O PARQUE

Senti meu corpo batendo em um corpo alto, olhei para cima e o alívio veio, era o James ali parado me olhando, ele notou minha falta de fôlego.
- Tá tudo bem ? - disse preocupado com as mãos sobre meus ombros.
- Eu estava caminhando, e um cara estranho começou a me seguir.- eu disse recuperando o fôlego.
- Vem tem um café aqui próximo, a gente senta e se quiser conversar.- ele disse me guiando.
- Obrigada.- eu disse respirando fundo.
Ao caminho pelo café ele andou atrás de mim com uma mão sobre meu ombro, eu não disse nada, apenas queria ver até onde isso iria dar, ele fazia leves carinhos nas minhas costas, chegando no café ele pediu uma água, e dois cafés e nos sentamos. Eu peguei a água e virei como se eu estivesse no deserto, ele ficava olhando fixamente pra mim, e eu até ficava sem graça e desviava o olhar.
- Você é bem mais alto do que eu me lembrava.-  eu disse quebrando o gelo.
- É melhor ouvir isso, do que ouvir que eu não sou tão bonito como a noite passada.- ele riu.
- Você é a mesma pessoa, talvez eu não tivesse reparado na altura, só isso.- disse olhando para o fundo da xícara esperando esfriar.
- Que bom que te encontrei, você saiu não deixou telefone, parecia que estava fugindo de mim.- ele disse pegando a xícara pra dar um gole, erguendo a sobrancelha.
- Olha você não precisa ser gentil só porque quer transar comigo- eu disse olhando seriamente.
- Não diga bobagens ser gentil faz parte do que eu sou, gostei do beijo e achei que seria legal continuarmos sendo bons amigos.- ele sorriu.
- Gentileza não parece ser a sua cara, furou a fila na conveniência, lembra.- eu disse com um sorriso torto.
- Funcionou, é o que importa.- ele riu.
- Funcionou o que? - ai uma luz veio na minha mente. - Você furou a fila de propósito, para chamar atenção? - disse séria.
- Eu estava de olho em você, me desculpe. - Ele pegou na minha mão. -Mas depois que nos vimos na festa, eu tive que pedir pra Ana nos apresentar.
- Ok . - disse dando um gole no café, tentando reproduzir tudo aquilo.
- Vai fazer alguma coisa hoje? - ele sorriu tentando me faz esquecer tudo.
- Eu não sei, eu preciso pegar umas coisas no meu amigo.- disse disfarçando minha falta de não ter o que fazer.
- Eu queria muito fazer algo com você, um jantar? Podemos fazer o que quiser. - Ele insistiu.
- A gente vai conversando. - eu disse levantando, com um frio na barriga.
- Eu te acompanho até a sua casa... bom depois do que aconteceu.- ele disse cuidadoso.
Ele foi até o caixa pagou a conta, e me acompanhou novamente com a mão sobre o ombro, fomos andando até minha casa, chegando na frente da minha casa, ele me virou de frente e me deu um beijo inesperado, eu não pude pará-lo e eu não queria, ele abraçava meu corpo todo com o seu corpo alto, então ele parou com um selinho e disse :
- Será que agora eu mereço o seu número? - ele sorriu e tirou o celular do bolso.
- Tá bom, mas eu quase não fico no celular.- eu disse sem graça enquanto eu anotava meu número no celular dele.
- Não esquece do nosso jantar, não vai fugir.- ele piscou enquanto me esperava entrar em casa.
Entrando em casa olho no relógio e surto,  já estava na hora de ir encontrar a Isa para irmos para a casa do Léo buscar minhas coisas, eu não poderia ir sozinha, me faltava coragem, e eu queria dar um basta e cortar laços de uma vez. Olhei o celular e lá estava as mensagens da Isa me acelerando, eu já logo mandei uma mensagem me desculpando dizendo que eu estava indo para o banho e que seria rápido. Fui para o banho e a água quente ia descendo todo o meu corpo, e eu fiquei pensando sobre o perigo que eu corri hoje, será que era apenas uma paranoia, ou realmente aquele cara iria fazer algo comigo.
Depois de assistir uma temporada inteira de Criminal Case, e de CSI eu fiquei paranoica e com muitas teorias na cabeça, mas foi muito estranho, têm acontecido muitos desaparecimentos ultimamente, era melhor eu ficar atenta.
Meu celular começou a tocar eu sai do banho como um foguete, fui direto me arrumar, com certeza era a Isa me acelerando, ignorei o telefone e me arrumei o mais rápido que eu pude, coloquei um vestido amarelo, e sapatilhas azuis, me olhei no espelho e minha autoestima faltou me dar dois tapas na cara, mesmo não me achando boa o suficiente para esfregar na cara do meu ex o que ele perdeu, tentei me animar em conseguir minhas coisas de volta. Tivemos uma briga tão irrelevante, e infantil que tenho vergonha de assumir para mim mesma, olhei o celular e não era a Isa, era um número desconhecido, meu celular começou a tocar e eu deduzi que fosse o James, então atendi animada e disse:

- Achei que me ligaria só mais tarde. - Eu só escutava ruídos. - Ei, doidinho nos encontramos hoje, não precisa fingir que não é você. - Dei risada.
-Por que fugiu? Ficou com medo? - uma voz grossa e abafada, sussurrou. 
- James? - eu disse estranhando a voz.
- Você fica linda quando está fugindo. - A voz continuou.
- Quem está falando? - eu disse assustada.
- Você vai descobrir, querida Alice. - A voz disse desligando.
Eu fiquei paralisada, corri e olhei pela janela me escondendo atrás da cortina desconfiando estar sendo observada, meu celular começo a tocar novamente e dei um pulo, era a Isa. Atendi recuperando o fôlego e a Isa começou: - Amiga estou passando aí.
- Quando você chegar, eu preciso te contar uma coisa. -Respirei fundo.
- Já pode ir descendo, eu estou perto, aconteceu alguma coisa? - ela disse preocupada.
- Não, quando você estiver na porta eu desço. - disse assustada.
- Pelo visto a coisa é séria, tudo bem então. - Ela disse séria.
Eu estava pensando mil coisas, eu sou alguém tão óbvio para ser perturbada por acaso? Seria o Léo? Mas a troco de que? Se for o Léo, eu já posso questioná-lo, eu não quero toda vez sentir a pressão de tê-lo de volta só porque ele me perturba, ele sempre mexia comigo emocionalmente, eu não me sentia boa o suficiente para ele mesmo tendo mudado tanto com os anos. O tempo pode ser sua felicidade ou a sua desgraça, e para mim veio como felicidade, finalmente eu não era o patinho feio igual era no colegial, apesar da baixa estima que sentia depois do nosso término. Perdida nos pensamentos escutei a campainha, dei um pulo, olhei na janela e era a Isa, desci correndo e abri a porta e a puxei pra dentro fechando a porta rapidamente trancando.
- Ei, o que foi ? - ela disse puxando o braço de mim me olhando de cara feia.
- Amiga tem alguém me seguindo, e me ligando eu estou com medo.- eu disse assustada.
- Será que não é o Léo querendo fazer gracinha?- ela suspirou.
- Pensei que fosse, mas o cara que me seguiu era muito alto, muito diferente, e a voz no telefone também.- disse esfregando as mão nos olhos.
- Conseguiu ver o rosto? - ela disse abrindo a geladeira.
- Não eu apenas corri, ele estava de blusa de frio escura, eu não consegui ver o rosto.- eu coloquei a sandália no pé.
- Pode ser algum amigo do Léo.- ela olhou pra mim séria. - Se aquele filho da puta te fizer alguma coisa eu o mato. - ela fechou a geladeira.
- Esquece isso, vamos preciso pegar minhas coisas e devolver as deles, preciso cortar o cordão umbilical.- eu sorri sem graça.
- Se eu fosse você tacaria fogo em tudo, inclusive na casa dele.- ela riu.- Mas você é boa demais, por isso amo você.
- Ahhhh que fofa, também te amo.- fui tentar abraçá-la mas fui impedida por ela.
-Menos por favor.- ela disse com ironia.
Entramos no carro e fomos direto pra casa do Léo, e lá estava ele com os amigos na frente da casa dele, desci do carro e peguei uma caixa no porta malas com os seus pertences, e fui indo em sua direção.
- Oi, trouxe as suas coisas...- disse oferecendo a caixa a ele.
- Você sobe comigo pra me ajudar a pegar as suas?- ele sorriu.
- Não pega bem eu subir sozinha.- eu disse colocando a caixa no chão séria.
- Não tem nada de mais, minha mãe está em casa, relaxa.- ele disse abrindo a porta.
- Amiga você me espera aqui por favor.- eu disse olhando pra Isa preocupada.
- Qualquer coisa me grita, eu derrubo essa porta.- ela sorriu enquanto os meninos vaiavam o Léo.
Eu entrei em sua casa, estava muito organizada, sinal de que talvez realmente a mãe dele estivesse ali, subi as escadas e fiquei olhando as fotos dele com a família da lateral da parede, coisa que eu nunca tinha reparado, o papel de parede havia mudado, estava roxo com pequenas flores, fiquei observando tudo a volta, como se fosse a primeira vez que eu estivesse ido até lá, subimos até o seu quarto.
- Não repara a bagunça, eu nunca deixo minha mãe mexer nas minhas coisas.- ele disse pegando uma caixa com um urso em cima.- Podemos conversar?- ele disse colocando a caixa em cima da cama.
- Tenho medo que essa conversa me faça pensar coisas que eu não gostaria de pensar sobre você.- disse receosa. 
- Pelo menos tenta me escutar, eu não quero ser seu inimigo. - Ele se sentou na cadeira e apontou para que eu me sentasse na cama e eu obediente me sentei na cama.
- Estou aqui, pode começar. - Cruzei os braços.
- Primeiro quero que você me escute, sem surtar, sem dar motivos para que se torne uma bola de neve, tudo bem? - ele abaixou a cabeça e eu concordei com a cabeça. - Eu sei que eu errei com você, sei que menti sobre muitas coisas, sei que surtei com você várias vezes, mas gostaria que você olhasse um pouco para você, será que você foi justa comigo? Seja sincera. - Ele disse me olhando como se fosse me atingir com um raio.
-Depois daquele acidente eu nunca mais fui a mesma, eu confesso... eu sinto uma culpa muito grande. - Meus olhos encheram de água.
- A sua culpa atrasou nosso relacionamento, queria que você confiasse em mim. - Ele arrastou a cadeira para perto.
- Eu matei uma pessoa, e se fosse você? Você dormiria a noite? - comecei a chorar.
- Alice a vida continua, desculpa a falta de apoio, mas eu também aguentei tudo por você, e você não teve paciência, assim como eu não tive. - Ele me abraçou.
- Eu não quero falar mais disso, por favor. - Eu o abracei chorando. 
- Eu vou te respeitar.- ele sorriu e ficou me olhando.- Sua pirralha.- ele bagunçou meu cabelo.
- Ah não, eu vou te matar rsrs.- pulei em cima dele, ele me olhou e me deu um selinho.
- Desculpa.- ele parou e eu fiquei boba olhando para ele paralisada.
- Eu preciso te perguntar uma coisa, hoje eu fui seguida, me ligaram e foi assustador.- eu disse tentando cortar o clima.
- Alice porque não me contou?- ele disse assustado esfregando o rosto.- Comigo está acontecendo coisas estranhas também, primeiro chegou uma caixa na minha porta com um lenço sujo de sangue, achei que fosse alguma brincadeira.- ele disse assustado.
- Será que tem alguma coisa haver com o atropelamento?- eu disse nervosa.- Deveríamos dar queixa, não deveríamos ter deixado o corpo ali.- eu disse sussurrando nervosa.
- Você queria o que? Ser presa? Bebemos muito naquela festa e atropelamos uma pessoa.- ele levantou nervoso.
- Por favor, pode ser que seja alguém querendo brincar com a gente, não vamos surtar por isso.- eu disse tentando acalmá-lo.
- Se alguém fizer alguma coisa com você, ou com a minha família eu não sei do que sou capaz.- ele me abraçou.
- Estou atrapalhando alguma coisa Alice?- Isa disse ao canto da porta me olhando seriamente.
- Não, eu já estou indo né Léo?!- eu disse pegando minhas coisas.- Obrigada por devolver.- eu disse sem graça pegando minhas coisas.- Você me ajuda Isa?!
- Não esquece do que eu te falei.- Léo disse olhando pra porta.
- Pode deixar.- eu disse triste.
- Tomara que ela não precise de você.- Isa disse nervosa.
- Dá próxima vez bate na porta quando entrar.- ele disse batendo a porta na cara da Isa.
Entramos no carro, e eu coloquei a caixa no meu colo, e lá estava o ursinho que eu ganhei pra ele no parque, fiz carinho nas orelhas do urso.
- Amiga, tá tudo bem? Parece que saiu de um velório. 
- Nenhum fim de relacionamento é feliz, ainda mais quando acaba mal assim.- respirei fundo.
- Não fica assim, tem aquele gatinho da festa, e terão muitos outros gatinhos por ai rsrs, você é linda e é incrível, o Léo precisa amadurecer.- ela sorriu.
A Isa tinha o dom de me deixar bem, ela era turrona, mas uma pessoa adorável, falava tudo o que bem entendia, doa a quem doesse, e muito carinhosa, eu me sentia com uma faca no pescoço de não pode contar pra ela sobre o acidente, sei que ela me apoiaria, mas era um segredo só meu e o do Léo, e por mais que ele não merecesse essa devoção, eu colocaria nós dois em risco, podíamos ser presos... era nosso segredo obscuro.
- Amiga vamos tomar um sorvetinho?- ela disse me animando.
- Você sabe que eu não resisto a um docinho, sua chata.- eu ri.
Fomos a uma sorveteria próxima da minha casa, e tinha um sorvete de morango maravilhoso, você conseguia sentir cada pedacinho da fruta, era como uma explosão na boca. Entramos na sorveteria, fizemos nosso pedido e nos sentamos na mesa de fora, vi um homem alto grisalho, parece que já tinha o visto em algum lugar, o homem estava de costas, então vi o James levantar da mesa e fiquei surpresa, ele me viu surpreso também e sorriu vindo em minha direção, aquele sorriso e aqueles olhos castanhos me deixava boba, como olhando uma miragem.
- Estamos nos esbarrando com muita frequência.- ele deu um beijo no meu rosto, foi bem formal.- Oi, tudo bem?- acenou pra Isa.
- As pessoas tomam sorvete sabia...- Isa foi irônica.
- Estávamos aqui por perto e um docinho sempre cai bem.- eu contornei a ironia.
- Claro.- ele me olhou de cima a baixo, parecia que ele estava me analisando toda vez que me olhava.
- Não vai me apresentar filho?- disse o homem grisalho dando uns tapinhas na suas costas.
- Meninas, esse é meu pai.- ele disse sem graça.
- E qual delas é a garota que você não para de falar?- ele disse curioso rindo.
- Essa é a Alice pai.- ele apontou envergonhado.- Desculpa ele queria saber porque eu disse que iria sair pra jantar e eu não o convidei pra ir junto.- ele se justificou.- Bom vamos pai, não queremos atrapalhar as meninas.- ele disse empurrando seu pai delicadamente. 
- Tchau, foi um prazer.- sorri constrangida com a situação.
- Acho que alguém se apaixonou.- a Isa me cutucou.- E o papai não é nada mal, um gato.- ela sorriu acenando.
- Como você é boba, a gente está se curtindo, mas ainda não quero nada com ninguém, eu estou muito confusa com tudo, o Léo quis me beijar hoje.- eu disse disfarçando, me escondendo atrás da casquinha de sorvete.
- Ah claro, isso explica tudo, a sua atitude no carro.- ela disse chocada.- E claro, você queria também, a minha amiga eu preciso te ensinar a não ser tão inocente.- ela disse com ar de negatividade. 
- Ele mexe muito comigo,  as vezes sinto raiva de mim mesma.- eu disse dando uma mordida no sorvete.- Aiiiii, congelei meu cérebro.- eu ri.
- Vamos eu tenho que ir na minha mãe hoje.- ela disse animada.
Levantamos da mesa e a Isa me deixou em casa, chegando em casa notei que o vaso da cozinha estava fora do lugar, peguei um bastão atrás da porta e fui andando bem devagar, eu morava sozinha, e algo fora do lugar é muito suspeito, sou muito observadora, subi como um gato as escadas de casa, e vi a porta do meu quarto aberto, dei um chute bem forte e eu estava pronta pra atacar com o bastão.

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