Capítulo 1 - Rivalidade

Eu morava em Rívales, uma cidade que ficava em um dos poucos países que ainda não havia se convertido à monarquia e um dos poucos países que ainda funcionava bem assim.

Havia muitos anos que os presidentes haviam se tornado obsoletos em quase todos os países, onde sugiram reis e com eles a guerra em busca de poder.

Em uma dessas guerras meus pais morreram, por isso eu fui criada por meus tios, que cuidaram de mim como uma filha, o que despertou ciúmes no verdadeiro filho deles, meu primo Felipe, que demonstrava seu desprezo por mim sempre que podia, mesmo que eu tentasse manter um relacionamento saudável e civilizado com ele.

...

Acordei cedo e fui tomar meu café da manhã, como sempre, e Felipe já estava sentado à mesa enquanto minha tia preparava o café.

- Seu suco está na geladeira, querida. - anunciou ela assim que me viu.

- Obrigada tia.

Meu primo revirou os olhos, como sempre fazia.

Eu não gostava muito de beber café, por isso minha tia sempre preparava um suco para mim. Felipe dizia que eu era frescurenta, mas minha tia incentivava a minha preferência, já que ela era nutricionista e sempre me fazia cuidar da minha saúde, me proibindo de comer qualquer coisa que não fosse saudável.

Fiz meu sanduíche com presunto e queijo e comi em silêncio, pois não queria começar o dia brigando.

Assim que acabei de comer, peguei minha mochila e conferi o meu material antes de colocá-la no ombro.

- Espere o seu primo, querida. - minha tia falou ao me ver ir em direção à porta.

Bufei.

- Preciso mesmo? Ele não gosta de ir comigo.

- Não importa se ele gosta ou não, você não vai andar sozinha por ai.

Eu ia responder que já era grande o suficiente para andar na rua sozinha, mas decidi ficar calada e esperar meu primo, pois minha experiência me dizia que aquela discussão já estava perdida antes mesmo de começar.

Felipe e eu andamos em silencio pela rua até encontrarmos os amigos dele, quando ele fingiu que não me conhecia e me deixou para trás, como sempre fazia.

O resto da manhã foi chata e entediante, pois eu estava muito ansiosa pela ultima aula, quando a professora de matemática diria as notas da ultima prova que fizemos.

Assim que a professora chegou eu fiquei mais animada. Talvez eu estivesse dando importância demais para isso, mas eu era assim.

Apertei as mãos uma na outra quando ela se sentou para anunciar as notas.

- Alice, dez. Parabéns. - Ela falou logo de cara.

Não era o meu primeiro dez, mas aquela nota seria importante para a nota final e eu precisava ter boas notas para entrar numa faculdade, mesmo que eu ainda não tivesse decidido qual faculdade fazer.

Nem prestei muita atenção enquanto a professora terminava de dizer as notas dos outros alunos, pois eu estava feliz demais para isso.

Assim que a aula acabou minha amiga Julia veio em minha direção toda saltitante.

- Parabéns gênio. Foi a única a tirar dez!

- Fui?

- É! A professora chamou por ordem de nota, não percebeu?

Eu ia responder, mas então Patrícia passou por nós, me olhando com cara de nojo.

- Só não fique se achando. - ela comentou antes de ir.

Patrícia e eu éramos rivais quando se tratava de notas. Ela era filha única e seus pais eram muito rígidos com os estudos dela, por isso ela sempre queria ser a primeira da classe, enquanto que eu era bastante pressionada pelos meus tios.

- Não liga para isso. - sussurrou Julia para mim - ela está com inveja porque tirou oito.

Ergui os ombros sem me importar.

Guardei minhas coisas na mochila, me despedi de Julia e saí.

Encontrei Mateus me esperando na frente da minha sala. Ele era um menino alto, bonito, de cabelos loiros avermelhados, quase cor de bronze, e olhos azuis, com o qual eu meio que estava namorando.

Na verdade eu o havia conhecido umas duas semanas atrás, no intervalo da escola. Nós dois conversamos bastante e nos demos super bem, então depois de alguns dias começamos um namoro às escondidas, já que nem meus tios, nem Felipe, sabiam sobre ele.

Mateus pegou a minha mochila e a pendurou em seu ombro, então nós dois saímos de mãos dadas, tomando o cuidado de não sermos vistos pelo meu primo.

Fomos andando devagar e paramos no lugar de sempre, uma árvore grande a duas quadras da minha casa.

- Então nos vemos amanhã? - ele perguntou, se aproximando de mim.

- Claro. - eu concordei.

Ele começou a me beijar, me apoiando contra a árvore e segurando meu rosto gentilmente, mas nesse momento eu ouvi alguém pigarrear.

- Felipe?! - perguntei assustada, me afastando de Mateus.

- Então é por isso que você tem demorado para chegar em casa? Quem é esse moleque?

Mateus deu um passo para frente e estava prestes a dar uma resposta, mas eu intervi.

- Não é da sua conta, Felipe. Me espere perto de casa, como você sempre faz, que eu já vou.

- Até parece que eu vou ficar te esperando enquanto você fica se agarrando com esse babaca. Vamos logo.

Ele me puxou pelo pulso, mas dessa vez Mateus reagiu e o empurrou.

- Deixa ela em paz. - ele disse, encarando-o.

- Não, Mateus. - eu pedi, puxando-o de volta - Não vale a pena.

Na verdade, eu não queria admitir, mas Felipe ganharia aquela briga facilmente, pois, apesar de Mateus ser grande e forte, Felipe e eu havíamos feito aulas de luta e esgrima desde pequenos, e Felipe ainda continuava fazendo.

- É melhor eu ir. - concluí, pegando a minha mochila, que ainda estava com Mateus, e dando um selinho nele - Até amanhã.

- Tem certeza? - ele perguntou, parecendo preocupado.

- Tenho. Está tudo bem.

Ele assentiu com a cabeça e então eu fui, seguindo meu primo chato de volta para casa.

- O que deu em você?! - perguntei à Felipe assim que nos afastamos um pouco.

- O que deu em mim? O que deu em você, Alice?! O que estava fazendo com aquele babaca? - ele perguntou - Saiba que meu pai vai ficar sabendo disso. - ameaçou, andando em minha frente e sem olhar para mim.

- Ah é?! Acontece que Matheus não é um babaca, ao contrário de você, ele é um cara legal e cavalheiro e só estava me acompanhando porque VOCÊ não estava! - gritei - O que acha que seu pai vai dizer quando souber disso?

Felipe parou e me encarou mal humorado.

- Ótimo. Então é cavalheirismo que você quer? - ele perguntou.

Surpreendentemente Felipe pegou a minha mochila de mim e a colocou em seu ombro, me olhando com uma expressão enraivecida.

- Pronto. - ele disse - Estou sendo cavalheiro e estou te acompanhando. Mais alguma exigência?

- Por que você não pula de uma ponte e morre?! - falei com raiva, mas logo me arrependi.

Felipe cerrou os dentes e me encarou, mas sua expressão me dizia que ele estava magoado e se segurando para não chorar.

- Me desculpe. - eu pedi - Eu não quis dizer isso...

Felipe não respondeu nada, apenas virou as costas e recomeçou a andar.

- Felipe... - eu chamei, mas ele não me deu ouvidos.

Corri para alcança-lo e então parei em sua frente, o encarando e fazendo com que ele olhasse para mim.

- Me desculpe. - pedi de novo - Eu não quero que você morra, eu só... Gostaria que você não implicasse tanto comigo, só isso.

- Tudo bem. - ele disse, ainda com uma expressão séria.

Soltei um suspiro e ele passou por mim, entrando em nossa casa.

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