DUENDE NEGRO
DUENDE NEGRO
Por: Léo Pajeú e Léo Bargom
CAPITILO I O ACIDENTE

CAPITILO I

O ACIDENTE

         Gil sentiu que a primeira corda estava sendo rasgada pelas pedras, parou de descer, avisou pelo rádio, pegou a lanterna para avaliar a situação na escuridão e sentiu o impacto no rompimento da corda jogando-o na parede das pedras, a lanterna caiu caverna abaixo fazendo pequenos raios de luz durante sua trajetória.

         Naquela trajetória da lanterna caindo Gil percebeu que a situação era perigosa, pegou o rádio de comunicação para informar a situação, quando sentiu seu corpo balançar de um lado para outro, fazendo com que o rádio também caísse, perdendo seu meio de comunicação.

          A sensação de perigo era imensa, não sabia realmente onde estava e a profundidade da caverna era desconhecida, tentou grudar nas pedras segurando com as mãos e usando os pés, mas era em vão, a segunda corda também se rompeu, Gil arregalou os olhos, pressentiu a sensação de uma queda livre na imensa escuridão.

         A morte era eminente, não tinha salvação, fechou os olhos e aguardou o impacto na profunda caverna, durante a queda livre relembrou da trajetória que fez até chegar aquele momento crucial.

        A manhã estava presente, o sol colossal surgia no horizonte mostrando seu poder de brilho, o dia prometia ser quente no prenuncio da primavera.

         Nas margens do lago Paranoá uma leve neblina ia se desfazendo para acomodar a luz e o calor.

          Na pista de atletismo, raia três, Gil em posição de partida estava concentrado para mais um tiro de trezentos metros, fase de treinamento que levava a sério na tentativa de obter índice para o Campeonato Brasileiro de Atletismo.

          No acostamento da estrada próximo a pista de atletismo, já estavam aguardando encostado na camionete, Gabriela e Rodrigo, estudantes que estavam convocados para uma excussão nas cavernas da Chapada Diamantina, que iriam descer no Poço Encantado.

          Próximo da camionete, vai parando no acostamento uma moto Harley-Davidson, um motoqueiro vestido com roupas dos anos setenta, o capacete que usa, já não se encontra hoje em dia, só em lojas especializadas, as roupas parecem de um museu ou colecionador.

          O motoqueiro silencia a moto e baixa seu pé de apoio, desce como se conhece do oficio, encosta na moto e começa a olhar para pista de atletismo, neste instante Gil larga para mais um tiro de trezentos metros em velocidade.

          Gabriela presta atenção no motoqueiro e o observa, vira-se para Rodrigo protegendo os olhos com o braço dos raios do sol que interfere sua visão com a grande claridade e comenta:

     - Rodrigo que cara estranho!

     - Por quê? Só por que está vestido com estas roupas antigas, uma moto antiga, a rua é pública, talvez esteja só descansando ou curtindo o amanhecer. – Diz Rodrigo querendo deixar Gabriela tranquila.

     - Sei não, estou achando meio estranho, o cara parece uma mistura de Bob Dylan, Zé Ramalho e Raul Seixas. – Diz Gabriela tentando impressionar Rodrigo para que preste mais atenção no motoqueiro.

          A conversa dos dois é interrompida por uma buzina de outra camionete que chega freando, chegando bem próximo, deixando um pequeno rastro de pneu no asfalto, escutam-se os gritos, como se estivessem em uma festa, com o som nas alturas tocando um bailão sertanejo.

          Desce da camionete Leonardo, o milionário, filho do Senador, que logo começa a comentar sobre o horário marcado, onde estavam os convocados para a excussão, que estava pagando tudo e não ia gastar uma fortuna com um bando de irresponsáveis.

          Rodrigo foi apaziguando o afoito e informando que estavam quase todos ali, Gil estava na pista de atletismo, Lin Zu tinha ido pegar sua mochila, Lucas tinha saído da pista e estava no vestiário se trocando e a Professora Eliane já devia estar chegando, que aguardasse um instante.

          Depois de contido Leonardo observa a sua frente à moto e o velho encostado nela, expressa um sorriso satírico e comenta.

      - Quem é aquele maluco, acho que vou tirar uma onda com ele.

     - Cara fica na tua, deixa o velho para lá, não abusa de teu poder. – Diz Rodrigo tentando conter o irritante Leonardo.

     - É verdade Leonardo, deixa o velho para lá, a Professora deve estar chegando e ela não ia gostar disso.  - Disse Gabriela com pouca expressão.

     - Tudo bem, vou ficar na boa, mas se este velho cruzar meu caminho outra vez eu vou sacanear com ele. – Disse Leonardo com ar de grandeza.

     - Leonardo tu ainda vais arrumar encrenca e um dia teu dinheiro pode não resolver tudo, não fica provocando a sorte. – Disse Rodrigo tentando fazer medo a Leonardo.

          Leonardo ergue os ombros como se estivesse dando a mínima para o comentário de Rodrigo, abre a porta da camionete e aumenta o volume do som.

          Neste momento a Professora Eliane passa e buzina indo direto para o estacionamento deixar o carro. Lucas aparece trazendo sua bagagem vai logo colocando dentro da camionete, em seguida chega a Professora com sua bagagem e Rodrigo a ajuda colocando junto à bagagem de Lucas.

          Leonardo inquieto cumprimenta a Professora e solta uma de suas piadas deixando-a sem graça, em seguida cobra a presença de Gil e Lin Zu fazendo comentários racistas.

     - Cadê aquele crioulo e aquela açaflor, será que esqueceram que tem compromisso com o meu investimento nesta pesquisa de campo.

     - Calmo aí Leonardo, não precisa ofender ninguém, ainda estamos no horário, é só aguardar um pouco que já estão vindos – Disse a Professora tentando conter a euforia de Leonardo.

     - Olham lá eles, já estão vindos. – Disse Lucas apontando em direção de Gil e Lin Zu.

     - Ainda bem, já não aguentava mais esperar. – Diz Leonardo se conformando com a chegada de Gil e Lin Zu.

     - Leonardo você é incorrigível, acabou de chegar e já está reclamando. – Disse Gabriela não concordando com a impaciência de Leonardo.

     - Bem já estamos todos aqui, a recomendações foram feitas antes, agora é só pegar a estrada, que Deus nos Guie. – Disse a Professora prevendo uma boa viagem.

     - Quem vai comigo, minha camionete só cabe dois, espero que uma voz feminina soe primeiro, não é Gabriela. – Diz Leonardo tentando intimidar a todos.

     - Tudo bem, eu vou com o Leonardo. - Diz Gabriela meio sem jeito.

     - Então o restante aqui comigo. – Disse Rodrigo entrando na camionete cabine dupla.

          Rodrigo foi dirigindo primeiro, ao seu lado a Professora, e no banco de trás os três mosqueteiros como eram chamados pelos colegas, Gil, Lucas e Lin Zu.

          O GPS já estava programado para não perder tempo, pegaram a estrada e saíram rumo a Chapada Diamantina. O velho observou os dois carros saindo, em seguida montou em sua moto e começou a segui pelo mesmo caminho, ficando de longe para não ser descoberto pelos viajantes.

         Durante a viagem Leonardo liga de seu celular para Rodrigo e informa que irão parar em Bom Jesus da Lapa para se alimentar e dormir e no dia seguinte seguir direto para Itaetê destino final aonde iriam direto para o Poço Encantado para exploração da caverna de grande profundidade e de difícil acesso, sendo proibida a visita sem autorização e nadar no poço.

          Depois de uma viagem de mil cento e trinta e seis quilômetros, treze horas, muito cansaço e chateação por ter que aguentar Leonardo pegando no pé de todo mundo e contando vantagens por ser rico e está pagando todo gasto da excursão, enfim contempla toda beleza, riqueza do misterioso lugar.

          Próximo à caverna encontram o guia contratado previamente por Leonardo, preparam os equipamentos para a descida e exploração do Poço Encantado.

          O guia é questionado sobre sua experiência, este passa todas as informações e convence a todos demostrando conhecimento e detalhes da caverna.

          Leonardo olha para o fundo escuro do poço e procura quem é o primeiro corajoso a descer, Gil se prontifica e disposto começa a preparar os equipamentos colocando-os em seu corpo.

          O guia faz recomendações sobre a descida falando de pontos estratégicos e de pontos com grandes buracos nunca antes explorados, os cuidados deveriam ser redobrados por que já havia algumas mortes por falta de conhecimento.

          Gil compreendeu bem as recomendações e começou a descer devagar, levando consigo outra corda guia para a descida dos demais quando chegasse ao fundo do poço.

          Leonardo e Rodrigo seguraram a corda para a descida de Gil. A Professora Eliane orientou Gil a usar o rádio de comunicação após alguns minutos de descida ou quando houvesse dificuldade para descer. Gil acenou positivo com o polegar e continuou a descer.

          Após um longo período Lucas escutou pelo rádio uma chamada de Gil informando que estava em um local de difícil descida, que Leonardo e Rodrigo segurassem um pouco a corda e em seguida entrava em contato para continuar a descer, após uma tentativa de desviar de uma pedra pontiaguda observada pela pouca luz da lanterna, Gil sentiu um pequeno estalo e percebeu que a corda principal se rompeu, começou a balançar e a segunda corda começou a passar nas pedras, Gil tentou pegar o rádio, este caiu por causa do balanço deixando-o sem poder avisar a Leonardo. Rodrigo logo percebeu o que tinha acontecido e alertou todos.

     - Estamos deixando o Gil cair, vamos perdê-lo!

     - Vamos segurar e tentar puxa-lo – Disse Lucas se apressando em pegar a corda preocupado com o amigo.

     - Deixa de frescura Lucas, eu estou segurando, seu amiguinho vai ficar bem. – Diz Leonardo ironizando a preocupação de Lucas.

     - Tenta comunicação pelo rádio e ver se ele está bem. - Diz Lin Zu preocupado com Gil.

     - Agora virou piada, todo mundo preocupado com o crioulo. – Diz Leonardo tentando provocar Lin.

         Neste instante Leonardo e Rodrigo caiem de costas no chão com partes das cordas em suas mãos, o guia coloca as mãos na cabeça e todos ficam estáticos com a situação, esperando alguma coisa acontecer, ouvir algum grito ou um barulho da queda, tudo permanece em pleno silêncio como se a caverna estivesse engolido Gil levando-o a sua profundeza sem fim.

          Sem saber o que fazer Leonardo interroga o guia sobre a possibilidade de sobrevivência dentro da caverna. O guia demonstrando ansiedade informa que só uma pessoa tinha descido dentro das profundezas das cavernas, talvez só ele pudesse descer e verificar se Gil ainda poderia estar vivo. Leonardo agora preocupado com a situação diz que se responsabiliza e solicita ao guia onde pode encontrar esta pessoa.

          O Guia pede que Leonardo o siga para ir de encontro à pessoa indicada. Leonardo pode para que todos fiquem esperando até que retorne com o possível salvador de Gil.

         Chegando ao Morro do Pai Inácio o guia aponta para parte mais alta do morro e orienta Leonardo a procurar o Velho. Leonardo sobe o morro e chama o Velho, este aparece de trás de uma pedra como uma sombra, suave e leve.

          Leonardo se assusta por se tratar do Velho que tinha visto antes da viagem. O velho observa Leonardo por um instante e fala:

     - Veio me buscar para tentar salvar seu amigo.

     - Sim, como sabe do meu amigo, o guia informou que só o senhor sabe como descer no Poço Encantado. – Disse Leonardo demonstrando preocupação.

    - Eu vou descer para procurar seu amigo, mas sei que ele está bem. – Disse o Velho confiante.

     - Então vamos logo, meu amigo pode estar muito ferido. - Diz Leonardo tentando apressar o Velho.

     - Calmo aí amigo, a pressa pode nos pregar uma peça. – Disse o Velho mantendo a calma.

         Dentro da caverna, em um estado de paralisia profunda Gil permanece imóvel, aguardando o resgate que parece nunca chegar.

         Voltando para si, sente que algo está meio estranho, não está sentindo dores, não tem sangramento, não sente qualquer osso quebrado, mas está paralisado, apenas seus olhos observam a escuridão do fundo da caverna.

          Gil sente outra sensação estranha e nota que não está no chão e sim flutuando, como uma pluma solta no ar, seus olhos sonolentos começam a se fechar e começa a mergulhar em um sono incontrolável e dorme.

          Após algum tempo acorda com o Velho diante de seus olhos lhe observando e balançando a cabeça, resmungando:

     - Filho, a missão está completa, cabe a você ressuscitar os grandes poderes de nossos feiticeiros e fazer cumprir a justiça.

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