Capítulo 5 Um amigo cai

O ser capaz mora perto da necessidade.

Pitágoras

- O que você está fazendo? - Carson perguntou enquanto assistia Akira golpear a parede violentamente.

- Encontrando uma saída!- exclamei e continuei golpeando as paredes, meu  braço quebrado ainda tentava se curar, mas o outro estava bom o suficiente para que eu esmurrasse a pedra.

- O que você pensa que vai conseguir esmurrando a parede?! - perguntou Kane incrédulo.

Eram para estarem procurando uma saída dali, e não delirando.

- Você está delirando pela dor do seu braço. - murmurou Carson para mim.

Continuei fazendo buracos na paredes e tentando subir por eles em direção ao alçapão.

Carson me observava incrédulo,

eu me sentia em um tipo de frenesi louco, tentando a todo custo fugir, me segurei nos buracos tentando subir, mas caindo logo em seguida.

O teto onde estava a única saída começava a tremer e a soltar pequenos lascas de pedras para o desespero de Carson.

- Pare você vai demolir tudo em cima de nós, seu burro!

Acabei por desistir após perceber que estava contribuindo para demolir tudo e diante dos protestos de Carson.

- Então é isso, morremos soterrados ou enforcados porquê nunca acreditaram que estávamos presos aqui.- se lamentou Carson.

Provavelmente após a luta Konoe retorne e nos liberte mas não fará nenhum bem, ninguém acreditará em nós.- Deduzi.

- Depois daquele dia quando minha mãe morreu Emi chorou durante toda a noite e eu disse que nunca iria deixa-lá, e olhe agora onde estou.- Relembrei com uma dor no coração.

- Akira...você já se perguntou porquê um um youkai violou o tratado de Hideyoshi*invadindo a propriedade dos seus pais e..-Carson indagou pensativo.

- shhhh- pedi silêncio.

- Eu sei que é um assunto doloroso.

- Quieto, tem alguém aí em cima, ouça.

Apuraram os ouvidos.

Passos e uma voz aguda se fez ouvir.

Uma voz feminina.

O alçapão se abriu e a luz decrépita de outra tocha entrou.

Iluminou um rosto, Emi.

- Akira! Carson! - anunciou ela com alívio na voz.

- Emi!- pronunciaram os dois em uníssono.

- Vou procurar uma corda. - avisou e sumiu do nosso campo de visão.

Sorrimos um para o outro aliviados.

- O sino Já parou de tocar há vários minutos.- Se preocupou Carson enquanto saíam da despensa entrando na cozinha.

Estava cheia de servos trabalhando estes congelaram quando viram três pessoas saindo da despensa. 

- Continuem trabalhando! - Akira os repreendeu para que voltassem ao trabalho.

Saímos correndo da cozinha o mais depressa possível com Emi em nossos calcanhares fazendo perguntas ininterruptamente, não entendia como fomos parar lá, no caminho nos contou sobre a ajuda de Raiden, o que me surpreendeu.

- Precisamos chegar as muralhas! - Exclamei e senti novamente o braço latejar, ainda estava quebrado e se curando devagar.

- Precisa imobilizar esse braço! - Emi gritou ao ver minha expressão de dor, rapidamente fez uma tipóia com a barra do avental, suspendendo o meu braço, amarrando ao meu pescoço que passou a sustenta-lo.

DOEU.MUITO.

- Como você vai lutar só com um braço? -perguntou Emi.

- Primeiro vamos nos preocupar em chegar lá.- respondi.

- Vamos  ao estábulo buscar cavalos! - sugeriu Emi.

corremos para lá.

- Hidori, o cavalariço deve estar alimentando-os agora, ele não irá fazer perguntas o garoto é mudo. - informou Emi enquanto chegavam ao estábulo. 

Hidori um rapaz com um pouco mais de 17 anos os encarou com surpreso

de ve-los ainda ali e não com o restante dos guerreiros. 

- Eles precisam de dois cavalos, os mais velozes que você tiver Hidori, é uma longa história mas não temos tempo. - Emi disse rapidamente e Hidori não perdeu tempo preparando dois cavalos um de pelagem escura e o outro castanho escuro.

Não perderam nem um minuto montando e saindo pelos portões.

- Não morram! - berrou Emi sua figura ficando menor a cada galope dos cavalos.

- Não iremos! - mais uma vez gritaram em uníssono.

Cavalgaram a toda velocidade pela cidade que estava com as ruas cheias e tumultuadas.

Todos exasperados e assustados em decorrência do que viria.

A maioria nunca havia visto lobisomens antes e provavelmente nenhuma criatura banida mas agora estariam nos portões, nas muralhas.

Akira compreendeu a estratégia de Takeshi.

Nenhum lugar seria mais seguro para os samurais do que atrás de suas muralhas, correr com os homens para fora dessa proteção era uma coisa arriscada, que todos queriam parecer eternizar temendo a opinião pública e dos aristocratas, nobres e pessoas influentes, Takeshi com sua decisão de seguir em frente mandou todos eles se ferrarem.

Cavalgaram quase passando por cima das pessoas. 

Estavam quase no lado sul das muralhas onde os outros estariam quando o céu escureceu, e a lua cheia surgiu ao céu.

Descemos dos cavalos e subimos nas muralhas nos juntando aos guerreiros.

O céu estava encoberto de tantas flechas sendo disparadas ao mesmo tempo.

Takeshi gritava ordens aos arqueiros,

Katsuo supervisionava o óleo quente com alguns homens os posicionando.

- O que estão fazendo aí parados! - gritou Raiden, não parecia estar prestes a batalhar, exibia um sorriso completamente seguro e sincero no rosto.

Eu e Carson nos  juntamos a Raiden na formação dos guerreiros novatos perto da amurada.

Todos estavam horrorizados, e com asco do que morria lá embaixo na grama esverdeada.

Eram seres grotescos demais.

Com suas bocarras enormes gritando, seus corpos revelando uma magreza excessiva embora tivessem muita pelagem escura era visível os ossos proeminentes.

Pulavam uns nos outros em busca de conseguirem subir e era abatidos  pelas flechas de ponta de prata.

- Porque não se devoram se estão com tanta fome!? - vociferou Kento saindo da formação ensandecido brandindo sua katana.

Tudo pareceu acontecer em câmera lenta embora ninguém tenha tido tempo de mexer um músculo em defesa de Kento, aqueles olhos vidrados e vermelhos permaneceria na lembrança de todos por muito tempo, e moraria nos meus pesadelos para sempre, eu era o que estava mais próximo de Kento, mas fui incapaz de segura-lo.

Um lobisomen não tão esquelético pulou a murada invadindo o espaço onde se encontrava Kento, este foi pego totalmente de surpresa, esse meio segundo de susto o condenou.

O lobisomem envolveu as enormes garras em seu pescoço desprotegido (já que Kento estava sem o capacete de prata que teria queimado o Lobisomem) E por um momento pensamos que ele se sairia bem quando vimos sua espada indo em direção ao lobisomem.

Mas sua cabeça caiu antes.

Ou melhor dizendo seu corpo sem cabeça e sem vida caiu a alguns passos de nós.

Em seguida o lobisomem engoliu sua cabeça de uma só vez a mastigando lentamente enquanto nos olhava.

Nossos gritos soaram para mim como um trovão, um grito de Puro e simples ódio.

Carson por outro lado não gritou, ele saiu da formação avançando para o inimigo justo no momento em que mais outros subiam.

- Carson! - berrei e corri em seu encalço.

Carson combatia com fúria cega mutilando braços e pernas gritando obcenidades, girava seu escudo empurrando vários da murada em direção ao chão.

Toda a formação se desfez e um caos reinou naquela pequena parte da muralha.

Gritos e rosnados se misturavam em uma melodia de horror.

Eu não usava escudo por estar com o braço imobilizado pela tipoia presa ao meu pescoço, mas isso não me impediu de mutilar vários com a Katana.

Pulei da amurada aterrissando em um grupo de lobisomens que haviam cercado Takeo Iori que combatia com seu machado.

Cai em cima deles esquartejando a todos, e Iori assumiu a defesa de minhas costas permanecendo assim nós dois de costas unidas.

Banhados em sangue... percebi  enquanto líquido negro jorrava de nossos inimigos.

Minha lamina era um estranho brilho negro e parecia agir por conta própria.

É de se esperar que em momentos como esse você não pense muito, mas comigo era o oposto do que acontecia.

Minha mente fervilhava de pensamentos , cada ressoar da lâmina cortando a carne podre, o suor pingando do meu rosto, o cheiro nauseante, e em meio a tudo isso gritos de todos os tipos que se pode imaginar..

Tudo era um contraste de horror que deixaria o inferno com inveja.

E pensei que o número de lobisomens era muito superior ao estimado todos os anos, em uma colina todos estaríamos mortos, a voz de Takeshi  dando sua última palavra no local da batalha ressoava em minha mente.

Um som estrondoso se fez ouvir interrompendo meus pensamentos , um dos caldeirões de óleo fervente foi jogado para dentro em vez de fora.

Todo o óleo escorreu violentamente vindo em torrentes até nós.

Um dos lobisomens havia feito aquilo.

Saltamos para a murada, Carson lutava com três se esquivando de garras afiadas de lobisomens que lurava quando o óleo percorreu o caminho até ele.

- Pule pra amurada! - gritei para ele.

Carson pulou para a amurada sem saber que levava consigo um inimigo preso às suas costas como um parasita Se desequilibraram os dois ficando pendurados pelas cordas que antes sustentaram outro caldeirão, disparei pela amurada chutando as cabeças em meu caminho que tentavam agarrar-se a mim.

Carson se debatia pendurado tentando soltar o lobisomem que mordia seu pescoço.

Parecia que o mundo estava acabando, e o calor era insuportável meu coração parecia que iria explodir.

Essas criaturas eram todas seres negros saídos do próprio Yomi, o mundo dos mortos, a cada ano surgindo uma vez no mês, antes dos samurais de Tsukuyomi, províncias inteiras eram massacradas por eles, eram comidas vivas, Tsukuyomi o deus lunar nos escolheu para a humanidade poder prosseguir, humanos não tinham a força para dete-los.

O tratato de Hideyoshi era leis severas para os youkais que violassem as regras da paz, viveriam em seus territórios e qualquer um que atacasse humanos era pena de morte.

Os lobisomens saídos do próprio yomi sempre eram abatidos, animais completamente irracionais.

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