Capitulo 1

É tão estranho quando você se torna o significado de alguma palavra. Tem gente que se torna o significado de inteligente, quando usa-se mais o cérebro e a inteligência para tudo, até para o amor, quando não se precisa. Tem também os Românticos, sabe, aqueles que tem paixão não só quando se trata à pessoas, mas a tudo o que gosta e tem uma personalidade gentil e amorosa. Um dos mais importantes são os Presos, pessoas que se prendem dentro dos seus pensamentos e dentro de si, que não gostam de demonstrar seus sentimentos e às vezes são incompreendidos por muita gente que não sabe o que eles pensam e passam. Eu sei disso porque eu já vi e vivo.

Eu passei minha vida inteira tentando descobrir o que eu era, quem eu era e o que eu queria. Resposta? Nenhuma.

Minha mãe é outro enigma que talvez eu nunca vá conseguir decifrar, até porque ela não estaria presente se

eu quisesse decifra-la.

- Bom dia. - Desci as escadas e a vi em frente a pia da cozinha. O que mais chama atenção nela de primeira, são os cabelos loiros esbranquiçados mais bagunçados e secos do que os galhos de uma árvore murcha. Em seu corpo, seus ossos são bem visíveis, principalmente nas costas. -Olá?

Ela virou seu rosto para trás e deu um leve sorriso forçado. Suas olheiras estavam mais escuras do que o normal. Não duvido que tenha acabado de chegar, pois suas roupas ainda são as mesmas que estava ontem de manhã quando saiu.

- O que quer para o café? - Perguntei sorrindo depois de um grande suspiro. Liguei uma boca do fogão e quebrei os últimos dois ovos que tinham, jogando-os na frigideira. Ela me olhou de canto, seus olhos estavam quase se fechando, e negou com a cabeça dizendo que não queria.

- Tem ovos e vou fazer um café pra você.

Bufei olhando-a. Ela parecia voar  em volta de si e não me deu atenção. Respirei fundo e desliguei o fogo já com raiva.

- Você comeu alguma coisa de ontem pra hoje? - Perguntei olhando em seus olhos. Ela revirou os olhos e me deu as costas, como sempre. - Ou você apenas bebeu?

- Não comece outra vez.- Sua voz autoritária e rouca tomou a cozinha. - Minha cabeça doe, não preciso que você piore.

- Você mesma se piora. Só não resolva me procurar quando lembrar que só tem uma pessoa nesse mundo que ainda se importa com você. - Repliquei subindo às escadas. Minha fome já havia passado, ouvi apenas o barulho da porta da frente se fechando com força dizendo que ela saiu outra vez.

São esses os diálogos aqui em casa, e eu estou farta disso. Abri a porta do meu quarto com agressividade e parei ao ver a pequena mala interminada em cima da minha cama, com roupas jogadas pelo chão e cama. Eu sei que isso não é o certo a se fazer, mas eu não posso mais continuar com isso. Não é mais um convívio entre mãe e filha, é um convívio de mãe e filha.

Tudo deveria ser como no passado, e eu realmente não sei o que aconteceu de lá pra cá. Não sei se foi a separação e ou a angústia de sair da cidade que ela tanto amava. Nunca, nunca me contou o que tanto fazia naquela tão amada floresta que eu queria tanto conhecer, mas ela nunca me deixou.

Eu lembro apenas de flashes da cidade, da minha antiga casa e do meu pai.

Meu pai.

Eu não lembro dele como gostaria, mas sei que ainda continua no Colorado. Pelo o que sei, ele é muito caseiro e gosta da cidade, dúvido muito que tenha se mudado.

Entrei debaixo do chuveiro e tomei um banho quente e rápido. O ônibus sai uma hora da tarde em ponto, eu não posso me atrasar como ontem. Fiquei tanto tempo arrumando a mala e perdi a coragem depois que a vi quase pronta. Eu não consigo decidir o que levar e o que deixar pra trás.

Ao me vestir, peguei o meu cofre e joguei-o no chão. As moedas se espalharam por todo lugar. Juntei tudo em uma bolsa mediana e peguei as minhas economias dos bicos que fiz que venho juntando desde o mês passado.

- Mel?- Chamei minha gata, ou quase minha gata, se demonstrasse que gosta de mim. Ela simplesmente desapareceu ontem e ainda não voltou. Acho que pegou a mania de minha mãe, Amélia.

Depois de arrumar e pegar tudo o que eu iria precisar, desci para a sala com a mala. Peguei os documentos do divórcio da minha mãe que estava escondido em uma caixa velha e os coloquei dobrado em meu bolso. As informações da minha antiga casa estão apenas nele, nem ela lembra mais de cabeça nenhum endereço.

A carta que deixei preparada para hoje coloquei dentro do refrigerador, onde eu sei que ela irá mexer, pois é onde estão suas bebidas.

Eu tomei essa decisão

e agora não vou mais voltar atrás. Eu não posso voltar atrás. Me doe ter que deixa-la, acima de tudo ela ainda é a única que tenho contato como família, mas eu não posso mais deixar que o seu estilo de vida atrapalhe na minha. Eu sinto que esse aqui não é o meu lugar, na verdade, nunca foi o meu lugar. Agora é tudo ou nada. Eu não sei exatamente o que vou fazer a partir de agora, mas sei exatamente aonde devo ir, e sem volta.

Cheguei na estação de trem uma hora depois que saí de casa. Comprei a passagem e fiquei esperando a locomotiva sentada no banco em frente tentando não pensar como minha mãe vai agir quando não me ver mais lá, quando se der conta de que agora está só. A vontade de chorar rasgou minha garganta, mas não posso chorar. Corri para o banheiro da estação e molhei meu rosto que já estava vermelho e fiquei olhando meu reflexo pelo espelho manchado de ferrugem.

Sempre foi curioso o fato de que sempre que me olho no espelho, meus olhos cintilam. Eu acho que eles tem uma cor diferente ou algo assim, mas é sempre quando olho pelo espelho. Isso vem acontecendo desde que fiz dezessete anos em abril. É realmente um fato curioso, já que ninguém nunca vê isso.

Ouvi o trem chegar. Enxuguei meu rosto e corri pra pegar minha mala e entrar, mas no primeiro degrau da subida, eu parei. Meu coração apertou dentro do peito e o outro pé não queria de jeito nenhum se mexer.

O maquinista reclamou ríspido e, com o susto, entrei.

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