Capítulo 6

Camila

A claridade que invade o quarto através da abertura circular envidraçada no teto incomoda os meus olhos. Abro-os preguiçosamente, acompanhados por um sorriso bobo. Involuntariamente, minha mão alcança o travesseiro ao lado, mas eu sei que ele não está aqui.

Eu estava quase adormecendo quando vi Henrique ir embora, deixando um beijo carinhoso em meu rosto antes de sair. Seu cheiro amadeirado domina minha pele, e é quase como se eu ainda pudesse senti-lo entre minhas pernas. 

Meu celular toca mais uma vez ao som do alarme e eu o desativo. Todas as quartas-feiras, eu e minha mãe tomamos café da manhã numa padaria que fica bem próxima à Casa de Prazer. É quase como um ritual nosso.

Levanto da cama e conduzo os meus passos para o banheiro, faço minha higiene pessoal e finalizo meus cachos com uma fitagem rápida. No closet, escolho uma combinação de lingerie e saltos pretos, saia lápis marrom e blusa verde esmeralda. Arrumo-me o mais rápido que posso, e antes de voltar à minha realidade, pouso os meus olhos uma última vez sobre a cama e tento afastar da minha mente as lembranças da noite anterior. 

~~•~~

Chego à cafeteria trinta minutos mais tarde e encontro minha mãe já à minha espera em nossa costumeira mesa de canto, numa área mais reservada do local. Ela sorri ao me ver e levanta-se de sua cadeira para me cumprimentar. 

— Bom dia, mãe — cumprimento-lhe dando um beijo no rosto.

— Bom dia, querida — Ela retribui o beijo e segura o meu rosto com ambas as mãos, olhando fixamente nos meus olhos. — Quem é ele?

— Quem é ele o quê? — desconverso afastando meu olhar dos seus olhos atentos e puxando a cadeira para me sentar. Ela segue os meus movimentos e volta a tomar o seu lugar. 

— Não me esconda, Camila — pede incisiva —, eu reconheço uma mulher satisfeita sexualmente quando vejo uma. 

— Não sei bem quem ele é — respondo sinceramente. — Ele esteve na Casa pela primeira vez ontem e ficamos juntos.

— Faz tempo que não vejo você assim tão radiante — observa. — E você não costuma ficar com os homens que vão à Casa pela primeira vez.

— Também não costumo ficar com homens casados — disparo de uma vez. Minha mãe me lança um olhar perplexo. Abre a boca para falar, mas a fecha novamente com a chegada da garçonete. 

— Bom dia. As senhoras já querem fazer os seus pedidos? — pergunta a moça nos dando um sorriso gentil.

— Sim — respondo. — Quero um café preto e duas fatias de torta de limão, por favor. 

— Certo. E a senhora? — pergunta dirigindo-se à minha mãe. 

— O mesmo para mim — responde sem olhar para ela. 

— Tudo bem. Em instantes trago os seus pedidos — informa, retirando-se.

— Como assim ele é casado? — volta minha mãe a interpelar. — Você não fica com homens casados, minha filha! Ao menos, não ficava.

— Eu sei, mãe. Não pretendo ser pivô do término de ninguém, muito menos ser considerada uma amante. A senhora sabe que raramente me envolvo com o mesmo homem mais de uma vez.

— Sim, eu sei. E é por isso que não entendo a sua atitude. 

— Com ele foi diferente — explico. — Sentimos uma atração mútua muito forte. Como se nossos corpos já se conhecessem. E além disso, ele não me pareceu feliz com seu casamento. Devem estar se separando... E não me olhe assim, mãe. Acho difícil voltar a vê-lo na Casa.

— E se for, você vai ficar com ele novamente? — questiona. Penso a respeito e não sei o quê lhe responder. Felizmente sou salva pela chegada da garçonete com nossos pedidos. Levo um pedaço de torta à boca, deliciando-me com seu maravilhoso sabor, sentindo-a desmanchar em minha língua. O que me lembra o apetitoso pau de Henrique... Aperto minhas coxas instintivamente com a lembrança.

— A propósito — elucida minha mãe com seu café em mãos —, temos um evento a comparecer neste fim de semana. Daquele orfanato que você ajuda.

— A senhora não pode ir sem mim? — peço lembrando-me dos olhares furtivos que recebi de algumas voluntárias do orfanato no último evento deles em que estive.

— Claro que não. Você doa uma quantia generosa todos os meses para aquele orfanato, portanto tem que comparecer. Sei que você está pensando no comportamento daquelas mulheres com você no último evento, e sei que não gosta de discussões, mas você deve ir, minha filha. Duvido que alguma delas faça um terço do que você faz por aquelas crianças.

— Eu sei, mãe. Eu só prefiro evitar conflitos, só isso. Mas eu vou sim. Pelas crianças, eu vou. Não tenho vergonha do que faço e de quem eu sou. Elas podem até não gostar de mim, mas deviam aprender a ao menos respeitar as escolhas dos outros. 

— Era isso o que eu esperava ouvir de você, meu amor — elucida oferecendo-me seu sorriso gentil. Sorrio de volta para ela e tento terminar o nosso café sem que minha imaginação me leve de volta para o meu quarto. 

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