Começo do plano

   Depois de longos minutos, os portões da sala do trono foram abertos dando passagem ao jovem Erick que entrava de cabeça erguida olhando diretamente para o trono. O que ele deveria esperar daquele encontro? O que o rei queria? Quando o comandante chegou novamente em sua nova casa, apenas o pedindo para que ele o seguisse, Erick não teve muita escolha a não ser segui-lo e então descobrir o que estava acontecendo.

   Chegando até certa proximidade dos degraus, ele se curvou ao rei apoiando seu braço em sua perna.

   – Qual é o seu nome? – O rei perguntou falando firme.

   – Erick. – Respondeu ele se levantando com sua voz ecoando pelo salão.

   – Axel me falou que você é um excelente guerreiro, me conte um pouco sobre você.

   – Eu morava em Tórus, mas houve um ataque dos Kezerianos no qual toda a minha família morreu. Nesse tempo eu estava entrando para o exército deles, porém, eu já treinava desde criança, pois o próprio general queria ver minha evolução. Quando percebi o ataque, tudo o que eu fiz foi me defender, lutando contra aqueles que vinham atrás de mim, mas quando eu percebi, já eram tantos que eu optei por fugir. Desde então venho procurando um reino para me estabelecer. – Erick contou.

   – Certo... E então encontrou ABAD. Diga-me, você pretende fazer o que a partir de então?

   – Como eu disse, treinei minha vida toda, então não saberia fazer outra coisa. – Erick prontamente respondeu.

   – Axel disse que batalhou com você e que você sabe o que faz. Quero que me mostre isso agora. Guardas!

   Imediatamente seis guardas vieram cercando o rapaz, que não se intimidou com tal ameaça.

   – Mostre o que você sabe fazer. – Disse o rei jogando uma espada para o rapaz enquanto se sentava em seu trono.

   Erick encarou cada um dos soldados que o olhavam de volta. O rapaz esperava que alguém iniciasse a batalha, e quando aconteceu, ele pegou a espada e começou a batalhar com eles, usando os próprios soldados contra eles mesmos. Se esquivando e atravessando a espada em cada um deles, Erick venceu a luta cravando a espada no último soldado que faltava, limpando o sangue em uma das roupas de um deles no chão.

   Atter levantou de seu trono vendo seis de seus oficiais no chão, enquanto Erick o encarava sério. Incrédulo com o que estava diante dele, Atter não sabia se era seguro ou não tê-lo por perto.

   – E se eu mandar trazer mais quinze soldados? – Ele disse descendo as escadas.

   – Acredito que o senhor tem um grande número de soldados, vinte e um não o fará falta.

   Atter o encarou nos olhos do mesmo jeito que o rapaz fazia, percebendo como ele era ousado e destemido. Ele poderia ser uma grande ameaça, mas ao mesmo tempo era perfeito para proteger sua filha, o que ele tanto queria. Eles só precisavam de mais um tempo para observá-lo e ter certeza se essa era a decisão certa a se tomar.

   – Como posso saber se posso confiar em você? – Atter perguntou.

   – O rei é inteligente, sei que tem um plano para isso. Aliás, eu estou com a sua espada, tome. – Erick disse devolvendo a espada ao rei que percebeu o que ele queria dizer.

   – Você pode ser muito astuto e bom com este instrumento, mas tenho certeza de que nem tanto como eu. – Disse o rei indo até o comandante para pegar outra espada.

   Erick deu um leve sorriso erguendo a cabeça, enquanto pegava a espada que o rei lhe oferecia, esperando ele começar. E ali começou novamente o barulho das espadas defendendo seus donos enquanto Alina desviava o olhar preocupada com o marido. Era uma loucura se arriscar sem nenhum suporte com alguém que mostrou saber derrotar seis soldados ao mesmo tempo. É claro que Atter era ótimo, pois Atter e Abnorú eram venerados por suas façanhas com a espada, mas mesmo assim eles estavam lidando com a própria vida e devido a isso não poderia haver erros.

   Atter e Erick lutaram durante alguns minutos notando como eram bons. Erick não esperava menos de Atter por ser irmão de Abnorú, e certamente Atter, depois do que viu, estava convicto de que o rapaz sabia lutar. Enquanto duelavam, o rei resolveu usar uma técnica que aprendeu com o pai, no qual apenas ele e Abnorú sabiam, e com isso demonstraria a Erick que ele ainda era mais forte. Porém, quando Erick percebeu que Atter estava usando a técnica que Abnorú havia o ensinado também, ele resolveu se dar por vencido, demonstrando que ele não saberia como revidar àqueles ataques. Assim, Atter não chegaria à conclusão de que Erick veio de Abnorú.

   – Parece que você não conhece todas as técnicas de luta, meu jovem. – Disse o rei guardando sua espada enquanto recuperava o fôlego.

   – Parece que não, mas com certeza devo aprender o que o senhor usou para vencer este duelo. – Erick disse devolvendo a espada ao comandante enquanto via o rei voltar ao seu trono.

   – Axel já conseguiu um lugar para você em ABAD?

   – Sim, e eu agradeço por me deixarem ficar.

   – Pois bem, você vai treinar com os outros soldados, e ganhará por isso, já que provavelmente você queira ter uma vida aqui. Creio que era isso que você queria, não?

   Erick sorriu se curvando, dando um longo suspiro. A primeira parte de seu plano estava dando certo, agora só restava esperar até que eles percebessem que podiam confiar nele.

   – Muito obrigado majestades. Prometo servir ao senhor e a este reino a partir de hoje.

   Atter sorriu levantando a cabeça, agora eles precisavam conhecer de perto este rapaz e ver como ele se sairia nos próximos meses.

   O calor do sol entrava pela janela da nova casa de Erick, que abria os olhos lentamente resmungando por não conseguir dormir mais. Porém, antes de se levantar, ouviu sons de batida em sua porta indicando que alguém desejava falar com ele. Provavelmente seria o comandante Axel que disse no dia anterior que viria.

   Erick levantou de sua cama passando a mão pelos cabelos, indo até o banheiro lavar seu rosto. Em seguida, foi até a porta para atender quem quer que fosse.

   – Bom dia, Erick. Pelo visto eu te acordei. – Axel disse na porta.

   – Entre. – O rapaz disse dando passagem ao mesmo que se dirigia até uma cadeira. Ele conhecia bem o local, pois frequentava muito aquela casa no passado.

   – Vejo que já se instalou por aqui... – Ele dizia olhando para os lados.

   – Sim, é uma casa que parece ser feita para mim...

   – Era de alguém especial... Mas enfim, não vim aqui para falar disso.

   – Ah, claro, veio pelo dinheiro da casa não é? – Erick disse indo até o quarto. – Aqui está, veja se o valor está correto. Mas me conte de quem era esta casa?

   – Como eu disse, é uma longa história...

   – Eu e você temos uma hora até que precisemos treinar.

   Axel observou o rapaz que parecia interessado no que ele tinha para contar, pensando se valia a pena falar com ele sobre isso. De qualquer modo, ele não sabia de quem era a casa, então logo não sabia quem era Adelly e muito menos Abnorú.

   – Essa casa era de Adelly... Uma mulher exilada... Por isso essa casa é tão afastada das demais. Todos diziam que ela era perigosa por conta de algo incomum que ela tinha, e coincidentemente quando sua mãe faleceu no dia seguinte quando ela voltou a ABAD.

   Adelly. Com certeza se tratava de sua mãe, e tendo a certeza de que ele falava sobre sua mecha, Erick continuou calado ouvindo outra pessoa contar a história que ele também conhecia.

   – Bem... Eu não esperava por isso...

   – Enfim... E a luta de ontem? O que foi aquilo? – O comandante tentou mudar de assunto.

   – Pois é, mas o que mais me impressionou foi o próprio soberano querer lutar comigo. Aquela técnica que ele usou é realmente boa, se não fosse por isso, eu venceria.

   – Essa é uma técnica que apenas ele conhece. Na verdade ele e seu irmão.

   – Foi uma luta interessante para mim, e já que aparentemente o rei não quer me ensinar, talvez eu procure o irmão dele. – Erick disse querendo parecer inocente sobre esse assunto, como se não soubesse de nada.

   – Isso é impossível. Ele não está no palácio há muitos anos, pois foi expulso por ter atentado contra a vida de seu irmão, o rei, e inclusive sua esposa. É por isso que falei mais cedo que o rei está procurando um ótimo guerreiro, pois a princesa com certeza pode ser um alvo para Abnorú.

   – Mas por que um guardião só para a princesa? Não seria melhor cuidar de toda a família real?

   – Sim... Mas a princesa... Bem, você descobrirá se o rei o escolher para tal cargo. Mas sobre Abnorú eu posso lhe contar, pois, como você fará parte do nosso exército, é bom que saiba quem são nossos inimigos.

   Erick fez sinal para que Axel continuasse enquanto ele se sentava em sua frente pronto para ouvir outra versão da história que ele conhecia.

   – Abnorú é o irmão mais velho do rei, e, portanto ele é quem devia ser coroado. Mas os antigos soberanos decidiram dar a coroa e toda a responsabilidade para o filho mais novo, pois Atter era mais responsável, enquanto Abnorú era um homem perverso e mal, propenso a levar ABAD à ruínas. Ele e Adelly, a mulher que morava nesta casa, foram expulsos e desde então sumiram. Abnorú nunca aceitou a coroação do irmão e tentou matá-lo algumas noites depois, quando ainda estava no castelo, sem contar do escândalo que fez no dia da coroação. Depois do quase assassinato, os antigos reis e Atter o expulsaram e o colocaram para fora dos portões que cercam o reino, desde então ele está em algum lugar, com Adelly...

   – Vocês nunca tentaram o procurar?

   – Algumas vezes, mas...

   – Você... Parece diferente quando fala da mulher que foi com ele. Adelly. – Erick perguntou querendo extrair o máximo de informações que ele tinha sobre sua mãe.

   – Para todos ela era perigosa, ninguém poderia falar com ela... Mas eu adorava essa aventura, eu estava completamente apaixonado na época, mas... Quando soube que ela havia se juntado a Abnorú... Eu... Realmente achava que ela me amava também... Mas enfim, isso é o passado e não temos mais tempo para ficar jogando conversa fora. Ainda temos alguns minutos, vou te mostrar a cidade, os principais locais em que você precisará ir, e então poderemos adentrar no palácio até a área de treinamento.

   Erick concordou se levantando enquanto pensava como seria interessante conhecer o território. E então ambos saíram de casa partindo para a cidade, passando pela vila onde estavam, onde Axel relembrava sozinho algumas aventuras que viveu ali. Na cidade o comandante mostrou as barracas comerciais, as principais ruas e onde ele morava, que era em uma das ruas mais próximas ao palácio. Também mostrou a ele o rio ABAD, que era considerado o rio dos apaixonados, por ser ali onde os pais de Atter e Abnorú se conheceram e também onde Atter e Alina se encontravam frequentemente. E por fim, entraram no palácio a fim de começarem os treinamentos.

   Alguns meses se passaram enquanto Erick treinava arduamente dentro do palácio, sem nunca ter ultrapassado o limite de onde os soldados eram permitidos ir. Sempre muito elogiado pelos oficiais e seu comandante, que era os olhos do rei. Atter pediu para que Axel fizesse alguns testes secretos para ver como Erick se sairia, e o rapaz sempre se mostrava cuidadoso e atento a improváveis ataques, pois ele sabia que estavam testando ele em segredo e, portanto, tinha que se sair o melhor possível para ser escolhido pelo rei para ser o guardião da princesa.

   Depois de mais alguns dias em treinamento, Erick estava deitado em sua cama enquanto limpava um de seus machucados no braço, pensando em quanto tempo mais levaria para que o rei enfim tomasse uma decisão. Fazia cinco meses desde que ele veio para ABAD e estava trabalhando duro para ser notado, pensando todos os dias que o momento de ser nomeado estava próximo. Isso era o que o motivava a continuar.

   Enquanto estava ali, ouviu batidas na porta de sua casa de alguém que parecia nervoso e precisava ser visto urgente. Levantando rapidamente, Erick se dirigiu até a porta e a abriu vendo o sorriso de felicidade do comandante, que durante esse tempo criou um laço de amizade pelo rapaz.

   – Nós conseguimos Erick, o rei quer falar com você! – Ele disse fazendo com que Erick desse um sorriso aliviado, dizendo internamente que a primeira parte do plano estava concluída.

   – Estava com o rei há poucos minutos e ele me mandou vir buscá-lo para uma conversa. Tenho certeza de que ele tomou uma decisão. – Dizia o comandante enquanto levava o mais novo até os portões do palácio.

   – Estou ficando ansioso, espero que ele tenha me aceitado, pois eu ficaria honrado em proteger diretamente os soberanos.

   – É uma honra, e eu tenho certeza de que você se sairia muito bem, você é um bom rapaz, Erick. – Ele disse batendo nas costas do rapaz ao seu lado.

   O caminho até o palácio levava alguns minutos da vila e, pela noite já ter caído, eles chegaram lá perto das atividades serem encerradas. Atter e Alina estavam em seus tronos resolvendo os últimos assuntos do dia enquanto Ariana andava apressada de sala em sala antes de terminar seus afazeres.

   Quando os dois chegaram, adentraram na sala do trono se curvando em frente aos soberanos. Erick sentia seu coração pulsar mais rápido do que o normal, pela primeira vez ele estava nervoso diante do rei, torcendo para que todo o seu esforço tivesse o resultado que desejava.

   – Boa noite Erick, chamei você aqui porque temos algumas coisas a tratar. – O rei disse mexendo em um de seus anéis.

   Erick olhou para o comandante, voltando sua atenção para o rei logo em seguida. Sentia suas mãos suarem atrás de suas costas onde elas se encontravam, pois agora seria revelado o que ele tanto esperava.

   – Desde o dia em que você chegou a este reino notamos sua bravura, sua inteligência, sua agilidade e sem dúvidas você é um rapaz que possui todas as características que nós procurávamos para ser o guardião da minha filha. Ariana é uma moça muito dócil, creio que vocês não terão problemas ao criarem uma amizade. – Atter dizia se levantando do trono indo lentamente até o rapaz. – Durante esses meses que se passaram até hoje eu fiz vários testes com você para ver quem você era de verdade, e felizmente você se demonstrou leal de todas as formas.

   – Eu fico extremamente honrado por isso majestade. – O jovem disse colocando a mão no peito se curvando novamente.

   – Por isso, meu rapaz, pergunto se você está disposto a aceitar tal cargo e proteger minha filha de qualquer ameaça. – Atter perguntava dando voltas ao redor de Erick.

   – Eu darei minha vida para protegê-la, nada passará por mim, tenha certeza disso.

   – Ariana tem uma mecha branca em seus cabelos, sinal que até hoje as pessoas acreditam ser a confirmação de que quem a possui não é um ser humano normal. Por isso meus pais criaram um decreto de que quem tivesse essa mecha deveria morrer, mas eles não contavam que sua neta nasceria com isto. Eu e minha esposa não acreditamos que Ariana possa ser uma feiticeira, mas as pessoas certamente acreditariam se a vissem. Por isso seu objetivo é não deixá-la sair do palácio, a proteger e, nunca, até que eu permita, conte a ela sobre a história que acabou de ouvir. Ela não sabe de nada e é melhor que não fique sabendo por enquanto.

   Erick concordou com a cabeça, esperando que o rei continuasse.

   – Caso eu descubra que você fez alguma coisa contra ela, pode ter certeza de que você será preso e torturado até a morte, entendeu bem?

   Erick continuava encarando o rei sem demonstrar medo das ameaças. Era isso que o rei queria ver, assim ele demonstrava que não havia chances de Ariana sofrer alguma coisa. Mas sabia que na hora certa todos que estavam ali seriam derrubados por ele e a bela coroa que aquele homem a sua frente usava seria dele.

   O rei sorriu ao ver que finalmente havia conseguido o que tanto lhe tirava o sono, um guardião valente para proteger sua filha das garras de Abnorú, caso ele atentasse contra sua vida.

   – Pegue suas coisas, você irá morar no castelo a partir de hoje.

   Erick surpreso com aquela declaração se curvou sorrindo e agradeceu ao rei, se retirando para fazer o que ele lhe ordenou. Há quanto tempo ele esperava por aquelas palavras, morar no castelo... Era tudo o que ele precisava, e agora ele estava mais perto do que nunca de seus inimigos, pronto para dar continuidade ao seu plano. Conquistar o trono.

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