Capítulo três

Os anos se passavam muito rápidos, talvez por eu estar muito ocupada estudando, eu me tornava cada vez mais estudiosa e focada. Na quinta série, teve um concurso de matemática na escola, e eu, queria muito participar, e ganhar, é claro.

Perguntei para a minha atual professora, a Juliane, como eu faria para participar, ela me abraçou e disse.

—Como tenho orgulho de você Suzan, você é muito especial e acredito que tem muito potencial para ganhar essa medalha. Bora lá na diretoria, vou fazer sua inscrição.

Já era o final da aula, a professora pediu que todos guardassem o material, e seguimos para a diretoria.

Depois da inscrição concluída, a professora me deu algumas instruções, para que eu estudasse em casa, e me forneceu uma apostila só de matemática.

—Pegue Suzan, essa apostila vai te auxiliar nos estudos e, estude muito, tenta focar somente no prêmio, tenho certeza que vai se sair bem.

Essa semana eu já informei minha mãe, meu foco seria só os estudos, nada de limpar a casa, ou lavar a louça, ou qualquer outra coisa, nem minhas amigas eu não queria em casa, eu queria muito ganhar esse concurso.

Mamãe e papai tinham muito orgulho da filha, e queria sempre o melhor, então me deram essa privacidade.

Chegava da escola, só me trocava, tomava um pouco de café e me trancava no quarto, estudando, as vezes até dormia em cima da apostila, por levantar muito cedo, meus olhos se fechavam sozinhos.

Depois de uma semana de muito empenho nos estudos, muito foco, chegou o grande dia, o dia do concurso CNM, Concurso Nacional de Matemática que seria no sábado, na sexta—feira, eu custei a pegar no sono, minha adrenalina estava além do normal, eu passava e repassava várias vezes a apostila, pensando que poderia esquecer algo.

Mamãe dizia:

—Filha, você precisa descansar, senão não aguenta a longa prova amanhã, vou te fazer um chá de camomila.

—Mãe, se eu relaxar demais, não vou conseguir acordar amanhã cedo? E se eu acabar ficando sonolenta sobre a prova? —Eu dizia muito preocupada.

—Tenho certeza que se sairá bem filha, você é muito inteligente, e estudou a semana inteira, porém, caso não dê certo dessa vez, não fique triste, tudo tem seu tempo, e será um grande aprendizado para sua vida. —Ela falava e me abraçava.

Não existe calmante melhor como o colinho da mamãe.

—Eu quero muito ganhar mamãe. —Eu falava já com ar de competidora. —Está bem, agora vou querer o chá.

Mamãe se levantou e foi até a cozinha preparar o chá, enquanto papai dormia tranquilamente, eu acendi a luz do meu abajur do lado da minha cabeceira e comecei a folhear novamente a apostila, enquanto mamãe não voltava.

—Filha, já está eufórica de novo meu bem? Relaxa, vai dar tudo certo, tome seu chá quentinho e depois durma. Vou tentar relaxar também, para te levar amanhã.

Ela me deu um beijo de boa noite no alto da testa passando a mão sobre os frizz do meu cabelo, se virou e deitou, de costas para o papai, me olhando com olhos piedosos e ansiosos, até seus olhos não aguentarem mais.

Amanheceu, um dia ensolarado como sempre na nossa região, antes das seis da manhã, o sol já mostrava seus pequenos raios claros sobre as frestas das janelas de madeira.

Levantei praticamente em um pulo, corri para cozinha e lá estava mamãe, com o café pronto, um bolo de fubá e algumas rosquinhas.

—MAMÃE! —Eu disse alto e com surpresa. —Onde conseguiu tudo isso? Estou atrasada?

—Calma filhinha, está em tempo, vá se arrumar. Dona Ana ficou sabendo que você faria prova, e ela te admira muito, por isso, trouxe esse café da manhã especialmente para você, disse que precisaria ficar forte para passar na prova.

Olhei para mamãe com cara de. Não sei se ri ou se choro de tanta felicidade, não sei quanto tempo faz que não como um bolo, meus olhos lacrimejaram e eu saí correndo para o banheiro, disfarçando meu nó na garganta, fiz minha higiene pessoal e troquei de roupa.

Coloquei uma roupa leve, das poucas que tinha e um tênis confortável, seria a primeira vez que enfrentaria três horas direto de prova.

Mamãe chamou papai para tomarmos café em família, todos em volta da mesa e, papai, como o "senhor" da casa, começou a recomendar, ele não tinha terminado o ensino médio, pois teve que trabalhar para ajudar o vovô em casa, mas queria muito ter uma filha bem instruída.

—Filha, preste atenção em cada pergunta antes de responder, e respire fundo e tenta relaxar, não fique nervosa porque isso sempre atrapalha, você pode também, ler a pergunta e depois procurar a resposta no texto. —Meu pai não entendia muito de concurso, mas parecia ter conhecimento suficiente para aconselhar.

Enquanto ele falava eu só respondia com um. Humhum e com a boca cheia de bolo, que delícia. E pensando. "Quando voltar preciso ir até a dona Ana agradecer esse bolo, está delicioso, e as rosquinhas? " Antes de engolir o bolo já saí pegando rosquinhas.

Mamãe me olhava, e abria um leve sorriso, eu sabia o que passava na cabeça dela, ela sempre quis que eu tivesse essa fartura, mas não tínhamos condições, então ela estava feliz por mim.

Seguimos para a escola, cada vez que chegava mais perto, minha barriga embolava em uma confusão só, eu respirava profundamente, tentando não perder o controle.

Fiz a prova, e, por mais nervosa que estava, ocorreu tudo bem, acho que o bolo da dona Ana me deu forças. Saí da escola e mamãe já me esperava do lado de fora com os braços abertos, agarrei o seu pescoço e deixei aquele nó desabar, chorei feito um bebê aos braços de minha querida mãe.

—Vamos filha, me conta no caminho como foi.

Eu fui quase a última a sair da sala, mas sei que, o que importa não é a rapidez e sim, as respostas corretas.

Cheguei em casa e agarrei o pescoço do papai, ele mais que orgulhoso já dizia sem parar.

—Sei que você foi bem minha filha, você é muito inteligente e aplicada.

Eu estava muito feliz, olhava para meus pais sorridentes, isso não tinha preço, eu estava dando orgulho para eles e queria dar mais ainda, esse foi um dia muito especial, desde cedo até a noite, minha mãe estava sorrindo, não sei se era de orgulho ou para não me deixar tensa, mas, enfim, era tudo o que eu queria, vê—la sorrindo.

O resultado do concurso sairia no outro sábado, minha ansiedade foi demais nessa semana, quando chegou sexta—feira, minha mãe passou a noite inteira tossindo e vomitando, resolvi ficar em casa e cuidar dela, no sábado não pude ir ver a lista de classificação na escola, mamãe estava de cama e eu não poderia deixa—la sozinha.

Meu final de semana foi assim, cuidando da mamãe e da casa, papai ficou triste, não queria mamãe doente, e queria que eu continuasse minha vida normal, indo para escola sem faltar, mas o destino nem sempre é o que esperamos.

Segunda—feira tive que ir para escola, mamãe não estava cem por cento, meu coração ficou na garganta, mas ela pediu que eu fosse, eu não poderia faltar a aula, logo agora que tudo estava dando certo.

Cheguei na escola cabisbaixa, foi a primeira vez que meu pai me levou.

—O que houve Suzan, era para você estar super feliz, não viu a sua classificação no concurso da CNM? —A professora logo perguntou.

Meus olhos lacrimejaram e ela me abraçou.

—Venha, se acalme, vamos ver a lista juntas e você me conta o que aconteceu. —Ela colocou seu braço no meu ombro e me guiou em direção as folhas pregadas na parede do pátio da escola.

Contei tudo o que aconteceu, sobre a mamãe, ela me consolou.

—Olha, eu entendo sua tristeza e sinto muito mesmo, mas tudo vai melhorar, olha, seu nome aqui na lista.

Quando olhei, minhas pernas amoleceram, e uma grande quantidade de sangue subiu para a minha cabeça, senti um calor excessivo, a professora começou a me abanar e dizia.

—Eu disse que você se sairia bem, você é especial Suzan, tem uma inteligência incomum.

—Professora, tenho muito a agradecer a você, a meus pais que me apoiaram e me acalmaram, se não fosse por vocês eu não estaria aqui. —Finalmente consegui falar algo, com um nó na garganta.

—Venha, vamos para sala contar para seus colegas. —Ela me abraçou novamente com carinho me levando para sala, depois de me dar um copo de água. Eu ainda não estava acreditando.

Chegamos na sala e a professora anunciou.

—Galera, hoje é um dia especial, todas as escolas de Sobral, participaram do CNM, e todo o estado participou, e a nossa querida Suzan, sim, a coleguinha de vocês ficou em primeiro lugar na classificação.

Todo mundo gritou aplaudindo, e minhas amigas, Carmen e Dulce correram para meus braços, me apertando como se eu fosse uma boneca de pano.

—Calma pessoal, ainda não terminei, hoje não teremos aula em homenagem a nossa coleguinha, mas vamos discutir tudo sobre a importância desse concurso e o que mudará na vida da colega, para incentivar cada vez mais vocês a participarem, ok?

—Uhuuuuuu. —Todos gritaram e vieram um de cada vez me parabenizar e me abraçar, me senti muito feliz por esse momento, eu sorria por fora, mas meu pensamento estava na minha mãe em casa, não sabia se ela estava bem.

Nessa algazarra toda, eu não percebi, mas, quando todos se sentaram, tinha um bolo de festa na mesa, em formato de livro, a professora Juliane tinha preparado tudo com muito carinho, aquele gesto me trouxe uma alegria profunda, que terminei meu dia na escola sorridente com minhas amigas.

Carmen resolveu ir até em casa comigo, para ver como mamãe estava, chegamos lá, mamãe já tinha preparado o almoço, graças a Deus, isso me deu um grande alívio. Ela convidou Carmen para almoçar conosco, como ela era muito tímida não sabia o que dizer, era a primeira vez que vinha na minha casa, me deixando muito feliz.

Mamãe ligou para a casa de Carmen avisando que ela almoçaria conosco, fiquei com um pouco de vergonha por não ter comida boa, era só arroz e feijão e não tinha sobremesa, mas mamãe tinha matado um franguinho que papai recebeu de dividas, então pelo menos tinha carne. Terminamos o almoço e depois de arrumar toda a cozinha com Carmen, fomos para o quarto e fechamos a porta, fomos fofocar de colegas e meninos bonitos.

Assim terminou nosso dia, eu feliz que minha amiga me visitou e que minha mãe já estava boa, e meus pais felizes por mim, não poderia ter acabado melhor.

Mas, nem sempre a vida é tão perfeita, os anos que se seguiram não seriam tão perfeitos.

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