Capítulo 3

Minha casa fica a uma hora do centro, na comunidade.

— Tem certeza que é confiável entrar aqui, senhor? — o motorista questiona desconfiado de colocar uma limusine dentro da favela.

— Se preferir posso ir a pé, só preciso trocar de roupa.

Claro que não quero ir sozinha, se encontrasse Ademir, ele poderia me matar dessa vez.

— Não! Siga em frente Alex.

Antônio ordenou risonho, está achando graça do medo do motorista.

— Penso que enquanto estiverem comigo, podem ficar tranquilos. — Sorri, tentando ser convincente.

Talvez não!

— Não sei não, senhor! — ele olhava para os lados assustado.

— Faça o que digo homem!

— Sim, senhor!

Vou acenando para os conhecidos e alguns me olham com inveja.

Paramos em frente ao meu barraco, não é de luxo, porém o único lugar que posso chamar de meu.

Antônio não quis esperar lá fora, já o motorista se recusou a descer, disse que cuidaria do carro.

— Mora mesmo aqui?

— É meu castelo de madeira. — Respondo lembrando de uma música, que ouvia muito quando era mais nova.

Ele entra na minha humilde residência, observando tudo com indignação, acho que nunca esteve em um lugar tão pequeno.

— Pegue suas coisas, só as mais importantes. Não vai ficar aqui! — fala depois de abrir os armários, a geladeira e sentar na minha cama de solteiro.

— Mas aqui é minha casa!

— Sem discussão, você não volta mais pra cá!

Pelo jeito ele gosta de ordenar.

Tomei um banho, troquei de roupa e o segui para o carro, Antônio me ajudou com a mala.

Do lado de fora, tem um monte de curiosos na rua. Será que estão pensando que é algum programa de televisão? Ai, se soubessem!

— Nicole! — ouço alguém gritar. É a Néia, uma vizinha invejosa que mal fala comigo. — O que está acontecendo? 

— Nada, só estou indo dar uma volta.

— Ou acertou a mão com um velho rico? — sugere, olhando Antônio entrar na limusine, nos dando privacidade, ele é mesmo um senhor educado. — O que digo para o Ademir, quando vir te procurar de novo?

Quer dizer que ele já tinha vindo?

— Não diz nada, ou diz o que quiser. Tchau, Néia!

Ela ficou lá parada, com cara de quem não gostou.

— Vamos? — Antônio pergunta, assim que me acomodo no banco ao lado dele.

— Sim!

Nem acabei de falar, Alex ligou o carro e saio dali o mais rápido possível.

Andamos por horas, depois de ir ao médico e tratar a minhas feridas, compramos algumas roupas com a ajuda das vendedoras, sapados que combinavam, lingerie e alguns acessórios. Depois comemos em um restaurante chique.

Ele me levou até um hotel e disse que ficaria ali até o casamento, carregou as sacolas para dentro, junto com o motorista já mais tranquilo.

— Obrigada, Alex! — agradeço quando está saindo do quarto.

— Estou as ordens senhorita! — ele é jovem e bonito, mas muito sério.

— Pode me chamar de Nicole.

Concorda com um menear de cabeça e sai.

Antônio se aproxima e pega na minha mão.

— Acredito que aqui vai ficar confortável e segura.

— Obrigada, Antônio! Vou retribuir da melhor forma que puder. Só não sonha com coisas obscenas!

Ele ri.

— Juro que não! E eu tenho que agradecer, vou te dar muito mais trabalho quando estiver debilitado.

— E o senhor está bem agora?

Me sinto mal por ter esquecido da sua doença, ele é tão alegre que não tem como notar.

— Estou ótimo, mas não será por muito tempo! Tenho só alguns meses de vida, no mais tardar um ano. Prometo que irei ensinar tudo o que conseguir sobre a empresa e a fazenda. — a tristeza muda seu semblante.

— Aprenderei tudo direitinho, prometo!

Digo a palavra que estava esperando de mim.

— Com toda certeza, agora descanse que amanhã vamos ao salão de beleza, ficará deslumbrante. Darei um jantar à noite, na minha casa, para anunciar o nosso casamento e meu filho vai morrer de inveja, meu neto então...

Levanta o queixo como um homem fodão. Ele é hilário, não sei como a família pode ser tão mesquinha a ponto de desejar sua morte.

O hotel é luxuoso, nunca estive em um lugar tão perfeito e maravilhoso. Caminhei pelos cômodos, depois que Antônio me deixou sozinha. Olhei tudo e mesmo sentindo um pouco de dor ainda: me joguei no sofá, pulei na cama enorme e fiquei horas na banheira, até meus dedos parecerem velhinhos.

Dormi tranquilamente, imaginando como seria estar em uma cama dessas todos os dias.

                                                            Otávio

  Estou no meu quarto em uma noite de sábado, me sentindo doente, frustrado, sonhando com a garota da boate. Não consegui ver seu rosto por conta da máscara, porém, o corpo é incrível, estou apaixonado pelas curvas, louco para toca-la, beijar aquela tatuagem...

  Nossa vou enlouquecer!

  Willian, meu melhor amigo, ficou puto que o deixei sozinho hoje. Ele diz que pega mais mulheres quando está comigo, — sorri com o pensamento. Fazer o que se sou um cara boa pinta. Sei que meu dinheiro também é atrativo; andar com roupas caras; o rosto bem barbeado; pagar todas as bebidas, as garotas enlouquecem.

  Já estive com muitas mulheres e nenhuma delas me fez sentir nada além de prazer, apenas o momento e depois até nunca mais. Não sou de repetir noitadas, prefiro caras novas. Sair com a mesma menina significa que houve uma conexão, — pelo menos na cabeça delas, — dando o direito de ficar no meu pé, tentando me controlando, e não, eu não sou assim, jamais mandarei flores e bombons, odeio ligações, e é por isso que hoje meu telefone está desligado, não quero que ninguém me incomode.

A garota da boate volta à minha mente, é ela quem eu quero agora e não vou descansar até conseguir.

Ouço uma batida na porta.

— Távio, Távio, sou eu, abra a porta!

É a minha irmãzinha, Beatriz.

— Me deixa em paz!

— Se não abrir, vou pegar a cópia da chave com a Emma! — Merda! O que ela quer? — Anda, preciso falar com você.

Minha irmã consegue ser uma vaca quando quer, e teimosia é seu nome do meio. Sei que se não abrir a porta ela vai entrar de qualquer jeito, nem que seja pela janela.

Me arrasto até a porta, mesmo não querendo me mexer. Abro meia porta.

— O que quer?

Beatriz está com o cabelo castanho todo puxado para trás em um coque, um vestido colado ao corpo e curto, — ficaria lindo em qualquer outra garota, menos nela, — um salto alto e maquiagem carregada. Sem pedir licença, entra empurrando, buscando passagem com a sua mão bem feita, esmalte vermelho, que também não gostei, — acho que Beatriz está crescendo rápido demais.

Poderia ter bloqueado a passagem dela, no entanto, estou sem vontade nenhuma de fazer força.

— Por que está em casa? — inquiriu com sua voz de criança mimada.

Não respondo, apenas deixo a porta aberta e me jogo na cama.

— Você parece horrível!

— Estou bem, só um pouco cansado.

Coloco um travesseiro na cabeça, tentando bloqueá-la.

— Cansado do que? Não faz nada o dia inteiro!

Já disse que ela é uma vaca?

  — Cala a boca! Sua voz está me dando dor de cabeça. 

  — Porque não saiu? — suavizou a voz em um tom preocupado.  Você deveria estar fodendo com alguém por ai e não aqui! Está se sentindo mal?

O QUÊ? Olhei feio para ela.

— Não fale assim menina, você ainda é uma criança!

— Vou fazer dezesseis anos o mês que vem Otávio, já sou quase adulta. E sei bem o que você faz por ai.

Pra mim Beatriz pode ter vinte anos, ainda será a minha irmãzinha, então não posso manter uma conversa desse tipo.

— O que quer Bia? — questiono me virando de barriga pra cima, ela senta ao meu lado.

— Você pode me levar na festa de uma amiga? O garoto que ia vir me buscar furou e nem o papai, nem o vovô chegou ainda.

— Não estou afim de sair.

— Me leva vai. Fico te devendo essa!

Encaro-a por um tempo, deixando claro que vou cobrar.

— Está bem!

Tomo um banho e automaticamente me sinto melhor, talvez volte na boate hoje, só para conseguir o nome da garota.

Assim que estávamos saindo, meu avô entra pela porta da frente todo sorridente. Ele nunca chegou a essa hora e já é tarde.

— Oi meus queridos, tudo bem! — parou seu olhar em Beatriz. — Não acha esse vestido muito curto Bia?

— É a moda agora vô, não encana. Vamos que estou atrasada! — empurra as minhas costas para começar a andar.

— Aonde vai a essa hora?

— Otávio vai comigo. — Beatriz mente na cara dura.

— Hum. Preciso falar com vocês antes, onde está o Heitor?

— Não pode ser amanhã, vô? — falo querendo correr dos conselhos dele, pois quando começa não para mais.

— Vou ser rápido filho.

Está com uma expressão estranha, vejo a tristeza em seus olhos, porém não combina com seu sorriso.

— Vovô, é sério? — Beatriz choraminga.

— Me escutem, por favor!

— Então fale! — já estou perdendo a paciência com essa enrolação.

— Amanhã darei um jantar para anunciar o meu casamento.

— Como é que é? — Beatriz questiona quase sem ar.

— Espera! Como assim casamento? — não consigo imaginar meu avô com outra mulher. — Quem é a velha?

Sinto vontade de rir, mas me contenho.

— Ela não é velha meu filho, e se fosse, o termo que usou é bem errôneo da sua parte, já que teve uma boa educação.

Reviro os olhos.

— Ok, vô! Amanhã estaremos aqui para conhecer a.... o que ela será minha? Vó?

— Será a senhora desta casa e vou exigir respeito! — então ele vira as costas e sobe as escadas, nos deixando com a boca escancarada, sem reação.

Porra! O que deu nele?

— Casamento? — Beatriz fala, me fazendo desviar os olhos para ela. — Ele não pode se casar com ninguém, não vou aceitar!

Dou de ombros, na verdade, estou ansioso para ver a velhota.

— Não somos nós que escolhemos, moramos na casa dele, esqueceu?

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