4. Romão

Não era dessa forma que eu imaginava de reencontrar Alexia, ela parecia estar decepcionada, tive a impressão que vi brotar lágrimas em seus olhos, mas rapidamente, ela se recompôs.

Droga! Fiquei apreensivo com a forma que ela falou comigo, do seu jeito autoritário e arrogante de ser. O que eu queria afinal? Ela me flagrou beijando outra mulher, no seu lugar eu ficaria possesso.

Desencostei da mesa e caminhei em direção ao armário dos relatórios e separar o que ela me pediu, nem sei porque ela queria esses relatórios e não achava que seria uma boa ideia perguntar.

— Que bom te ver Alexia, nos reencontramos de novo.

Espera aí... elas se conheciam? Senti que meus mundos estavam colidindo.

— Quem é você? — perguntou Alexia olhando confusa para Mig.

— Não lembra de mim? Sou a Mig.

Alexia encarou a Mig com uma expressão de reconhecimento.

— Você faz o que aqui?

Pela voz da Alexia, ela não gostou de reencontrar a Mig.

— Sou a nova diretora de marketing e...

— Não! Eu quero saber o que você faz nessa sala? Seu andar não é esse.

Oh, merda!

— Ah, eu vim chamar o Romão para almoçar, se você quiser pode vir com a gente

O que ela pensava que estava fazendo?

— Não, obrigado! Eu já almocei e não estou a fim de segurar vela.

Merda, merda, merda!

— Nós não estamos juntos. 

Por que a Mig, simplesmente não fechava a boca? Peguei os arquivos que separei e fui em direção de Alexia, para entregá-los.

— Não foi o que eu vi.

Parei, imediatamente, no meio do caminho, quando aquelas palavras foram proferidas. Alexia olhou séria para mim e a vi contraindo a mandíbula. Respirei fundo, engolindo seco e voltei a caminhar em sua direção entregando os relatórios. Ela arrancou os arquivos da minha mão com agressividade, desviando seu olhar de mim e se virou dando as costas, indo em direção da porta. Queria pará-la, queria impedi-la de sair, não sem antes de conversarmos, mas a Mig estava ali e não podia expor Alexia, com certeza ela não iria gostar. Chegando na porta, Alexia girou a maçaneta e virou para nós.

— Apesar do que a política da empresa diz, não posso impedir que meus funcionários se relacionem, mas só peço que não façam da empresa um motel.

Puta que pariu! Não acredito que ela falou aquilo. O tom da sua voz continuava arrogante e autoritário, o que deixou eu e a Mig envergonhados, fora que, praticamente, me jogou nos braços dela.

Não era isso que eu queria, precisava falar com Alexia imediatamente. Ela saiu da minha sala batendo à porta, olhei para a Mig que ainda estava constrangida.

— De onde vocês se conhecem?

— Fomos da mesma sala no segundo ano do ensino médio — Que merda! E que mundo pequeno. — Então, vamos almoçar?

— É... Acho melhor deixar para outro dia.

— Por quê? Por causa que ela disse aquilo? Eu não me importo, já estou acostumada com a arrogância da Alexia.

Pelo que eu percebi, elas não eram amigas, o que complicava mais ainda as coisas para o meu lado.

— Não, não é por causa do que ela falou — menti. — É que eu tenho algumas coisas para fazer ainda, antes de sair para almoçar.

Como, por exemplo, falar com Alexia.

— Deixa para depois, vamos! Você precisa descansar um pouco.

Tinha me esquecido de como ela era insistente.

— Eu agradeço, sinceramente, pelo seu convite, mas eu tenho algumas coisas para resolver e não posso deixar para depois.

— Você não parece mais o mesmo Romão que namorei.

— Como eu disse, muitas coisas mudaram, eu mudei.

— Estou vendo! — Ela me olhou de um jeito estranho, não parecia aquela garota doce com quem namorei. — Bom, deixamos para outro dia, então?

— Sim, claro!

— Foi bom te ver, Romão.

Sorri em resposta, queria dizer que sentia o mesmo, mas na verdade, não sabia como me sentia. Depois de tanto tempo, não imaginava que esse reencontro fosse possível, muito menos, com Alexia presenciando daquela forma. Devia ter feito algo errado no meu passado, para ser punido dessa forma, vai ser azarado assim lá na esquina, ninguém merece.

Mig se aproximou de mim e beijou meu rosto, pegando o canto da minha boca. Ela nunca foi ousada, nunca no tempo que namorávamos, ela tomava a iniciativa. Pelo que vi, ela também mudou bastante. Mig saiu da minha sala dando uma piscadinha para mim ao passar pela porta. Preferi não pensar muito nessa atitude ousada dela, afinal, já se passou muito tempo e todos nós mudamos muito. Porque eu continuava repetindo isso?

Esperei alguns minutos antes de sair da sala, só para ter certeza que que a Mig não estaria pelos corredores. Quando saí da minha sala, dei de cara com a Patrícia, ela estava vindo na minha direção.

— Oi? Eu já ia te chamar para almoçarmos juntos.

Agora todo mundo resolveu me chamar para almoçar?

— Eu estava indo falar com a Alexia.

— Ela está na empresa?

— Ela acabou de chegar, eu acho.

— Que legal! Vamos lá, eu também quero ver a minha irmã.

Droga! Queria falar com Alexia sozinho, estava parecendo que teria que esperar um pouco. Caminhamos em direção da sala dela e eu me sentia um pouco nervoso. Ela me pegou em uma situação nada confortável, não sabia o que ia acontecer quando tivermos a oportunidade de conversar. Patrícia abriu a porta de sua sala sem bater e alheia à minha apreensão. Alexia estava de costas para a porta, diante da parede de vidro que ficava atrás de sua mesa, olhando para os prédios e a movimentação da rua lá embaixo. Ela não percebeu nossa presença de imediato, até sua irmã atrair sua atenção.

— Alexia!

Alexia se virou em nossa direção, sua expressão estava séria e com um copo de whisky na mão. Patrícia andou apressada em direção da irmã e a abraçou, pegando-a de surpresa. Alexia circulou o braço livre em torno da irmã e a abraçou, mas não demorou muito, Alexia afastou Patrícia a empurrando com cuidado e andado em direção da sua mesa, descansando seu copo sobre o porta-copos.

— É hora do almoço, o que estão fazendo aqui?

— Eu estava indo almoçar, quando Romão disse que você estava na empresa. — Alexia olhou para mim rapidamente e depois voltou a olhar para irmã. — Eu estava esperando você voltar só segunda, o que houve para voltar tão cedo?

— Mudança de planos, um assunto surgiu e requer a minha atenção.

— Que assunto é? A gente pode ajudar em alguma coisa?

— É pessoal, nada com que deva se preocupar — Seus famosos assuntos pessoais, da qual, ela nunca dizia o que era. — Como estão as coisas na empresa?

— Estão tudo bem. As coisas estão fluindo naturalmente, a empresa está crescendo, mas você sabe, ainda temos muita coisa para fazer.

— Com certeza! Depois que vocês almoçarem quero que me atualizem sobre todo o andamento.

— Ok! — Patrícia se aproximou da mesa de Alexia e mexeu nos papeis que Alexia acabou de pegar comigo. — O que faz com esses arquivos? Você sabe que eu gosto de digitalizar tudo e passo para sua nuvem, para que você tenha os documentos sempre que precisar.

Isso queria dizer que ela não precisava ir a minha sala pegar esses relatórios, então, por que ela foi para minha sala? Será que...

— Ah... é... — Alexia parecia não saber o que responder — Como estou aqui, preferi está com os documentos em mãos.

Ela não convencia nem a si mesma.

— Tudo bem! Você está em casa agora. — Alexia deu um sorriso triste para irmã. — Eu posso marcar um jantar na casa da minha mãe hoje? Ela está com saudades de você e prometi que quando você tivesse uma folga, te chamaria para jantar lá em casa.

— Tudo bem, pode marcar. Não tenho mais nada marcado para hoje mesmo.

— Tudo bem para você Romão, o jantar para hoje à noite?

Me surpreendi pelo convite, não estava esperando, achei que era apenas um almoço entre mulheres, mas não era o que estava nos planos da Patrícia. Olhei para Alexia, esperando alguma expressão que me indicasse para não aceitar esse convite, mas não veio. Ela ficou somente me olhando, esperando uma resposta.

— É... claro! Eu adoraria ver Alessandra novamente.

— Que bom! Vou deixar vocês a sós e vou marcar o jantar com minha mãe.

Patrícia saiu com o celular na mão, ligando para Alessandra. Olhei para Alexia buscando algo que indicasse se ela queira ou não falar comigo, mas mesmo não encontrando nenhuma indicação, comecei a falar...

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