Capítulo 3


Depois de nos alimentarmos, me aproximo do anjo rabugento e do Nyrun.

— Pronta para voar comigo, fedelha? — questiona ao levantar uma sobrancelha, mas não parece estar com raiva.

— Será que nunca vai me chamar pelo meu nome, anjo rabugento? — reviro os olhos para ele.

— Para mim, sempre será uma fedelha de boca suja. — diz abrindo um meio sorriso.

— Então, você sempre será o anjo rabugento pra mim. — digo sem conter o meu sorriso, fazendo-o suspirar profundamente e desfazer o seu sorriso.

— Acho que posso conviver com isso. — responde, me ajudando a subir no Nyrun.

Voamos a tarde toda sob o calor dos dois sois que parece ter aumentado consideravelmente. Também, pudera, a vegetação ao nosso redor é típica da Caatinga, o que nos mostra que chove muito pouco por aqui. Para beber água na hora do almoço, os feiticeiros tiveram que conjurá-la para matarmos a nossa sede.

Durante a tarde toda, o Gabriel só me dirigiu a palavra uma única vez para me dizer que vamos voar por um tempo maior hoje, para compensar um pouco o tempo perdido de ontem e para que possamos descansar somente durante o dia, daqui para frente, devido ao calor.

Ainda bem! Pois, os dois sóis já estão começando a queimar a minha pele, mesmo com o capuz do meu manto cobrindo o meu rosto, além de segurá-lo para esconder um pouco os meus braços. Infelizmente, devido ao vento, nem sempre dá muito certo esconder-me embaixo do tecido. Creio que está acontecendo o mesmo com o Gabriel, pois desde que paramos para almoçar, ele também começou a usar um manto branco para cobrir a sua cabeça.

É assim que os próximos dias seguem. Viajando à noite, descansando de dia nos braços do meu maridinho lindo. O problema é a sede que está aumentando, além dos calafrios e das tonturas que estão ficando cada vez mais frequentes. Já está ficando difícil esconder dos anjos ou do Júlio o que está acontecendo. Bom, pelo menos, não tive mais pesadelos, na verdade, creio que não estou nem sonhando quando durmo.

Antes do amanhecer do primeiro sol, no décimo dia desde que partimos do porto, a Laila pousa no tal Oásis Samyrallis, como o Rafael havia dito quando levantamos voo depois de nos alimentar durante a madrugada.

É um lugar muito bonito, um imenso lago, creio que é maior que a lagoa em que eu quase me afoguei devido ao micro sequestro do Criador. Várias árvores diferentes, plantas e flores de vários tipos estão ao redor da lagoa, formando uma pequena floresta. Também percebi aves e animais de todos os tipos em volta do lago.

Como nos outros dias, quase todos começam a armar as barracas, pois desde que entramos no deserto, os guerreiros-folha não fizeram mais as casas-ninho.

A Jackye explicou-me que é muito difícil fazer uma árvore crescer num lugar como esse, o que faz as suas energias se enfraquecerem consideravelmente. Então, só usariam esse recurso como última alternativa e somente para se defender ou contra-atacar.

Quem não está armando as barracas, está dando água para os cavalos ou começando os preparativos para a comida. As feras gigantes foram direto para a lagoa, inclusive o meu irmãozão, para se banharem e, provavelmente, para caçar alguns dos animais que eu vi.

Noto que a Monyck está mais receptiva com relação ao Lucas. Acredito que eles se entenderam. Não sei se perdoaria uma traição do Júlio, apesar de que ele é tão romântico. Os nossos dias de amor são um mais perfeito que o outro. Não! Não acredito que ele me trairia!

Como não quero outra surpresa de Eloah, tomo banho com as outras mulheres na lagoa. Nossa! É impressão minha ou a água está gelada? Estou com tanto frio! Banho-me rapidamente para sair logo dessa geladeira. Ao terminar de vestir-me, coloco o meu manto para me aquecer.

Depois, seguimos para o acampamento para jantarmos ou será que devo chamar de café da manhã, já que está bem claro agora, com o primeiro sol um pouco acima da linha do horizonte.

Começo a degustar um delicioso ensopado, porém, quando já estou na metade dele, sinto uma dor forte no estômago. Não! De novo não! Corro para longe da roda que está perto da fogueira, derrubando o meu prato no chão.

— Sara! — ouço o meu moreno me chamar quando paro perto de uma árvore e começo a colocar tudo que comi para fora.

Droga! De novo não! Por que, meu pai do céu?! Por que não posso ser normal como todo mundo?! Sinto tontura e as minhas forças começam a falhar, mas antes que pudesse despencar no chão, percebo os braços do meu moreno me envolvendo.

— Precisa se alimentar de sangue, meu amor. Pensa que não percebi que as suas tonturas estão piorando e hoje, no começo da noite, senti o seu corpo quente como se estivesse com febre, quase igual ao dia que te reencontrei na casa do Zarphiruus.

— Não vou tomar droga nenhuma. — murmuro ao colocar uma mão na minha cabeça na tentativa de fazer o mundo parar de rodar e fecho os meus olhos.

— Não seja teimosa, minha vida. — coloca uma mão na minha testa — Olha, está com febre ainda, mesmo tendo acabado de se banhar.

— Eu só preciso descansar. Não vou beber nada.

Sinto o meu moreno suspirar profundamente, então ele me pega no seu colo me fazendo abrir os olhos, me carrega para a nossa barraca, me coloca sobre o saco de dormir. Acaricia o meu rosto, depois me dá um beijo na minha testa, volta a acariciar a minha face e o meu cabelo até que a escuridão me abraça, levando-me para o submundo do sono.

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