Capítulo 5

Henrique

CHEGO em casa já passando da meia-noite com meus pensamentos completamente voltados para Camila. Aquela mulher fez coisas comigo que nunca pensei que pudessem ser feitas tão descaradamente e sem o menor pudor. E me fez fazer com ela coisas que eu nunca tinha feito com a minha esposa quando ainda transávamos.

— Henrique, você chegou — fala Cristina para mim com sua voz grogue de sono quando adentro ao quarto.

— Desculpe, não queria te acordar — respondo tentando não estabelecer um contato visual com ela. 

— Onde você estava? Você não costuma chegar tão tarde. 

— Saí com Marcone para um bar depois do trabalho — respondo ao entrar no banheiro. Tiro minhas roupas e ligo o chuveiro, permitindo que a água quente lave do meu corpo o cheiro inebriante de sexo e Camila. 

— Você não costuma beber — elucida Cristina, detendo-se na porta aberta do banheiro. Posso ver o desejo em seu olhar ao vislumbrar o meu corpo nu. Mas ela jamais diria isso em alto e bom som. Jamais diria que queria ser fodida com vontade por mim. Afinal, ela foi educada para atender às necessidades do marido e não as dela. A sentir vergonha e não tesão em falar abertamente sobre sexo. E era isso o que eu acreditava ser a atitude esperada por uma mulher de respeito, até ouvir de Camila o quanto ela queria me ter dentro dela. — Desculpe — pede desviando seus olhos do meu corpo.

— Sem problema — respondo ao sair do chuveiro. — Pode pegar para mim? — peço apontando para a toalha.

— Claro — Ela me entrega a toalha e fixa seu olhar por um tempo em meu pau. Cristina é uma mulher muito bonita, com seus olhos e cabelos negros compridos que emolduram o seu rosto delicado. Muitos homens a admiram e me dizem que sou um homem de sorte por ser casado com ela, mas eu, no entanto, nunca consegui enxergá-la como mulher. Recebo a toalha de sua mão e envolvo-a em meus quadris. Cristina fica vermelha e sai do banheiro seguida por mim.

— Fomos comemorar uma causa importante que ganhamos no escritório — falo respondendo à sua pergunta anterior, tentando fazer com que minha voz não falhe com a mentira que profiro.  

— Tudo bem... Só fiquei preocupada porque você não costuma chegar tão tarde — observa. 

— Esqueci de ligar avisando, desculpe — peço ao sair do closet vestido com minha calça de moletom cinza. 

Apago as luzes do quarto, caminho até a cama e deito-me ao seu lado de um modo que nossos corpos não se toquem. Nunca me senti tão sujo, e, ao mesmo tempo, não consigo me arrepender por tê-la traído. 

— Sua mãe ligou — informa voltando seu rosto para mim. — Ela queria saber se nós vamos ao evento beneficente em prol das crianças daquele orfanato ajudado pela igreja. Vai ser no fim de semana. Eu disse a ela que íamos, fiz mal? 

— Claro que não, vamos sim. 

— Ela também voltou àquele assunto... Sobre adotarmos um bebê — Fico paralisado. Já tinha falado com minha mãe sobre isso, mas ela não desistia. Ela achava que já estava mais do que na hora de termos um filho, e se Cristina não podia gerar um, devíamos recorrer a adoção.

— Já conversamos sobre isso, Cristina. Não quero mais falar sobre esse assunto — A mágoa se faz presente em seu olhar. Sei que ser mãe é o seu maior sonho, mas isso não está nos meus planos. Na verdade, nunca me imaginei sendo pai, em constituir uma família. Isso é algo que nunca vislumbrei para mim. O casamento é algo necessário, mas ter filhos com uma mulher que não amo está fora do meu planejamento.

— Me desculpe, Henrique. Mas você sabe o quanto sua mãe quer ter um neto. E você sabe que isso eu não posso dar para ela — responde com seus olhos tristonhos. 

— Ainda que pudesse, Cristina — digo ríspido —, eu não quero ter filhos. Chega desse assunto.

— Me descu...

— Pare de se desculpar, pelo amor de Deus! — grito, interrompendo-a. — Eu sou seu marido e não seu chefe para você ficar se desculpando o tempo todo.

— Será mesmo, Henrique? — pergunta não mais controlando suas lágrimas.

— Será mesmo o quê? 

— Que você ainda é o meu marido? — Fixo meu olhar em seus olhos escuros sem nenhuma palavra sair da minha boca. Eu não sei o quê lhe responder. Tudo o que faço é virar-me de costas para ela e fechar os olhos, com seus soluços embalando o meu sono. 

~~•~~

— Posso reconhecer um homem satisfeito quando vejo um — ironiza Marcone ao entrar na minha sala. 

— Devo dizer o mesmo para você — Ele abre um sorriso malicioso, sentando-se em frente a mim. 

— A Bruna é sensacional — fala com a paixão estampada em seu olhar. — Ela acabou comigo. Literalmente. Quando voltamos ao bar, eu não te vi mais na mesa. Com quem você estava?

— Camila Monteiro — respondo com um sorriso nos lábios. Marcone tem um sobressalto e olha para mim espantado.

— O caralho que estava! Como assim de primeira você é escolhido por ela? — questiona, incrédulo. 

— Ah, cala a boca. Aconteceu. Não tinha como evitar. Camila é irresistível, linda, atrevida, sexy...

— E este olhar no seu rosto me diz que você está de quatro por ela, meu amigo. Justamente pela mulher que você não deveria.

— Não deveria por quê? — pergunto, encarando-o.

— Porque todos os frequentadores da Casa sabem que Camila não é mulher de se estar presa a um único homem. 

— Você não entende, Marcone. A química entre nós é muito forte. Ela realmente se entregou para mim.

— Bom, nesse caso é melhor eu te lembrar que você não é um homem livre. Você está em um casamento arruinado, mas não pretende por um fim a ele, e tenho certeza que Camila percebeu que seu relacionamento não está bem, não é mesmo?

— Percebeu sim. Mas o que isso tem a ver?

— Eu frequento a Casa e admiro aquela mulher há muito tempo para saber que ela não costuma se envolver com homens casados. Acredito que você tenha sido uma exceção... Ela deve pensar que vocês estão se separando — conclui com uma expressão pensativa.

— Isso não faz sentido, Marcone — indago, ficando de pé. — Você fala como se Camila quisesse algo sério entre nós dois depois de dizer que ela não é mulher de prender-se a um único homem.

— Só estou dizendo que Camila tem suas próprias regras e uma delas é não se envolver com homens casados. Você vai perceber isso com o tempo — avisa ao se levantar para sair.

— Não vai acontecer novamente — afirmo. Marcone interrompe seus passos, detendo-se no lugar e voltando o olhar para mim. — Você sabe que antes de ontem eu nunca tinha traído Cristina. E mesmo que nosso casamento seja arruinado, como você diz, eu não pretendo voltar a traí-la e nem pretendo por um fim a ele. Eu a prometi diante do altar estar ao seu lado enquanto vivêssemos, e é assim que vai ser — digo com convicção. Marcone me analisa atentamente e volta a seguir em direção à porta, mas vira-se  para me olhar mais uma vez antes de sair da sala. 

— Não é a mim quem você está tentando convencer disso, Henrique — observa e sai porta afora, fazendo com que eu me sinta ainda pior pelo que fiz. 

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