A HISTÓRIA DAS ERAS

OS MUNDOS ANTIGOS

A roda do tempo começou seu movimento, fazendo surgir vidas, fazendo surgir destinos. Como se acorda um deus?

Nem sempre o mundo consciente foi povoado pelos entes, também chamados de pessoas, e pelos homens, inteligentes e frágeis, sem qualquer poder especial que não sua arguta inteligência.

O mundo não é novo, já passou por muitas eras e por muitas mais ainda irá passar. Contam os mais velhos e sábios, com trânsito pelo mundo dos espíritos, que sete grandes eras já passaram, e que logo a atual irá terminar e passar também, como passam as águas de um rio ante os olhos. Quando as pessoas começarem a deixar esse mundo em direção a Manita, o reino de cima, a nona era, a era profetizada como a era dos homens, terá início. E esse fim e início anunciados, tal como aconteceu com todas as outras eras anteriores, será marcado por uma violenta crise que envolverá todos os seres viventes.

Sobre a história das eras, apesar da grande variedade de pessoas e da vastidão de seus números, há quase que um consenso, inclusive entre os homens: se há algumas diferenças entre as versões, ao fim elas são poucas, e muitas vezes apenas nos nomes das eras ou de qual raça forjou o herói que determinou os rumos das eras seguintes.

Antes da luz havia apenas um vazio indescritível, o nada. O nada era calmo e tranquilo, apenas existindo, sendo tudo em si mesmo. Não havia luzes, planetas ou meteoros, nem bem nem mal; não havia vida, nem mesmo a escuridão ou sua ausência.

Mas então o nada tomou consciência e, tomando consciência, passou a existir e se chamou por vários nomes. Mas a consciência é alcançada quando não é única, porque, sendo única, não consegue se perceber como tal. Sendo como era, um deus, se partiu em mais duas consciências e se fez três faces proeminentes. A face feminina se chamou de deusa Lua, ou Iraci; a face masculina de deus Sol, ou Inti, e o pai de todos, a fonte, o primordial, foi chamado pelos outros de Tupã, o deus Trovão. Assim é que uma toma consciência da outra e se descobre e se vê consciente, luz em negro vazio.

Conscientes, os deuses acenderam do profundo negror por temerem a não existência e por amarem a luz que Tupã acabara de criar e de se tornar, e se puseram a preencher o vazio onde viviam e que eram eles, com sóis e galáxias e mundos, e a enchê-los de vida que, como esporos, lançavam com amor aos campos que faziam surgir. Foi assim que Tupã, Inti e Iraci, trinos e unos, passaram a ser um deus criador, sob a personalidade única de Tupã.

Eons se passaram até que Tupã se viu intranquilo e seu ânimo diminuiu. E foi essa intranquilidade experimentada que marcou o fim da primeira era, que foi chamada de “a era da Consciência”, ou “a era do Despertar” ou, simplesmente, “a era do começo das eras”.

Intranquilo, Tupã parou de construir sóis e planetas e de enchê-los de vida. Sentia, por todo seu espírito, que faltava algo a tudo o que criara, como sentia que poderia continuar a criar sem descanso que sua amargura crescente não teria fim. Sentia necessidade de algo mais, de algo que pudesse evitar que sua consciência resvalasse perigosamente para a não consciência, para o temível esquecer, adormecer e trazer de volta tudo o que externara na criação, e reiniciar.

Tomado de paz espargiu o multiverso criado com partículas suas, não de simples vida, mas de vida que tinha consciência de si mesmo e das outras vidas, que chamou de indivíduos, e com ela criou então anjos, e para que se mantivessem em equilíbrio, também criou demônios.  Por um tempo ficou satisfeito, até que viu que havia disputas entre as suas criações. Com tristeza viu que não havia equilíbrio porque era ele que não estava equilibrado. Observando-os, aguardou, esperançoso de que seus receios fossem infundados. Os anos se foram, que se foram em séculos e milênios, até que seus temores foram confirmados: uma guerra brutal e extremamente cruel entre os anjos e os demônios explodiu.

Desejoso de entender o que acontecia experimentou sua criação, em anjo e demônio se fazendo. Como criatura sentiu a individualidade, e com ela o amor e o ódio, a inconstância imensa e a terrível agonia do abandono, a criação e a destruição. Então chorou, como só um deus sabe chorar. Pensativo recuou, percebendo que era próprio da energia criadora construir, experimentar, buscar novas formas, testar caminhos e trilhos, adorar o novo, apesar de ser doloroso demais em muitos momentos, porque a inovação, o novo, sempre cria e se alimenta da resistência.

Sorriu compadecido de seus filhos.

Em silêncio, então, ficou aguardando que a consciência que submetera aos anjos e aos demônios lhes cobrasse o que faziam, e os colocassem longe da destruição.

Assim, a cada novo dia criado sondava suas criaturas, esperançoso de que acordassem e vissem suas ações, e delas se envergonhassem. Pacientemente aguardava, mantendo o doloroso silêncio.

Então a guerra, que já durava centenas de anos, finalmente terminou quando os dois maiores e mais poderosos demônios, Trevas e Escuridão, foram aprisionados num grande lago com o formato de um jaguar, no alto de uma gigantesca cadeia de montanhas. Dizem os antigos que Tupã cansara de esperar e interviera, ou mesmo que enviara seus anjos mais poderosos para pôr um fim na terrível guerra, o que não se mostrou verdade, tampouco mentira. A única certeza era da dor que a guerra causava no deus Trovão, porque ele amava todas as suas criaturas, tanto que até mesmo aceitava de bom grado a dor para que evoluíssem, respeitando suas vontades.

Mas o deus Trovão estava tão chocado com a destruição e com as coisas terríveis que vira suas criações serem capazes de fazer que se retirou do multiverso, o que marcou o fim da segunda era, que foi chamada de “a era dos caídos”, ou “a era da primeira guerra demoníaca”.

Assustado e chocado tudo ficou em silêncio, esperando, procurando pelo deus Trovão, clamando por ele, até que, num distante momento ele retornou, se deixando perceber novamente. Foi tão forte sua ausência que, apesar de relativamente pequena essa era, como tal foi identificada. Assim, com seu retorno “a era da escuridão e da incerteza”, a terceira era, havia passado.

Porém, o deus Trovão continuava sem equilíbrio, incomodado pela certeza indefinível de que algo faltava, de que algo estava incompleto em sua criação. Olhando cada uma das outras criações, que não os anjos e os demônios, percebeu que elas precisavam se sentir vivas e responsáveis, o que o fez se decidir a dar à vida nova parte de sua consciência. Decidido tomou cada ser, e a alguns deu maior e a outros menor parcela de consciência, e ficou feliz ao ver que a luz dos olhos das criaturas se enchiam. Observando atentamente viu que aquele era o caminho correto, porque sua amargura diminuíra, mesmo sabendo que não estava finalizada sua criação. No ato seguinte, agora mais confiante, criou os entes mágicos, que chamou de pessoas, com faculdades mais limitadas que as dos anjos e demônios para que não tivesse que intervir e justiçar.

Por tempos longos tudo ficou em paz e seu coração se apaziguou, apesar de uma dor pequenina ainda insistir em continuar a latejar, vinda de uma falta não nominada a qual procurava insistentemente ignorar.

Foi num dia em que o aperto no peito estava maior que viu onze cabeças de uma estranha criatura amorfa num canto de seus lugares criados, cabeças de bonecos sem qualquer poder e toscamente animados. As cabeças não tinham enchimento como carnes, sendo apenas linhas de barro endurecido a modos de ossos. Elas tinham linhas mais suaves e esguias que as que criara até então, e eram bem maiores do que as que pusera nas pessoas. Mas o que mais chamou sua atenção foram os rostos, que eram muito diferentes das pessoas, pois tinham um quê de inteligência indômita, de curiosidade infantil e majestade tocante, e de uma humildade verdadeira e inocente que o tocou profundamente. Depressa as tomou e viu o que eram, e as soltou novamente. Os entes estavam criando bonecos de barro, que toscamente animavam.

Procurando os entes viu que era a consciência que dera a eles que fizera aquilo, porque os entes haviam ficado enfastiados, apesar da enorme variedade de raças de entes que criara. Ao verem Tupã em sua presença as pessoas correram e se esconderam sob o chão e sob as pedras e nas profundezas das cavernas mais esquecidas. Mas Tupã achava a todos, e a todos tranquilizava, dizendo que o que haviam feito não merecia castigo. Encorajadas as pessoas levantaram os bonecos sobre as cabeças e pediram que Tupã lhes desse vida. Tupã os avaliou, e falou com sua voz que ribombava nos céus: “A vida que darei a eles pode ser a que irão exigir de vocês”. Mas os entes não quiseram ouvir e insistiram para que os animasse. Tupã, movido pela curiosidade e pelo amor que havia nascido pelas novas criaturas, acabou atendendo seus pedidos.

As cabeças de barro que suas criaturas haviam criado cristalizou em pedras de variadas cores e lhes deu poderes e personalidades, tornando-as rainhas de destinos. E mais duas ele fez, de poderes ainda maiores, para que sobre as onze se sobrepusessem. Tupã então tomou os treze bonecos e fez réplicas, porque não queria que desaparecessem as criações de suas criaturas e nem as suas. Com cuidado colocou as caveiras num canto, e as chamou de mutas e de rainhas, e ficou satisfeito com isso. Às réplicas que criara, em número de treze, modificou. Com carinho de um pai o deus Trovão lhes deu membros longos e esguios e corpos que os tornavam mais altos que a maioria das pessoas, e a alguns fez machos e a outros fêmeas, como fizera com as pessoas. Satisfeito com as modificações tomou fôlego e soprou em suas narinas, sussurrando um de seus nomes. Enchendo seus peitos eles logo começaram a respirar, e abriram os olhos. Tupã sorriu e chamou as novas criaturas de homens, pensando neles como ponto de equilíbrio para as pessoas, porque elas eram ainda seres muito poderosos e suas guerras muito terríveis.

Olhando o que criara viu que ficara feliz.

Assim terminava a quarta era, que foi chamada de “a era dos entes e dos bonecos de barro”, talvez uma das eras mais pacíficas que o multiverso criado tenha experimentado.

Tupã ficou satisfeito por um tempo, mas se entristeceu novamente ao ver que os entes tratavam de dominar os humanos, fazendo-os de escravos e objetos de diversão, o que desaprovou profundamente, visto que se afeiçoara àquelas criaturas esguias e portentosas. Tomando os homens para si resolveu, então, dar-lhes a mágica mais poderosa, que guardava tão ciosamente pelo perigo que representava, pois que podia consumir toda sua criação, apesar da esperança que acalentava de que aquelas novas criaturas poderiam dar-lhe o significado que tanto procurava.

Então Tupã os tomou e, um a um, outro nome seu, um de grande poder, escreveu em suas testas, nome que apagava rapidamente para que não os destruísse. Foi assim que o homem adquiriu a brilhante inteligência de Tupã, o que o fez suspirar satisfeito ao ver como aquelas criaturas de corpos frágeis eram altivos e soberbos, e como logo se punham a criar e modificar tudo em que tocavam, tal como ele com os espaços infinitos.

E tão satisfeito ficou, pela independência e inovação que os dominava, que não se preocupou quando os entes, os anjos e os demônios, passaram a procurar os homens, gerando meio-humanos que foram chamados de nefelins. Muitos nefelins foram gerados, e muitos eram bons e muitos eram abominações. Muitos deles foram os maiores vilões ou os maiores heróis que já caminharam pela terra, como também os maiores sábios, demônios e santos que inspiraram as criações.

Mas os homens começaram a evoluir muito rapidamente, impulsionados pela inteligência depositada por Tupã em seus espíritos. Olhando a si mesmos e ao mundo, nas perguntas que se faziam começaram a adquirir identidade própria. A tudo davam nomes e significados que os ligava fortemente aos mundos que sentiam, até que começaram a se perguntar quem eram, de onde vinham e até onde poderiam ir. Foi nessa tomada de consciência de si mesmos que a guerra entre homens e pessoas eclodiu. Na força da mágica e na inteligência se bateram os entes e os homens, auxiliados ambos por nefelins. Essa guerra foi tão grande que quase causou a destruição total dos homens, salvos no último momento pela intervenção firme de poderosos anjos e demônios enviados por Tupã, e por algumas poucas e valorosas pessoas que não queriam a destruição dos homens. Descontente com as pessoas que queriam destruir totalmente suas criações, motivadas por sentimentos errados, Tupã tirou das pessoas o poder de criar outras criaturas, o que deixou as pessoas ainda mais inconformadas com os humanos, o que fez recrudescer a guerra.

Por fim a guerra acabou, deixando um sentimento ambíguo tanto nas pessoas quanto nos homens e nefelins, pois haviam percebido algo extraordinário e terrível, tão cheio de poder que poderia representar a expulsão das pessoas dos olhos do mundo: Tupã não havia dado aos homens apenas sua inteligência ou uma alma como a deles; ele também os havia dotado com parte de seu próprio ser, com almas tão poderosas que nunca iriam morrer.

Por um bom tempo as pessoas se mostraram magoadas com o deus Trovão e se recusaram a comparecer à sua presença. Tupã compreendeu e os reconfortou, dizendo que se os humanos tinham tal distinção apenas na força da alma, pois que as pessoas também possuíam a imortalidade da alma dada e que, em compensação, era deles a distinção de possuir poderes que, para os humanos, eram vistos como magia.

Então, mais tranquilos, sorriram e fizeram as pazes com os homens e os nefelins, e o mundo voltou à normalidade.

Olhando para trás os entes deram o nome de “a era dos entes e dos homens infantis” para essa quinta era que findava.

Foi no início da sexta era que os anjos começaram a construção de Thiahuanaco, na borda de um grande lago no alto de uma cadeia de montanhas portentosas. Então chamaram os homens e a eles deram a cidade como presente, porque viam que essas frágeis criaturas portavam a mais forte essência de Tupã que haviam visto em toda criação. Foi a partir desse dia que os anjos se tornaram seus abnegados protetores, porque viram que os demônios e alguns poucos anjos tinham ciúmes deles e maquinavam sua destruição.

Conscientes da curiosidade insaciável que consumia os homens, na praça central da cidade os anjos construíram um grande portal de pedra, um portal mágico que poderia se ligar a outros mundos, funcionando como portal por onde seres poderiam transitar e onde os homens poderiam satisfazer sua curiosidade divina. Admirando o que fizeram abriram mais doze portais, que esconderam e ocultaram no interior das terras, nas faces das montanhas, porque temiam que os demônios deles pudessem lançar mão.

As que construíram no interior eram portas de menor poder, que apenas mentes poderosas poderiam usar, enquanto que, a da cidade, era uma porta de grande poder.

Mas viram que a porta principal precisava de muito mais energia do que supunham, porque esse mundo ainda era muito pequeno em poder. Assim, tomaram as onze caveiras de poder e de vontades independentes que as velhas pessoas haviam esculpido e nas quais o deus trovão havia se inspirado para criar os homens, juntamente com as outras duas criadas pelo próprio Trovão, e delas lançaram mãos, porque elas poderiam fornecer a energia de que o portal precisava.

Só que o deus trovão sentiu a falta das caveiras, e viu que os anjos as haviam pegado.

Indo até eles viu os portais. Preocupado os alertou sobre mundos que não deviam ser tocados, porque lá colocara os que criara pela sua face sombria, como também os alertou sobre as caveiras, as mutas, porque elas tinham vontade própria e muito senso de independência, especialmente duas delas, as que criara por vontade, uma que chamava de maestra, porque essa era a central, a que canalizava e concentrava a energia das outras, e que podia dominar e devastar uma vasta região do multiverso criado; e a Volitora, uma caveira de alto poder e independência que às outras podia dominar e suas vontades consumir, fazendo-as trabalhar para satisfação de sua própria vontade, com exceção da própria maestra. Por um momento ficou em silêncio, pensativo. Por fim, vencendo o silêncio disse que o perigo maior seria quando as treze estivessem unidas, porque seu poder seria monumental, tanto que poderia determinar os rumos do mundo ao elevar um vencedor que a tudo dominaria se houvesse alguma guerra em andamento, ou destruir a criação ou parte dela, se não lhes visse valor, motivo pelo qual as deixara afastadas.

Mas os anjos ignoraram seus alertas.

Então abriram seis nichos retangulares nas costas do portal e dois na frente, para poderem colocar as caveiras. As duas de maior poder, Maestra e Volitora, colocaram nos nichos da frente, enquanto outras seis nos nichos que abriram às costas do portal, arrumando as outras cinco em locais determinados ao redor do portal, fechados como uma estrela.

Eles sorriram, satisfeitos com o presente que haviam feito para os humanos.

Só que eles foram enganados.

Foram algumas delas, sob a influência de Volitora, que, utilizando a energia reunida, sem que os anjos se dessem conta do perigo, libertaram os dois demônios de suas prisões no lago, porque deles haviam ficado penalizadas e se afeiçoadas a eles.

Sem que os anjos se apercebessem, em surdina os demônios aproveitaram o portal e o ligaram a um dos mundos de que Tupã havia alertado os anjos, e muitos demônios se esgueiraram por ele e invadiram essa terra, porque eles queriam tomar posse da essência divina que Tupã dera aos homens, se alimentar dela, se fortalecer com ela, para assim poderados destruir aqueles a quem Tupã amava mais do que a eles.

Surpreendendo os anjos deles conseguiram tomar três caveiras num primeiro momento, Danação, DosVivos e Alegoria, porque elas queriam com eles se unir.

Sob os olhos pesarosos de Tupã uma grande guerra envolveu tudo o que se conhecia. Foi durante essa guerra que uma quarta caveira, Canhestra, traiu um anjo e se aliou a um dos demônios.

Ao cabo de um curto tempo os anjos acabaram sitiados em Thiahuanaco e, após um cerco cruel e violento, eles foram batidos e obrigados a abandonar a cidade e as montanhas. Para as terras baixas se encaminharam, levando consigo as nove caveiras restantes, que trataram logo de ocultar.

Assim terminou a sexta era, chamada de “a era da segunda guerra demoníaca”, porque os demônios haviam entrado novamente no mundo e promovido a guerra.

Mas os demônios perceberam algo terrível: eles próprios estavam ilhados, porque haviam sido colocados sob uma lei por Tupã: a de que só poderiam pisar um solo com a permissão de quem as terras dominasse. Olhando ao redor viram o vazio, porque haviam destruído toda a vida ao redor, e viram que estavam presos. Lentamente, na fome que os dominou e que não podiam saciar, deles mesmos passaram a se alimentar, até que restaram apenas Trevas e Escuridão.

Sós, em silêncio ficaram chamando e aguardando.

Os anos se acumularam em séculos e mais séculos, se acumulando sobre o mundo numa espera paciente.

Foi muito depois, nas poeiras dos tempos esquecidos, que pessoas e homens desavisados, atendendo às lamurias que sentiam no vento, entraram na cidade. Sobre eles os demônios caíram, e diminuíram sua fome e estenderam seus domínios além dos limites da cidade. Foi através da energia deles que os dois poderosos demônios, Trevas e Escuridão, conseguiram energia suficiente para atrair e enganar muitos outros, acumulando energia para reabrir o portal o suficiente para trazer um exército de mantas e sombras.

Os demônios, por desejo de mais energia, corromperam todo um império de homens e pessoas que vivam sobre as montanhas e o mobilizou contra as terras baixas, rente aos pés das montanhas, para onde os anjos tinham ido. Esperançosos estavam excitados na possibilidade de que localizariam e repatriariam as caveiras de poder e, assim, iriam recompor as treze rainhas originais, porque sabiam do poder descomunal que elas possuíam quando reunidas.

Uma nova e terrível guerra consumiu o mundo de então, tão vasta e cruel que ceifou muitas e muitas vidas e que, ao seu término, causou o fim dessa era. Essa longa guerra, tão grande e envolvente que foi chamada de “a guerra dosvivos”, terminou de forma estranha com o recuo dos danatuás, os guerreiros das terras aos pés das montanhas, quando a vitória parecia garantida, o que gerou graves consequências para toda a vida desde então.

Ela foi tão marcante que, quando terminou, o mundo estava enormemente diferente.

A sétima era, que assim chegava ao fim, foi chamada de “a era da terceira guerra demoníaca”, porque os demônios haviam tentado novamente avançar sobre o mundo, agora com alcance muito maior do que haviam conseguido na primeira e na segunda guerras. Outros, especialmente os que moravam aos pés das montanhas, apesar de coincidir no tempo para início e fim da era, adotaram outro nome e passaram a chamar essa era de a era da vergonha, porque eles entendiam que ela havia terminado em vergonha, acreditando que haviam sido traídos pelo conselho de guerra dos danatuás ao abandonar a guerra dosvivos quando, praticamente, estavam vitoriosos.

Assim, a oitava era começou com expurgos violentos dos que foram vistos como traidores. Foi nessa nova era que foram criadas poderosas ordens secretas, para que os protegessem dos demônios e dos anjos, que eram vistos vagando pelas terras baixas caçando e dominando as mentes de homens, pessoas e nefelins. Também foi nessa era que foram, tempos após, empreendidas caçadas violentas a essas mesmas ordens, porque todos passaram a temer o enorme poder que haviam acumulado.

Mas, como tudo o que toca a entes e homens, as coisas foram sendo esquecidas nas gerações e tempos que se sucediam, fazendo parecer que o mundo havia ficado em paz.

Assim foi até que os dois demônios que dominavam aqueles vastos altos olharam outra vez para o rés das montanhas. A oitava era estava chegando ao fim, eles pressentiam, eles viam os sinais, e ficaram temerosos de que se cumprisse a profecia, que dizia que a nona era seria a era dos homens. Mas, sabedores que, ao fim de uma era, possibilidades se abrem, desejaram em seus corações negros um novo caminho para a nona era: eles desejavam a era dos demônios, que diziam seria eterna.

Nas terras baixas, aos pés das montanhas imensas, os sábios e os oráculos suspiraram, porque viam os sinais de que a oitava era estava findando.

E sondaram, preocupados, as altas montanhas a oeste.

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