alguma espiã de túmulos ? - ouço uma voz rouca e me viro assustada.

Fico surpresa por ver uma garota de cabelo longo e castanho claro, quase loiro, com um sobretudo preto muito lindo por sinal com o capuz cobrindo sua cabeça, calça jeans preta rasgada nos joelhos, coturno preto, mas sem salto. Ela é um pouco, um pouco muito na verdade bem mais alta que eu e o guarda chuva aberto e levemente abaixado para a frente me impedia de ver seu rosto.

Temos aqui a mulher de preto.

Será que ela é de alguma seita satânica ?

Ou pode ser que ela seja apenas uma pessoa louca pela cor preta.

- Não sabia que a curiosidade tinha subido de nível, espiã de túmulo é uma patente muito alta para mim. - respondo meio incerta do que estou dizendo.

Não ver seu rosto tá me deixando nervosa.

Não gosto de contato com desconhecidos.

- Então bisbilhoteira seria o termo correto para você. - diz e não sei porque, mas tenho a impressão de que ela está olhando para o túmulo por trás desse guarda chuva. - Você os conhece ? - pergunta e eu nego.

- Não. - respondo olhando rapidamente em direção ao meu irmão que ainda estava discursando.

- Então porque está bisbilhotando o túmulo de pessoas desconhecidas ? - questiona mantendo o guarda chuva aberto e cobrindo seu rosto.

- Porque está tão preocupada em saber o motivo de eu estar aqui olhando ? Por acaso você é a coveira daqui ou alguma fiscal de túmulos ? - pergunto focando na frase estranha.

- Não estou, apenas espero que o cara que estava discursando ali do outro lado não sugue minha alma com o olhar que ele acha que é amedrontador. - responde e eu a olho e porque diabos fui fazer isso.

A garota estava fechando o guarda chuva lentamente, senti como se tudo estivesse em câmera lenta, os olhos azuis claros focados em suas mãos, os lábios pintados de vermelho, maquiagem leve, pele alva, ela tem traços marcantes.

A desgraçada é bonita.

E acho que não toma banho de sol.

Certo, nossa cidade não é a mais ensolarada do Estados Unidos, mas tem um verão legal.

- Vai continuar me analisando da cabeça aos pés, ou vai logo me dizer seu nome ? - questiona finalmente olhando diretamente para mim.

- Eu não sabia que pra conversar com estranhos precisava dizer o nome. - respondo e ela semicerra os olhos me encarando ainda mais séria que antes.

- Mesmo você sendo claramente mal educada, eu vou te dizer em qual idioma essa frase foi escrita. - diz olhando para o túmulo. - Der tod ist nicht immer das ende, das leben einiger beginnt im grab. - diz e eu faço uma careta em resposta ao que ouvi, o que faz ela sorrir de forma contida. - É alemão. - completa se virando.

- Obrigada, eu acho. - digo incerta, afinal eu não sei falar alemão.

Não muda nada saber em qual idioma está escrito e nem ouvir ela falando com esse sotaque estranho, mas ao mesmo tempo bonito. Reviro os olhos pegando meu celular, coloco na câmera e dou zoom na frase e tiro uma foto.

Vou descobrir o que significa isso.

Ou eu não me chamo Isabelle.

- Disponha senhorita, Lavely. - diz abrindo o guarda chuva e em seguida se vira para mim e estende o guarda chuva em minha direção.

- Como sabe meu sobrenome ? - pergunto e ela revira os olhos. 

- Vai chover. - diz e eu olho para o céu vendo que realmente o céu está escuro dando indícios de que vai chover.

Olho para ela que continuava com o guarda chuva estendido em minha direção e decido aceitar, porque pelo que parece ela não vai aceitar que eu não o pegue. Assim que eu pego o guarda chuva ela se vira novamente e começa a andar, mas logo para e sem olhar para trás torna a falar.

- Nos vemos por aí. - diz e em seguida volta a andar.

Fico confusa com esse encontro inesperado com uma estranha esquisita, que começou comigo sendo curiosa ao ponto de fuçar túmulos alheios. Sinto algo molhado sobre minha pele e olho para cima, um pingo de chuva cai sobre meu rosto, o que me faz sorrir, afinal não chove desde que meus pais morreram, olho para a frente e vejo que a garota já sumiu de vista.

Tão rápido.

Devia estar com pressa.

- Izzy, vamos. - ouço a voz do meu irmão e me viro na direção de onde veio o som.

- Já acabou ? - pergunto caminhando até ele que estava parado próximo a mim.

- Sim, vai chover, tivemos que pular algumas partes. - responde estendendo seu braço para mim que ao chegar ao seu lado aceito.

- Vamos pra casa. - digo e ele assente.

Caminhamos em silêncio até o carro de Nick e em seguida fomos para casa, todo o trajeto foi em silêncio também, meu irmão parecia pensativo e isso era meio estranho para o habitual bom humor de tagarela dele. Nossa casa não ficava muito longe do cemitério, apenas quarenta minutos, por isso quando meu irmão parou o carro em frente a nossa casa, eu não me surpreendi, apenas fiquei olhando para ela.

Nosso lar.

Agora incompleto.

Sem as piadas sem graça do meu pai que ele ria feito louco enquanto contava, sem a voz da minha mãe toda manhã cantando junto com o rádio, sem panqueca com carinha feliz na hora do café, ou o papai contando histórias durante a noite de filme em família. Suspiro e saio do carro andando em direção a entrada, ouço meu irmão ativar o alarme do carro e em seguidas seus passos atrás de mim. Abro a porta e vou em direção as escadas, subo para meu quarto, tiro a roupa e entro no banheiro. Tomo banho pensando em como a vida pode ser injusta as vezes, tanta gente ruim vive por quase cem anos, enquanto meus pais não chegaram nem aos cinquenta. Termino meu banho com uma sensação ruim no peito, talvez seja porque eu não chorei em momento nenhum, nem quando meu irmão foi me buscar na escola e ao me ver me abraçou contando o que tinha acontecido, ele chorou tanto enquanto eu não conseguia nem esboçar reação, eu achei que fosse porque eu não estava acreditando, mas nem quando vi seus corpos nos caixões, eu não consegui e ainda não consigo expressar nada.

O que isso faz de mim ?

Que tipo de pessoa eu sou ?

Meus pais eram tudo pra mim, então porque não consigo sentir a dor ?

Eu sou seca por dentro ?

Me visto com calma e em seguida desço em busca do meu irmão, o vejo entrando já tomado banho e com roupas mais leves, ele sorriu ao me ver e levantou a caixa de pizza.

- Vejo que já adiantou o jantar. - brinco e ele assente.

- Claro, tenho que cuidar da minha irmãzinha. - diz e eu sorrio negando com a cabeça.

Ele coloca a pizza na mesinha de centro da sala e em seguida foi em direção a cozinha pegar o refrigerante e os copos. Eu me sento no sofá e ligo a televisão para colocar algum filme.

- Sabia que temos vizinhos novos ? - questiona meu irmão e eu me viro para olhar ele que se aproximava. 

- Não. - respondo simples.

- Eu também não, apenas vi um jaguar muito bonito por sinal estacionado na frente da casa e um caminhão de mudança logo atrás. - diz e eu nego com a cabeça. - Coloca algum filme sobrenatural. - pede eu reviro os olhos.

- Você é seus filmes idiotas de seres sobrenaturais, místicos e blá, blá, blá. - digo colocando qualquer um.

- Como papai dizia " você é uma fã encubada desse universo de filmes maravilhosos ". - diz e eu sorrio negando. 

- Vai sonhando bebezão, você tem a mesma retardadice que ele tinha por essas coisas bobas. - digo e ele sorri largo.

Ficamos em silêncio nos olhando até que ele suspira e abaixa a cabeça, fica alguns segundos assim até que levanta novamente com seus olhos marejados, o que faz meu peito doer.

Odeio ver ele assim.

Pessoas como Nick não deveriam sofrer.

- Eu sinto tanta falta deles, mas sabe o que é pior ? - diz me olhando e eu vejo uma lágrima deslizar por seu rosto, mas ele logo trata de enxugar. - O pior é que papai sempre me disse para cuidar de você quando esse momento chegasse, porque você costuma esconder tanto o que sente desde que... - faz uma pausa e eu assinto. - Aquilo lá, que não saberia como lidar com essa dor e caberia a mim como irmão mais velho e sua única família te ajudar a passar por isso. - completa deixando as lágrimas deslizarem por seu rosto e eu me levanto e vou até ele é o abraço.

- Não se preocupe comigo, eu estou bem. - digo incerta, afinal não sei definir como me sinto.

- Não, você não está, eu vejo isso. - diz me abraçando. - Você ta diferente Izzy, eu tenho medo de perder você também, que você fique daquele jeito de novo. - continua me deixando sem reação. - Você não sabe lidar com essas situações, você se fecha, porque não consegue sentir no primeiro momento e fica se achando um monstro por isso, mas depois você fica arrasada, foi assim quando o vovô morreu e aquilo aconteceu, eu sinto que agora você ta do mesmo jeito e eu não consigo fazer nada. - completa e eu me sinto mal.

- Você não vai me perder, eu estou aprendendo a lidar com a dor. - me afasto um pouco para olhar em seus olhos. - Mais se quiser, podemos fazer uma terapia de irmãos, o que acha ? - pergunto e ele nega.

- Não, você é péssima em levantar astral. - responde rindo. - Se bem que o fato de você ser péssima nisso, as vezes te faz ser boa nisso. - continua e faz uma careta confusa. - Droga, me perdi. - completa me fazendo rir.

- Bebezão. - digo divertida e ele me empurra de leve.

- Volta para o teu lugar, chega de chorar, vamos comer e assistir. - diz e eu assinto voltando para o meu lugar.

Aperto play para dar início ao filme enquanto ele abre a caixa de pizza, pega um pedaço e passa pra mim, aceito e em seguida ele coloca refrigerante pra mim. Ficamos assistindo um filme qualquer de vampiro que eu nem me dei ao trabalho de ver o nome. Em algum momento do filme eu já estava mais que entediada enquanto meu irmão não parava de falar dos personagens me fazendo revirar os olhos. Em alguma cena que eu não estava prestando atenção, um dos personagens fala algo sobre cemitério e eu automaticamente me lembrei da garota estranha, da nossa conversa e do túmulo com frase. Pego meu celular e baixo o google tradutor, em seguida entro na função de traduzir imagens e coloco a foto que tirei, demora alguns segundos até que a tradução aparece me deixando surpresa. 

" A morte nem sempre é o fim, a vida de alguns começa na sepultura. "

Nossa.

Que mórbido.

Parece frase de filme sobrenatural.

- Aaah, esqueci de dizer. - Nick chama minha atenção. - Amanhã você tem que voltar para a escola, não posso mais pedir licença pra você, sabe como eles são rígidos. - completa e eu reviro os olhos assentindo.

Ótimo.

Já não basta os adultos fingidos, agora vou ter que aturar os adolescentes também.

______________ Continua ______________

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